MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
vitor ramil - ibicuí da armada
Entre o meu e o teu ser
Tudo é permitido
Lambaris de cristal
E um bugio largado e rouco
De uma acordeona fantasma
Teu eco me responde
No timbre dos caudilhos!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito
Um silêncio muito antigo
Cai sobre os insetos
Chegam homens maragatos
Num pequeno bote
Que encosta sem pressa
Na outra margem
O ronco da queda d'água
Me chama de louco!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito
São três homens
Três facões
Com três lenços rubros
São três sombras
Três chapéus
Que entram pela mata
Três luas brilhando no aço
São três degoladores
Por sorte não me viram!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito
As cigarras recomeçam
Com seu canto triste
Eu mergulho como um bicho
E nadando em águas profundas
Revelo poemas aos peixes
São versos do soldado
Do poeta russo!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito
Limo e verbo
Lodo e rima
Louca a bala
Laica
Correnteza
Movimentos
Lanço a poesia molhada
Ao toque dos seres gelados
E quando volto à tona
Os homens me descobrem!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito
São três palas
Três anéis
Com três vozes duras
São três golpes
Três metais
E as três luas me partem ao meio
Brilhando no espelho
Das lâminas
Meu corpo vai-se embora
Na trilha das traíras
E minha cabeça livre
No gêlo dos cometas!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito!
vitor ramil - para lindsay
Vachel, as estrelas se apagaram
a escuridão caiu na estrada do Colorado
um automóvel arrasta-se lento na planície
pelo rádio ressoa o clangor do jazz na penumbra
o inconsolável caixeiro viajante acende um cigarro
Há vinte e sete anos em outra cidade
eu vejo sua sombra na parede
você de suspensórios sentado na cama
a mão de sombra encosta uma pistola na sua cabeça
seu vulto cai no assoalho
vitor ramil - ramilonga
Chove na tarde fria de Porto Alegre
Trago sozinho o verde do chimarrão
Olho o cotidiano, sei que vou embora
Nunca mais, nunca mais
Chega em ondas a música da cidade
Também eu me transformo numa canção
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Sobrevôo os telhados da Bela Vista
Na Chácara das Pedras vou me perder
Noites no Rio Branco, tardes no Bom Fim
Nunca mais, nunca mais
O trânsito em transe intenso antecipa a noite
Riscando estrelas no bronze do temporal
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
O tango dos guarda-chuvas na Praça XV
Confere elegância ao passo da multidão
Triste lambe-lambe, aquém e além do tempo
Nunca mais, nunca mais
Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Ruas molhadas, ruas da flor lilás
Ruas de um anarquista noturno
Ruas do Armando, ruas do Quintana
Nunca mais, nunca mais
Do Alto da Bronze eu vou pra Cidade Baixa
Depois as estradas, praias e morros
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Vaga visão viajo e antevejo a inveja
De quem descobrir a forma com que me fui
Ares de milonga sobre Porto Alegre
Nada mais, nada mais
vitor ramil - a ilusão da casa
As imagens descem como folhas
No chão da sala
Folhas que o luar acende
Folhas que o vento espalha
Eu plantado no alto em mim
Contemplo a ilusão da casa
As imagens descem como folhas
Enquanto falo
Eu sei
O tempo é o meu lugar
O tempo é minha casa
A casa é onde quero estar
Eu sei
As imagens se acumulam
Rolam no pó da sala
São pequenas folhas secas
Folhas de pura prata
Eu plantado no alto em mim
Contemplo a ilusão da casa
As imagens se acumulam
Rolam enquanto falo
Eu sei
O tempo é o meu lugar
O tempo é minha casa
A casa é onde quero estar
Eu sei
As imagens enchem tudo
Vivem do ar da sala
São montanhas secas
São montanhas enluaradas
Eu plantado no alto em mim
Contemplo a ilusão da casa
As imagens enchem tudo
Vivem enquanto falo
Eu sei
O tempo é o meu lugar
O tempo é minha casa
A casa é onde quero estar
Eu sei
vitor ramil - a invenção do olho
Não estive atado a Deus
No sonho de Moisés
A cabeça ardendo ao sol
Serpentes nos meus pés
Desejei de Homero a escuridão
Mas nas trevas me perdi
Fui então ao sol e o sol me fez
Um relógio de Dali
Esquecer depois lembrar
Os cheiros de um jardim
Muito aquém dos animais
Humano além de mim
Mas se estive mesmo atado a Deus
Tive os sonhos aos meus pés
A cabeça a pino sobre o sol
E as serpentes com Moisés
Hoje acho com razão
Que nada é bem assim
E essa razão, de onde vem?
A invenção do olho pôs
As coisas no lugar
Mundo posto me servi
A vida é meu jantar
Misturei ao tédio o amor cortês
Quando a musa bem me quis
Quando a sorte deu-me de beber
Dei um gole e fui feliz
Esquecer depois lembrar
Os cheiros de um jardim
Muito aquém dos animais
Humano além de mim
Se a invenção do olho nunca pôs
Cada coisa em seu lugar
Posto em vida ao mundo sem pedir
Fui servido no jantar
Hoje acho com razão
Que nada é bem assim
E essa razão, de onde vem?
No futuro espiarei
A vida ao revés
Feito isso escreverei
Que Deus sonhou Moisés
vitor ramil - a luta
Embaixo,
Coleando nas voltas do vale estreito
Já está toda a vanguarda,
Armas fulgurantes, feridas pelo sol,
Feito uma torrente escura
Transudando raios.
vitor ramil - a resposta
O homem caminha só na estação
Vindo de todo trem de todo lugar
Chega na banca e olha o jornal
Tira do bolso o último cigarro
Ri da notícia antes de ler
Rindo se esquece o que ia fazer
Olha o cigarro solto na mão
Bota outra vez no bolso sem perceber
Dá um passo em falso
E pega o braço de uma mulher que passa
E pergunta pra ela
E pergunta sem parar:
Que lugar é esse?
Que lugar é esse?
A mulher livra o braço e se vai
Corre e ainda pega o trem pega o seu lugar
Lá num vagão com gente demais
Pensa que tudo é doido nessa vida
Ri da resposta que ia dar
Rindo se esquece o que ia falar
Enche a paisagem com seu olhar
Passa com ela e vê que ficou lá atrás
Chega em casa cansada
E se senta com um cara que não diz nada
E pergunta pra ele
E pergunta sem parar:
Que lugar é esse?
Que lugar é esse?
vitor ramil - a zero por hora
Entrei na rua Augusta a 120 graus do chão
precipitado com a chuva mas sem direção
a zero por hora
Entrei com pompa e circustâncias próprias de um verão
ensolarado minha mente por um sol bufão
a zero por hora
Entrei na rua a mi me gusta bruta inclinação
o mundo visto desse jeito é uma diversão
a zero por hora
Entrei na rua ai minha busca de consolação
apaixonado pelas moças vindo em profusão
a zero por hora
Entrei a estranha jovem guarda me estendeu a mão
pediu meu documento e eu lhe disse por que não
a zero por hora
Entrei na dela como em filme de televisão
pedi me leva preso agora no teu coração
a zero por hora
Entrei na rua a mi me gusta bruta inclinação
o mundo visto desse jeito é uma diversão
a zero por hora
Entrei na rua ai minha busca de consolação
apaixonado pelas moças vindo em profusão
a zero por hora
A zero por hora
Entrei em fria mas fervendo em minha ilusão
o amor é muito lindo a 120 graus do chão
a zero por hora
a zero por hora
a zero por hora
a zero por hora
vitor ramil - adiós goodbye
Coisas que ficaram por dizer
Coisas que não tive tempo de ouvir
Goodbye, adiós
Deixo o sol dormindo no porão
Bato a porta sem ferir o dia
Adiós, goodbye
Coisas que não canso de esquecer
Coisas que se escondem na lembrança
Goodbye, adiós
Deixo ao vento que quiser levar
Minhas folhas secas de utopia
Adiós, goodbye
Coisas que procuram seu lugar
Coisas que me ocupam cada instante
Goodbye, adiós
Deixo em gelo fino meus sinais
Que ninguém me eleja como guia
Adiós, goodbye
Coisas que acertaram no que sou
Coisas que falharam no que não fui
Goodbye, adiós
Deixo o sol dormindo no porão
Bato a porta sem ferir o dia
Adiós, goodbye
vitor ramil - aldeia
na minha aldeia
descansam viajantes e ladrões
e as caravanas acampam
e as mulheres
fazem pão
negros e hindus
brancos, índios
todos habitam minha aldeia
eles são artesãos
negros e hindus
brancos, índios
todos trabalham minha aldeia
como a abelha faz o mel
vitor ramil - assim assim
sinceramente não vou ficar
passando a limpo meu coração
roendo as unhas, pensando em voz alta
botando os pingos nos i?s
falando sério eu já cansei
de revirar minhas emoções
de vasculhas as gavetas
do armário embutido da nossa paixão
beijos, estou de saída
vou reinventar minha vida
vida, vida
eu preciso viver
hei, amiga
pra que disfarçar nossa solidão?
se continuasse assim, assim
um dia a gente ia terminar
saindo pela tangente
ou desidratado de tanto chorar
na certa ainda vais remexer
nisso ou naquilo até concordar
que o nosso erro foi não conjugar
aos limites o verbo amar
registra minha partida
no arquivo da tua vida
vida, vida
eu preciso viver
hei, amiga
pra que disfarçar nossa solidão?
vitor ramil - barroco
Eu tô girando pelo quarto
Olhando o teto abobadado
No centro exato de um palácio
Com dez mil nobres no meu rastro
Eu vejo o ouro brasileiro
O terremoto de Lisboa
Os espanhóis sonhando o mundo
Os jesuitas no meu rastro
No claro-escuro
É que ela me vê
E diz assim:
"Sai daí, vem pra mim
O paraíso fica aqui"
Eu, dividido, digo:
"Se eu tiver que ler tudo do Barroco
Que tempo vai sobrar pra minha nêga?"
Jerusalém foi libertada
O Conde Orgaz bateu as botas
Os santos sobem pelos ares
Santa Teresa no meu rastro
Vejo cabelos no retrato
Um movimento me arrebata
É Pedro, o Grande, em seu cavalo
Trezentos frades no meu rastro
No claro-escuro
É que ela me vê
E diz assim:
"Sai daí, vem pra mim
O paraíso fica aqui"
Eu, dividido, digo:
"Se eu tiver que ler tudo do Barroco
Que tempo vai sobrar pra minha nêga?"
Tenho jardins à minha volta
O povo longe, além das grades
Mas Holandeses que me azaram
E tenebrosos no meu rastro
Tô violento e apaixonado
Absoluto e perturbado
É que tem ecos pela sala
De alguém Furioso no meu rastro
No claro-escuro
É que ela me vê
E diz assim:
"Sai daí, vem pra mim
O paraíso fica aqui"
Eu, dividido, digo:
"Se eu tiver que ler tudo do Barroco
Que tempo vai sobrar pra minha nêga?"
vitor ramil - café da manhã
Ela vem pra mesa de manhã
Põe na taça um pouco de café
Ela pega o leite que eu fervi
E enche a taça tanto quanto der
Sem me falar
Sem me olhar
Põe açucar no leite com café
Mexe bem devagar com a colher
Bebe tudo com a calma que não tem
Não me olha
Não diz nada
Ela esquece o gosto do café
Põe os olhos vagos no jornal
Ela pega a parte que eu já li
E abre como um muro entre nós
Sem me falar
Sem me olhar
Pega e acende um cigarro teatral
Solta anéis de fumaça pelo ar
Bate a cinza com a calma que não tem
Não me olha
Não diz nada
Tudo o que ela quer
É me ver chorar
Mas chorar de manhã
É tão fácil
Eu quero é mais
Ela sai da mesa do café
Põe no espelho a cara e se acha bem
Ela veste um lance pra sair
E por cima a capa que eu dei
Sem me falar
Sem me olhar
Abre a porta num gesto natural
Olha a rua, olha as horas, olha o céu
Sai na chuva com a calma que não tem
Não me olha
Não diz nada
Tudo o que ela quer
É me ver chorar
Mas chorar de manhã
É tão pouco
O que eu quero é mais
vitor ramil - causo farrapo
Oigalê-tchê, eh-cuê!
Se aprochegue pra escutar
Oigalê-tchê, eh-cuê!
Mais um causo eu vou contar
Numa peleia das braba
Topei co? a Morte de cara
A matungona parada
De olho na minha alma
Eu le pedi: Sai da frente
Ou te levanto na espada
Eu sei que a morte eu não mato
Mas deixo toda lanhada
Oigalê-tchê, eh-cuê!
Se aprochegue pra escutar
Oigalê-tchê, eh-cuê!
Mais um causo eu vou contar
Fui, como sempre, educado
Jamais falando de valde
Mas Morte tem uma cara
De quem não faz amizade
Assim pensando, fui breve
Que a luta ali me chamava
No meio de tanta morte
A Morte eu passei na espada
Oigalê-tchê, eh-cuê!
Se aprochegue pra escutar
Oigalê-tchê, eh-cuê!
Mais um causo eu vou contar
De relancina, a morte
Era uma china estropiada
Saí surrando os galego
Ai, que prazer que me dava!
Caramurus vejo sempre
Na ponta da minha espada
A Morte só volto a ver
Se a guerra tiver terminada
Oigalê-tchê, eh-cuê!
Se aprochegue pra escutar
Oigalê-tchê, eh-cuê!
Mais um causo eu vou contar
vitor ramil - clarisser
Clarisser
É um poder vulgar
Corpo luz da emoção
O instrumento que transporta
O ser na idéias
Ao ser nas palavras
E então
Faz a gente proesiar
Faz a gente pertencer
Aos sujeitos, advérbios
Ao mistério
De expressar o que se quer
Clarisser
É sempre cultivar
O saber na solidão
Pra poder manter acessa
A vida serena
Dentro de um silêncio transparente
Que ajude a compreender
O que acontece além
Das esquinas, das verdades
E das guerras
Além dos gestos dos gestos
Clarisser
É oãn es raserper
A sarger arap rairc
Rariver sador as sesarf
Sodot so ameof
Ribocsed as seroc sod samora
Que desprendem das canções
E se soltam pelo ar
Em matizes, ocra-siri
Tons profundos
Que vão pousar na terra
Clarisser
É só um verbo assim
Meio meu
Meio não meu
Que anima os sentidos
E corre nos trilhos
Que cruzam o pampa da razão
Nada o conjuga não
É o infinito em si
Sem futuro, nem passado
Mas presente
Aonde está presente.
Cds vitor ramil á Venda