MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
raquel tavares - a nudez do meu fado
Como asa de andorinha,
Ou como um negro manto,
Nos meus ombros, discreta,
A noite se debruçaâ?¦
Tão logo se adivinha
A hora de ser canto
E a rima dum poeta
Na minha voz soluça.
Por estranho que pareça
Saio dentro de mim
E deixo exposta à lua
A nudez do meu fadoâ?¦
Para que o céu não esqueça
Que já me viu assim:
Despida, dâ??alma nua,
Sem sombra de pecado.
Se a noite me procura,
Com estrelas no sorriso,
Se dentro em mim cravou
O amor que me conquistaâ?¦
Deixai-me esta loucura,
Que tanto me é preciso,
Pois sem noite não sou
Nem fado, nem fadista!
raquel tavares - ardinita
Ã? minha mãe, minha mãe
Ã? minha mãe, minha amada
Ã? minha mãe, minha mãe
Ã? minha mãe, minha amada
Quem tem uma mãe tem tudo
Quem não tem mãe não tem nada
O Ardinita, o João, levantou-se muito ledo
Porque tinha que estar cedo
á porta da redação
Trincou um naco de pão
Que lhe soube muito bem
Antes de partir porém
Beija a mãe adormecida
Dizendo cá vou á vida
Ã? minha mãe, minha mãe
A mãe com todo carinho
Deitou-lhe a benção, beijou-o
E depois aconselhou-o
Sempre muito juizinho
Toma conta no caminho
Não fumes, não jogues nada
Pode ficar descançada
Disse ele para a iludir
E tornou-se a despedir
Ã? minha mãe, minha amada
Cruzou toda madragoa
Satisfeito, a assobiar
Uma marcha popular
Do São João em Lisboa
Nisto pensou
Ã? tão boa a Minha mãe, e contudo
Como é engano, a iludo
E lhe minto, coitadinha
Gramo tanto essa velhilha
Quem tem uma mãe, tem tudo
Nesse calão repelente
Da giria da malandragem
Existe o que de homenagem
Nessa boquita inocente
Marcha pro jornal contente
Sempre de alma levantada
E como calão lhe agrada
Repete como eu a gramo
Tanto lhe quero, tanto a amo
Quem não tem mãe, não tem nada
Tanto lhe quero, tanto a amo
Quem não tem mãe, não tem nada
raquel tavares - olhos garoto
Diz aos teus olhos garotos
Vivos marotos, pretos rasgados
Que não andem pelas esquinas
Feitos traquinas e malcriados
Que não sigam as meninas
Simples ladinas dos olhos meus
De tudo acho capazes
Os maus rapazes dos olhos teus
Teus olhos amendoados
São comparados a dois cachopos
Que quando topam meninas
Pelas esquinas, dizem piropos
Ã? preciso que lhes digas
Que as raparigas, nem todas são
Como as pedras que há nas ruas
Gastas e nuas, sem coração
Diz-lhe tudo sem ralhar
Sem te zangar, tem mil cuidados
Sim, que para entristecê-los
Prefiro vê-los nos seus pecados
Não quero os teus lindos olhos
Correndo abrolhos, livre-nos Deus
Que causassem tais ruínas
Estas meninas dos olhos meus...
raquel tavares - fado lisboeta
Não queiram mal a quem canta
Quando uma garganta é esta desgarra
E a magoa já não é tanta
Se é conversar á guitarra
Quem canta sempre se ausenta
Da hora cinzenta da sua amargura
Não sente a cruz tão pesada
Na longa estrada da desventura
Eu sou e entendo o fado
Pela gente amagurado
Á noite a soluçar baixinho
Que chega o coração um tom magoado
Tão frio como as mantas do caminho
Não chore uma saudade
Ou cante a ansiedade
De quem tem por amor a chorar
E não que isto é fatal
Ã? natural mas é Lisboeta
Isto é que é o fado
Ouço guitarras e brando
E vozes cantanto na rua sombria
As luzes vão-se apagando
Anunciar que é já dia
Fecho em silencio as janelas
Já se ouve na viela
Rumores de ternura
Surge a manhã fresca e calma
Só em minhada a noite escura
Eu só entendo o fado
Pela gente amargurado
Á noite a soluçar baixinho
Que chega o coração num tom magoado
Tão frio os meus jados do caminho
Que chore uma saudade
Ou cante uma ansiedade
De quem vem por amor chorando
Verão que isto é fatal
Ã? natural mas é Lisboeta
Isto é que é o fado
Chore uma saudade
Ou cante a ansiedade
De quem tem por amor chorado
Dirão que isto é fatal
Ã? natural mas é Lisboeta
Isto é o que é o fado
raquel tavares - fala da mulher sozinha
Já estou farta de estar só
Acompanhada de nada
Já estou louca de ser rua
Tão corrida tão pisada
Já estou prenhe de amizade
Tão barriga de saudade
Ai eu ainda um dia irei rasgar a solidão
E nela entrelaçar
O olhar de uma canção
Chegar ao cume, ao cimo, ao alto
Mais longe e mais além
Mas a saber que sou alguém
Na cidade sou loucura
Sou begónia sou ciúme
E eu que sonhava ser rua
Caminho atalho lonjura
Não tenho assento na festa
Sou a migalha que resta.
Ai eu ainda um dia irei rasgar a solidão
E nela entrelaçar
O olhar de uma canção
Chegar ao cume, ao cimo, ao alto
Mais longe e mais além
Mas a saber que sou alguém
raquel tavares - lisboa meu amor lisboa
Descanso o fim do dia neste canto
Deixando o meu olhar às mãos do Tejo.
E canta o Tejo em mim quando te canto
E desce ao meu olhar quando te vejo.
Sinto ainda no cais as silhuetas
Do jeito e do bailado das varinas
E o dizer mais fadista dos poetas
Nas sombras das vielas, nas esquinas.
Desfez cores garridas da cidade
O sol que diz adeus do outro lado.
E assim como eu, amor da minha idade,
A cidade vestiu-se em tons de fado.
E a voz duma saudade então ecoa
P´las ruas que o luar anoiteceu.
Não sei se me perdi nesta Lisboa
Ou foi Lisboa em mim que se perdeu.
raquel tavares - lua de maio
Amor meu, que meu não seja
O destino de perder-te
Outro amor, cego te traz
Que o meu olhar, te não veja
Quando penso merecer-te
E sei que a outra te dás
Lua de Maio
Servida em taça de luz
Como um cigano andaluz
Cantando as mágoas dum fado
Lua de Maio
Entristeceu meu olhar
Breve lembrança, ao lembrar
Um grande amor, acabado
Por amor, só por amor
Faz-nos a vida aceitar
O sal que as lágrimas dão
Mas quando dói, é dor
Que ao ser que somos vem dar
A tristeza ao coração
raquel tavares - madrugadas serenas
Os meus olhos que se perdem
Na cor das ondas do mar
São dois sonhos que se encontram
Nos sonhos do meu olhar
Tua boca, rosa agreste
Rosa negra dos caminhos
Que de amor por mim se veste
Quando ficamos sozinhos
Tua voz é Primavera
Que me acorda neste Outono
Ai meu amos, quem me dera
Nunca na vida ter sono
Os meus olhos são apenas
Duas estrelas nos céus
Que em madrugadas serenas
Rezam p´los olhos teus
raquel tavares - meu amor de longe
No Largo da Graça já nasceu o dia
Ouço um passarinho, vou roubar-lhe a melodia
Meu amor de longe ligou
Abençoada alegria
Junto ao miradouro, pombos e estrangeiros
Vão a cirandar como fazem o dia inteiro
Meu amor de longe já vem
Pôs carta no correio
Barcos e gaivotas do Tejo
Vejam o que eu vejo, é o sol que vai brilhar
Meu amor de longe está
Prestes a chegar
Talhado para mim
Mal o conheci, eu achei-o desse modo
Logo pude perceber o fado que ia ter
Por ver nele o fado todo
Chega de tragédias e desgraças
Tudo a tempo passa, não há nada a perder
Meu amor de longe voltou
Só para me ver
Fiz um rol de planos para recebê-lo
Fui pintar as unhas, pôr tranças no cabelo
Meu amor de longe há-de vir
Beijar-me no castelo
Eu a procurá-lo, ele a vir afoito
Carro dos Prazeres, número 28
Meu amor de longe saltou
Iluminou a noite
Vamos celebrar ao Bairro Alto
Madrugada, baile no Cais do Sodré
Meu amor de longe sabe bem
Como é que é
Talhado para mim
Mal o conheci, eu achei-o desse modo
Logo pude perceber o fado que ia ter
Por ver nele o fado todo
Chega de tragédias e desgraças
Tudo a tempo passa, não há nada a perder
Meu amor de longe voltou
Só para me ver
raquel tavares - rosa da madragoa
No Bairro da Madragoa
à janela de Lisboa,
nasceu a Rosa Maria
Filha de gente vareira
foi criada na ribeira
entre peixe e maresia
Flor, mulher aquela rosa,
era a moça mais airosa
que a malta já conheceu
e toda a malta do mar
suspira ao vê-la passar de chinela e perna ao léu
Lá vai a Rosa Maria
que a alegria desta ribeira
ouvia e ria à gargalhada qualquer piada por mais brejeira.
Vai bugiar meu menino!
Não deites barro à parede
que esta rosa é peixe fino para as malhas da tua rede.
O jovem Chico Fateixa
já jurou que não a deixa,
pois a paixão é teimosa
e é de tal modo cegueira
que deu a sua traineira
o nome daquela rosa.
E a Rosa da Madragoa
ao ver escrito na proa
seu nome Rosa Maria
ergueu os braços ao Chico.
Começou o namorico
e vão casar qualquer dia.
Lá vai a Rosa Maria
que a alegria desta ribeira
ouvia e ria à gargalhada qualquer piada por mais brejeira.
Vai bugiar meu menino!
Não deites barro à parede
que esta rosa é peixe fino para as malhas da tua rede.
Vai bugiar meu menino!
Não deites barro à parede
que esta rosa é peixe fino para as malhas da tua rede.
raquel tavares - saída
Sempre que ao sabor dos dedos
As palavras se desmaiam
Numa folha amarrotada,
Deixo as horas e os segredos
Nestes versos que me enleiam,
Deixo tudo e quase nada.
Trago as noites de Setembro
No meu corpo de mulher,
Nesta vida que anoiteço.
Já da vida não me lembro,
Nem se a esqueço por te ver
Ou por ver que não te esqueço.
Sempre que esre madrugar
Dispa os olhos magoadas
E a saudade em mim insista,
Deixo à voz este penar
Sou um fado doutros fados
Em que a noite é mais fadista.
raquel tavares - sofrendo da alma
Mais do que o corpo é a alma
Ã? a alma que me doi
Que foi sofrendo da alma
Que a minha vida se foi
Que foi sofrendo da alma
Que a minha vida se foi
Mais do que o corpo é a alma
Ã? a alma que me doi
Ã? muito que não sonhava
E esta noite sonhei
Sonhei hoje que te amava
Deus, o que eu hoje sonhei
Longe do meu pensamento
Nem ideia de te amar
Amei-te em sonho um momento
Vê lá o que eu fui sonhar
Mais do que o corpo é a alma
Ã? a alma que me doi
Que foi sofrendo da alma
Que a minha vida se foi
Que foi sofrendo da alma
Que a minha vida se foi
Mais do que o corpo é a alma
Ã? a alma que me doi
Foi sonho que não esperava
Sonho que me deslumbrou
Não sabia que te amava
E hoje não sei quem sou
Mais do que o corpo é a alma
Ã? a alma que me doi
Que foi sofrendo da alma
Que a minha vida se foi
Que foi sofrendo da alma
Que a minha vida se foi
Mais do que o corpo é a alma
Ã? a alma que me doi
raquel tavares - outra boa noite
Boa noite à solidão,
Disse um dia quem me disse
Que a saudade é uma espera
Dava o tempo e a razão
P´ra que a vida me despisse
A saudade que ne dera.
Porque mais do que a vontade,
Mais que a sede dos meus dedos,
De hoje em ti eu me perder,
São os braços da saudade
Que se perdem nos meus medos,
No meu corpo a anoitecer.
Que a cada beijo que a vida
Me fez dar à solidão
Como um amor que não conheço,
Deu-me a voz da despedida
Que é muito mais que a razão
E que a voz de que me esqueço.
"Boa noite, noite fria,"
Digo às horas de amargura
Que se estendem noite fora.
"Boa noite", disse um dia
Quem sentiu da noite escura
A tristeza dessa hora.
raquel tavares - deste me um beijo e vivi
Deste-me um beijo e vivi
Na força que veio de ti
Encontrei a fé perdida
Negando o barro e o mito
O meu corpo se fez grito
Vida pedindo mais vida
Acontecemos um só
Sob a luz do mesmo Sol
Cores do mesmo matiz
Razões duma só razão
Pedaços do mesmo chão
Troncos da mesma raiz
Traz-me alturas de montanha
Braveza de mar sem manha
Largueza de céu imenso
Dá-me ternuras de linho
Na luz e no rosmaninho
Teremos valor de incenso
E o meu corpo feito grito
Teve a força de granito
A força que vem de ti
Encontro de fé perdida
Pedi à vida mais vida
Deste-me um beijo e vivi
raquel tavares - limão
Ã?, luar da meia-noite
Alumia cá pra baixo
Que eu perdi o meu amor
E ás escuras não o acho
Ã?, limão, ó, verde limão
Solteirinha sim, casadinha não
Ã?, limão, ó, verde limão
Amor da minh'alma, dá-me a tua mão
Os olhos do meu amor
São grãozinhos de pimenta
Namorei-os na igreja
Ao tomar a água-benta
Cds raquel tavares á Venda