MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
miguel araújo - acalanto
Se o mundo é bambo
Rotundo e rombo
Dum escombro, eu rambo hei de voltar
Se a noite insiste
Eterna e triste
Lanterna em riste, eu vou voltar
Se o mundo é bala de canhão
Que alguém disparou para o céu
Eu afugento o bicho mau
Enquanto invento algum sentido meu
E digo ao mundo que o mundo é teu
Se um pé te pisa
E passa a perna
E pesam penas por passar
Se o mundo é torto
Incerto e tonto
Ã? hora em ponto hei de voltar
Se o mundo é bola-de-cotão
Que anda aos trambolhões no céu
Eu afugento o bicho mau
Enquanto invento algum sentido meu
E digo ao mundo que o mundo é teu
miguel araújo - aqui jaz josé dos santos
Quando os dias eram grandes
E era o tempo da cereja
Atalhávamos caminho
Pelas traseiras da igreja
Desafios de rapaz
Eram para levar a sério
Não valia olhar para trás
Ao passar no cemitério
Dava para ler na pedra
Os nomes dos falecidos
E os panegíricos finais
Em epitáfios esbatidos
? Aqui jaz josé dos santos?
(Não se lia bem a data)
Zés dos santos foram tantos
Para quê toda esta bravata
Mais um santo zé ninguém
Jaz contra sua vontade
Há-de ter deixado alguém
Que deixou de ter saudade
? Aqui jaz josé dos santos?
(E outras exéquias bonitas)
Zés assim hão-de ser tantos
Que este nunca tem visitas
miguel araújo - autopsicodiagnose
Dói-me o baço, dói-me o braço
Tropeço e troco o passo
Faço o que posso e o que não posso
Meço, coço, peso e peço ao Padre-nosso
Faço o que posso e o que não posso
Meço, coço, peso e peço ao Padre-nosso
Pesam-me as pernas, pesam-me penas
Patológicas obscenas
Faço o que sei e o que não sei
Choro, rio, rezo, rogo em vãs novenas
Faço o que sei e o que não sei
Choro, rio, rezo, rogo em vãs novenas
Mas há uma azia que se me cresce
Que quando me aparece nada em mim se mexe
Ã? o medo que o meu médico deixe
Que eu deixe de ter de que me queixe
Que eu deixe de ter de que me queixe
Ponho zelo, ponho gelo
Dói-me a pele e dói-me o pelo
Dói-me um cabelo e outro cabelo
A cruz, a cris, o calo e o cotovelo
Dói-me um cabelo e outro cabelo
A cruz, a cris, o calo, o cotovelo
Ai Cristo, ai quisto
Minha Nossa o que é que é isto?
Que é da crosta que era ali?
Que é do quisto que era aqui?
Pelo que parece pereci
Que é da crosta que era ali?
Que é do quisto que era aqui?
Pelo que parece pereci
Mas há uma azia que se me cresce
Que quando me aparece nada em mim se mexe
Ã? o medo que o meu médico deixe
Que eu deixe de ter de que me queixe
Que eu deixe de ter de que me queixe
miguel araújo - baile dos sem-ninguém
Quando um coração se cansa
De procurar aquele alguém
Ã? hora de ensaiar a dança
Do baile dos sem-ninguém
Do baile dos sem-ninguém
Vem-te aquecer ao lume
Dos que ardem por alguém
E fogem do amor e do ciúme
Pró baile dos sem-ninguém
Pró baile dos sem-ninguém
Troca o passo no compasso
Valsa "falsa-fé"
Quem baila num embalo da solidão
Sabe que amanhã é tarde
Se me vires dançar comigo
Dança contigo também
Amigo não empata amigo
No baile dos sem-ninguém
No baile dos sem-ninguém
Danço na esperança
Que gostes de mim também
E era a nossa derradeira dança
No baile dos sem-ninguém
No baile dos sem-ninguém
Troca o passo no compasso
Valsa "falsa-fé"
Quem baila num embalo da solidão
Sabe que amanhã é tarde
miguel araújo - balada astral
Quando Deus pôs o mundo
E o céu a girar
Bem lá no fundo
Sabia que por aquele andar
Eu te havia de encontrar
Minha mãe, no segundo
Em que aceitou dançar
Foi na cantiga
Dos astros a conspirar
Que do seu cósmico vagar
Mandaram o teu pai
Sorrir pra tua mãe
Para que tu
Existisses também
Era um dia bonito
E na altura, eu também
O infinito
Ainda se lembrava bem
Do seu cósmico refém
Eu que pensava
Que ia só comprar pão
Tu que pensavas
Que ias só passear o cão
A salvo da conspiração
Cruzámos caminhos
Tropeçámos num olhar
E o pão nesse dia
Ficou por comprar
Ensarilharam-se
As trelas dos cães
Os astros, os signos
Os desígnios e as constelações
As estrelas, os trilhos
E as tralhas dos dois
miguel araújo - canção do ciclo preparatório
No coro da minha escola
Já não sou voz de soprano
O couro da minha bola
Passou para segundo plano
Já não vou em futebóis
Os domingos são tormento
Dentro dos lençóis
Com patrícia no pensamento
Minha mae fica zangada
Se eu não toco no jantar
Meu pai já não diz nada
Não tem com quem conversar
Ã? que há qualquer coisa
Ele há qualquer coisa
Nos olhos de patrícia
Que não me deixa dormir
Ã? que há qualquer coisa
Ele há qualquer coisa
Nos olhos de patrícia
Que não me deixa dormir
Todos os horários
Tudo quanto em mim é pontual
Todos os sumários
São "patrícia, ponto final"
Eu gosto é de ir à escola
E sonhá-la só pra mim
Nem a minha consola
Me consola tanto assim
Ã? que há qualquer coisa
Ele há qualquer coisa
Nos olhos de patrícia
Que não me deixa dormir
Ã? que há qualquer coisa
Ele há qualquer coisa
Nos olhos de patrícia
Que não me deixa dormir
miguel araújo - capitão fantástico
O capitão fantástico
Usa um revólver de plástico
Que atira com desdém
E usa como capa a saia da mãe
Lá vai ele a mais de mil
Sozinho num fantástico móbil
E nesse vai-e-vem
Ã?s vezes dá por ele em Marte
Mas volta sempre à estação Mãe
Já foi à Lua e já voltou
Diz que não gostou, não o prendeu
Ã? frio e escuro e o chão é duro
Ã? sempre tão difícil manter os pés no chão
E nisso o Capitão Fantástico
Ã? até muito pragmático
Olha quem lá vem
Ã? cabeça daquele regimento de ninguém
Ã? se não é o Capitão outra vez em orbita
Será que volta ou não?
Já que Jesus não volta nem D. Sebastião
Ao menos que não demore o nosso Capitão
Já foi à Lua e já voltou
Diz que não gostou, não o prendeu
Ã? frio e escuro e o chão é duro
Que é sempre tão difícil manter os pés no chão
miguel araújo - cartório
Vem ser minha mulher
Vem comigo ao cartório
Tratamos do acessório
E seja o que Deus quiser
E se o essencial
Não cabe no papel
Daremos valor real
Ao ouro do anel
Vamos pensar a quente
Vamos que é para sempre?
Arrumo o nosso espólio
Num carro a gasóleo
E seja o que Deus quiser
Enquanto o sol deixar
Vamos descendo à sorte
Até perdermos o norte
Enquanto houver vagar
Esse sorriso teu
Ã? a razão do meu
Vem ser a minha mulher
E seja o que Deus quiser
Fugimos à socapa
Até não vir no mapa
Baixamos o assento
Dormimos ao relento
E seja o que Deus quiser
miguel araújo - cidade grande iii
Cantam as sirenes
Canções de embalar
Os da guarda gritam
Para dispersar
Secam as vontades
Do bom cidadão
Fermenta a cidade
O cio e o pão
Ladram os sinos por quem já la vai
As velhinhas cantam louvores ao pai
Quem vai quem vai
Ao fundo da cidade, quem vai?
miguel araújo - contamina-me
Os que me querem bem e olham por mim
Dizem-me que és ruim
Escorpião, vil lacrau
Maça de adão e eva em mau
E que a tua presença
Ã? como uma doença
Ai mas se é tão bom ser infectado assim
Contamina-me
A minha santa mãe disse-me assim
Meu filho põe-te a pau
Que isso é cruel, bicho cão
Mãe do fel, escorpião
? Ai que esse amor é chama
Que queima e que te inflama?
Pois, mas se é tão bom ser afectado assim
Contamina-me
Afecta a minha condição
Abusa do meu coração
Primeiro come e depois morde a mão
Quanta incúria, a minha
Que este estado de saúde não augura nada bom
O cura do bonfim incumbiu o céu
De olhar por mim
Mas este incréu, mesmo assim
Sem bridão, sem perdão
Volta a cair na cama
Ai mas se é tão bom estar acamado assim
Contamina-me
Afecta a minha condição
Abusa do meu coração
Primeiro come e depois morde a mão
Quanta incúria, a minha
Que este estado de saúde não augura nada bom
miguel araújo - desdita
Ouvi da minha desdita
Certo dia em que eu passei
Numa ruela tão estreita
Que onde fica eu já nem sei
Calhou de estar à janela
Nesse dia, àquela hora
A criatura tão bela
Que naquela casa mora
Delicada de cintura
E com setas no olhar
Ao ver a minha figura
Sorriu e mandou-me entrar
Nesse dia à mesma hora
Não chegou pelo jantar
O fiador da cidade
E lá o foram procurar
Veio dar à beira rio
Sem roupas, sem cor, desfeito
Com as vergonhas de fora
E três facadas no peito
Por nunca ter um tostão
Fui o principal suspeito
Fizeram de mim o vilão
Naquele golpe perfeito
Logo de manhãzinha
Ao juiz eu fui chamado
E qual não foi o meu espanto
Eu já lá tinha estado
Era aquela tal ruela
Estreita como a minha sorte
Sem ter ninguém à janela
Desta vez bati à porta
Sem nada que desculpasse
Obra que eu não assinei
Fosse qual fosse o desfecho
Eu nada tinha contra a lei
E o meu álibi ficou preso
No nó da minha garganta
Sei que se põe à janela
E se houver sol ainda canta
miguel araújo - dona laura
Olha a Laurinha lá vai toda destemida
Diz que é crescida e que prescinde dos conselhos do pai
Olha ela, lá vai toda decidida
Dona da vida nem duvida que é por ali que vai
Olha a Laurinha à cabeça da charanga
Das raparigas do recreio do liceu onde ela anda
E manda na dinâmica da escola
Não vai à bola com a setôra de história
E não disfarça e faz a vida negra à criatura
Ã? a ditadura de quem manda só porque sim
Olha a Laurinha que já fuma às escondidas do pai
Com a mesada de alguém
Ainda namora às escondidas da mãe
Enquanto diz que não tem de nada
Nem ninguém
Vai, dança até ser dia
Que a vida são dois dias
E tu vais ser alguém
Olha a tua mãe
Com um olho na novela
E o outro na panela
Um dia vais ser tão Dona Laura como ela
Olha a Laurinha toda cheia de cidade
Sem ter idade para sequer votar na junta daqui
Sempre que a chamam ao quadro desatina e nada diz
Mas bem que opina sobre o estado a que chegou o país
Olha a Laurinha lá vai cheia de prestígio
Nenhum vestígio da miúda outrora santa e singela
E a mãe dela fica a vê-la da janela
Ainda se lembra bem do tempo em que a Laurinha era ela
A fumar às escondidas do pai com o dinheiro que alguém
Subtraiu da carteira da mãe
Enquanto diz ao mundo que ainda há-de vê-la ser alguém
Vai, canta até ser dia
Que um dia há-de ser dia
E tu vais ser alguém
Que é tal e qual a mãe
Um olho na novela
O outro na janela, um dia vais
Ser tão Dona Laura como ela
Aproveita agora
Que há-de chegar a hora
Que não poupa ninguém
Vais ser igual à tua mãe
Com a filha pela trela
Repete-se a novela, um dia vais
Ser mais Dona Laura do que ela
miguel araújo - josé
Calculei o norte, fiei-me na sorte, dei uma de forte de fui
Contornei os velhos, contra e conselhos, cantos e canteiros
Fui
Descobri o mundo ao fundo do jardim
Desenhei um mapa, fiz dum pano a capa
Fiz planos utópicos
Ao sabor dos ventos e dos mantimentos
Em coca-cola e mentos
Fui aos confins do mundo, ao fundo do jardim
Desbravando mato, traçando o trajeto onde aponta o
Carapim
Piquei-me num cacto, pisei rabo de gato, perdi-me pelo
Capim
Vi o fim do mundo no portão do fundo
Defendi a vida a pau
Fugi dum insecto, pisei um dejeto, passei perto de um
Lacrau
Foi assim que eu vi do mundo os seus confins
Só me resta a astúcia dum cão de pelúcia enquanto o sol
Desaparece
E um action force que em código morse enviou um sos
Descobri a custo o fim do mundo assim
Até que um rugido muito enfurecido fez tremer todo o jardim
Será que é ciclone, algum dragão com fome ou bicho muito
Mais ruim?
Era a voz da minha mãe a perguntar por mim
miguel araújo - lurdes valsa lenta
Lurdes às vezes acorda sem fome
Há 12 anos que quase não come
Molha a bolacha Maria no chá
E engana a gata com bombons Raja
Lurdes folheia a sua Tv Guia
Enquanto põe as conversas em dia
Queixa-se à gata da ingrata da nora
Enquanto o Mário marido está fora
Lurdes diz que é bom ter com quem falar
O Mário nunca foi de conversar
A gabardine foi para cerzir
Assim como assim não tem com quem sair
Olha Lurdes, deixa andar
Ã? assim que o tempo pára
Para o poderes passar
Mário o marido não quis sobremesa
Dessa vez não apareceu na empresa
Talvez tivesse em mente outros planos
A bem dizer já la vão 12 anos
Lurdes digere diversos amargos
E abre mais uma garrafa de Magos
Enquanto o Mário marido não chega
A ver se o raio da gata sossega
Lurdes levanta os dois pratos da mesa
Já não é desta a aguardada surpresa
Atrás do peito os restos de mágoa
No meio da mesa um vazio com água
Quem sabe alguém lhe devolva amanhã
Os 12 anos mais essa manhã
Alguém que lhe traga uma história maluca
Um ramo de flores e uma boa desculpa
miguel araújo - matérias do coração
Nada de novo no telejornal
Mais desemprego no nosso quintal
Um homem farto pela inflação
Morreu com um ataque de informação
Já nada resta do que era de mim
Há tanto tempo que eu nao sei de ti
E eles não passam na televisão
Destas matérias do coração
Estouros, incêndios, inundações
Epidemias, contradiçoes
Soam banais, em comparação
Com estas matérias do coração
A locutora nem quer saber
Do meu amor, que já não me quer
O mundo descamba em informação
Alheio às matérias do coração
Dois continentes que se davam mal
Chegaram a acordo no telejornal
Fizeram as pazes na televisão
Eu e o meu amor é que não
Estouros, incêndios, inundações
Epidemias, contradiçoes
Meros eventos sem dimensão
Ao pé das matérias do coração
O presidente falou pra nação
Mas eu não estou em sincronização
Onde é que se desliga o botão
Destas matérias do coração
Cds miguel araújo á Venda