MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
mauro moraes - assim no más
Por conhecer a lida que a vida me deu
meu galopar de moço, escaramuça de dor,
quando te vejo vindo, meu fruto da mata,
arrastando alpargatas carente de amor!
Parece que o silêncio das rondas noturnas,
amunta o potro arisco da imaginação,
quando te espero cedo meu rumo isolado,
lavando o amargo apesar da ilusão!
Esporeei reminiscências com pesadas nazarenas,
na esperança que a saudade amansasse as
minhas pernas!
Mais dia, menos dia, domando pelegos,
vou arranchar sossegos que a espera me deu,
embriagando mágoas nas águas da sanga,
onde sovei "às pampa" meus sonhos nos teus!
Nas ressolonas tardes de anseios trocados,
a terra prometida arando restevas,
guardando pra semana o mel da lichiguana,
e a manhã castelhana que apeei das estrelas!
Assim no más me perco deslumbrado de achego,
em meio às circunstâncias dos mesmos juncais,
que te acolheram pura meu resto de lua,
meu poente charrua empochado de paz!
mauro moraes - a boa vista do peão de tropa
Nos rincões da minha querência arrabaleira conforme a vontade
Me serve um mate pampa minha nesta vidinha que me destes
Antes que embeste a novilhada pra o mundo alheio das porteiras
Saúdo a poeira destas crinas que me arrocinam sujeitando
E da garupa do cavalo faço um regalo à ventania
Que na poesia destas léguas tomo por rédeas e conselhos
Chamo no freio a coisa braba, o tempo é feio, mas que importa
Quando se engorda na invernada não falta nada, pra quem baba
De focinho levantado e mais curioso
A fim de ir pra estância do passo
Na direção de casa costeando o arvoredo
O meu desespero porfia co´a tropa
Fazendo o que gosta ao sul de mim mesmo
E todo bem que havia maneado ao destino
Divide caminho co´a rês que amadrinha
O rio que eu não via mimando de sede
A minha saudade
Na função dos meus afazeres rememorados conforme a manada
Vou ressabiando afeito a fadiga às horas mingas de sossego
Talves melhore durante a sesteada sou por demais igual à campanha
Tamanha a alma de horizontes ali defronte os cinamomos
Já não habita a teimosia atropelando o meu rodeio
Quando me agüento no forcejo pra erguer no laço os caídos
Não me lastimo nem receio, vou pelo meio do sinuelo
Tocando mansos os mais ariscos só pelo vício de por quartos
Cuidar do gado rondando o baio que amanunseio!
mauro moraes - a cusco e a manaço
Quando esparramo meu laço
Calçando o zaino na espora
Num combate campo a fora
Contra um boi mandando pata...
Quis a "mala suerte" ingrata
Que eu errasse aquele pealo
E que rodasse o cavalo
"Virge" quase que me mata.
Mas eu como sou vaqueano
Cruzei a perna ligeiro
Só escutei o "entrevero"
De pingo, terra e boléu...
Quando finco meu chapeú
Bem debochado na nuca
Nem diabo, nem arapuca
Me "cambeiam" lá pro céu.
Chega, chega, pega, pega
Que o zebu é caborteiro!
Me entrincheirei nas macegas
Atiçando os ovelheiros.
E não é que o boi me veio
"Causa" do pala encarnado
Trazia um cusco agarrado
Bem na junta do garrão...
Meu cachorro "Tradição"
Mordendo o tronco da "oreia"
Pressentindo a coisa feia
Virei o mango na mão.
E aprumei o "pitangueira"
Bem no miolo do tirano
Nisso já vinha meu zaino
Me procurando no espaço...
Coisas da lida de laço
Pra quem anda de a cavalo
Se eu não derrubo de um pealo
Derrubo a cusco e mangaço.
mauro moraes - a mango e bico de bota
Quando a cuscada não sai no rodeio falta um touro
Que faz tempo não escuta a toada do mesmo couro
Pegando de vez em quando, quando não pega nem nota
Se acomodando por conta a mango e bico de bota
Um mango de tala chata preso no pulso com o fiel
E um galope estendido que longe se ouve o tropel
É pra meter o cavalo tirando o alçado da grota
Com jeito e sabedoria a mango e bico de bota
Dispara assim por matreiro quando se forma o rodeio
Pra se topar mais adiante comigo em cima do arreio
É a força na mão direita, as rédeas na mão canhota
E um rumo pra quem já vai a mango e bico de bota
Não dá pra atirar o laço cerrando um capão de mato
Fechado lançante abaixo com molho e unha de gato
Rincão de pedra e sereno quem nem macega não brota
Pra se chegar de a cavalo a mango e bico de bota
É pé no estrivo firmando nos quatro esteios do mouro
Pra encostar mano a mano um peito num sangradouro
De longe se ouve um grito e o rodeio se alvorota
Que o burro vai num costeio a mango e bico de bota!
mauro moraes - a troco de nada
São ledos os tições do lamento e da inevitável tristeza
Quando a vida arrasta os arreios com seus fantasmas campo-fora
Tem horas que gente se ausenta depois de quase perder a estima
Com o tempo entordilhando as melenas e as léguas pedindo freio
São ternos os galpões do silêncio e da inseparável poesia
Quando o campo inspira a palavra e a cuscada retoça na volta
Lá fora a troco de nada o coração repara os cavalos
O gado e algumas ovelhas e inteira a alma cuida dos guaxos
Na armada do laço o calor de um abraço intervala cada tirão
Apesar que na vida quando a mãe lambe a cria o destino pede perdão
Me deixem feliz, não tem mágoa essa dor
A saudade não sabe onde estou!
mauro moraes - abrindo cancha
Quando um chão batido campeiro
mete um pandeiro na charla.
A cordeona incha a garupa
despeona e lá vai pedrada...
A guitarra arranca guanxuma
donde se apruma a rodada.
Deixando a alma maneada
nas coplas de cincha atada.
Quando a gauchada se agarra
as garras sabem o ofício.
De aperta as Â?boconaÂ? ao tranco
d'um Â?rasguidão correntinoÂ?...
Balconero me serve um liso
num compassão de fronteira.
Que eu trago Â?as baldaÂ? grongueira
pra Â?acolheráÂ? um cambicho.
Bamo atropelando cambada
abrindo cancha em campanha
donde Â?saimo dos cuerosÂ?
com os Â?perroÂ? toreando Pampa...
E a la gandaia o gaiteiro
com a redomona nos braços
reboleia o verso pra um pealo
entre o violão e o cavalo.
Gauchona toca essa naba
com as vaca no corredor.
Dando bote em pingo dágua
com o mate por fiador...
Bamo desdomando Â?as ilheraÂ?
donde cochila Â?os botãoÂ?.
Com os Â?calaveraÂ? no bico
hora botando envido
hora cantando flor!
mauro moraes - amadrinhando
Não te assusta, Â?mana-véioÂ?
e apura o baio nos ferro
pra que se queixe no berro
se manoteando na cara...
Se acaso apanha e dispara
não afrouxa, nem que perca
que eu não te deixo ir na cerca
nem que custe a Â?MalacaraÂ?!
Te cuida só dos Â?corcóveoÂ?,
pra que o maula não te saque
e sendo assim, se destaque
na ciência do Â?queixo atadoÂ?...
Dá-lhe boca e descampado
assusta com o tirador
pois tem amadrinhador
pra te fazer um costado.
Não se facilita potro,
ainda mais da marca Â?ZÂ?
pode até nem parecer
mas são de sangue Â?veiacoÂ?...
Que gostam de vender os Â?cacoÂ?
do índio desprevenido
presta atenção no que digo!
- Que a cancha não tem buraco.
Se não quiser ir pra diante
Â?levamoÂ? a encontro de égua
que eu te garanto, se entrega
e vai aprendendo a trotear...
Faz o beiçudo encordoar
desarrolhando na estrada
que uma boa amadrinhada
é coisa pra admirar!
Depois de firmar carreira
chupa o beiço e prende o grito
bem estrivado e tranqüilo
ajeita as Â?rédea pareiaÂ?...
Balança o corpo e golpeia
como pra deixar sentado
que eu vou saltar agarrado
com as Â?mãoÂ? torcendo as Â?oreiaÂ?.
Quem tem amadrinhador
tem parceiro, tem irmão!
Que não te deixa ir pro chão
nem que o mundo se de volta...
Se um verso xucro se solta
da garganta de um cantor
um bom amadrinhador
faz da guitarra uma escolta.
mauro moraes - ao trote do pingo baio
O tempo ?veio? desaba em chuva, trovão e raio
e ao trote do pingo baio me vou corredor afora.
Até o tinir da espora ia templando no espaço
quedou-se junto do aço pra noite que me apavora.
Venho de volta, de tropa, duas semanas de estrada
imagino a prenda amada mateando em frente as ?casa?.
O coração bate asas querendo saltar na frente
donde a saudade da gente se reflete em sanga rasa.
Mas pra alma do campeiro o tempo tem dessas manhas
e vez por outra se assanha sem nos mostrar um sentido.
Sempre existe algum motivo pras intempéries da vida
ao calar mágoas sentidas num peito quase ferido.
Quem sabe um raio guaxo me clareando a noite escura
seja um candeeiro xirúa a me alumbrar o caminho.
E no rumo do ranchinho meu baio pingo estradeiro
me leve em trote chasqueiro pra sorver os teus carinhos.
Talvez a chuva que encharca a imensidão do varzedo
sejam lamentos e mágoas do coração da morena.
Que me aguarda serena bombeando a curva da estrada
mateando sonhos e mágoas junto à ramada pequena.
mauro moraes - aprendizado
Recuando alma à dentro
Onde a charla é mais sentida,
Ando cortando alça de gaita,
Floreado da lida...
Trazendo a mala nos tentos
De pouso em pouso
Tocando a vida...
Com uma prosa sincera e franca
Dou buenas ao vento
Pra uma saudade, morena!
"Sentá" o pêlo...
Num "rincãozito" botado
Nos campos do Toro Passo
Com o sangue pampa
Da gadaria flor!
Me resguardei na invernada
Numa "sombrita" copada
Num lote de terra
Numa ponta de gado
E descobri no fundo
Como era pouco e muito
Que eu havia plantado
-Escrevi a vida inteira, poesias musiqueiras
E mesmo assim eu não matei
A fome do meu coração!
Em campanha,
Onde a água é muito mais pura perto da fonte
E qualquer pedaço de campo
É um universo, um aprendizado
Eu contínuo voltado com os olhos pra dentro,
No espaço detido do tempo,
Onde sempre sobra sinuelo,
Pra se apartar melodias.
mauro moraes - baldas de campo
Um colorado,
delgado e ?costeadão?
se ?arrasto? frente ao galpão
quando sentei o baixeiro...
Que mal costume
pra um cavalo quase feito
pois não se perde o respeito
diante de um índio campeiro.
Por vaqueano
apertei as barrigueiras
cabresteei reto a porteira
pra ?muntá? em campo aberto...
Porque um fronteiro
quase sempre se garante
com a ?semaria? por diante
e os quero-quero por perto.
?Muntei? ligeiro
pra ?firmá? a gauchada
e larguei marcha troteada
estendendo o meu bagual...
Que mala surte
um avestruz aninhado
me ?saltô? todo assombrado
do meio do macegal.
Uma ?negadita?
quase me ?saca? dos bastos
tiniu nas franjas do pasto
a roseta das chilenas...
A mão certeira
campeia a aba do paysandú
a vida pra um índio cru
por vezes fica pequena.
São coisas simples
do dia a dia da lida
baldas de campo pra vida
que ajeito com muito ?gusto?...
Pois um campeiro
que tem a doma por luxo
ão larga o jeito gaúcho
pelo motivo de um susto.
mauro moraes - batendo casco
Num trote fronteiro de atirar o freio,
vou topando o vento, só por desaforo
De ganhar a vida num gateado oveiro,
loco de faceiro, junto dos cachorros
Pelo campo-fora, pelas campereadas,
apresilho os olhos num florear lindaço
De arrastar pra o toso as "ovelha-mestra",
e tudo que não presta de arredor do rancho
Me pilcho bem lindo, tipo pro namoro
Cabresteando as rugas deste amor bagual
Que ao "cambiar" das léguas, vai boleando a perna
Pra Santana Velha do Rio Uruguai
De sovéu bem curto "vamo" meu cavalo,
amagando pealos nesses mundaréu
Atorando as chircas numa manga d'água,
amadrinhando a mágoa sem "tirá" o chapéu
"Semo" um do outro sem "rasgá" baixeiro,
adelgaçando o pelo neste manancial
Aparando as crinas, do pescoço a orelha,
de uma égua prenha sem "passa" o buçal
mauro moraes - bem campante
Compadre essa milonga anda de novo
Com a alma acolherada o tempo todo
E eu gaúcho tosando o cavalo encapado
Embaixo de um cinamomo
Compadre essa milonga anda lindeira
Perdendo as estribeiras por aí
E eu campante campeando campo e cidade
Cantado como escrevi
Compadre essa milonga o trem não pega
Nem solta pêlo junto à cachorrada
E eu no grito fazendo pelos amigos
Cantando pra gauchada
Adeus tia chica me vou mundo afora
Botando pra fora o que der na telha
Batendo na marca no tento da espora
No bico da chicolateira
Cerração baixa é sol que racha
E dê-lhe pé no estribo e figa no buçal
mauro moraes - botando na rédea
Quando no quedamos pensativos
Pelos pelegos da arte entre um mate e outro
Pouco importa o costeio, o canto chorado
Botando na rédea a palavra acha a volta
Murcha as orelhas e se acolhera nos versos!
Por si mesmo a palavra traduz desalentos de amor e descórdia
Provoca a verdade, arrisca-se a tudo e a todos consola
Atravessa a mágoa onde a lágrima fala amarga e sangrante
Revela-se em prosa naquilo que gosta com todas as letras
Por si mesmo a palavra traduz pensamentos idéias e cores
Imagens cortantes, as mais retirantes do seu dia a dia
Ás vezes, silêncio, mistura segredos nas coisas guardadas
E sofre o castigo de haver escondido os livros na alma
Ah! Palavra rasgada
Linguagem urgente
Tratando da gente
Ao ferir e curar1
É compadre, a palavra é como égua
É preciso ter uma, pra recolher as outras!
mauro moraes - cabanha toro passo
Lindera ao passo velho do Toro Passo
Desde os tempos da linha férrea
Passando o bolicho do Gaiola,
A vida lá fora
Vista do "Arroio do Fundo",
Me cala fundo
Quando apeio ali, na Cabanha Toro Passo
Quando uma milonga fronteira, floreia grongueira, charlando distâncias de campo e de flor, por onde for...
Um tempo novo abre os trabalhos, metendo cavalo, com o pinho nos braços fazendo um fiador, pra alguma dor!
Quando uma milonga marcada, Cutuca por nada mandando a palavra,
"Botá" no serviço a inspiração...
A vista do lombo do arreio,
Chuleia os "terneiro",
A eguada, os "carneiro",
E a cuscada ovelheira no corredor!
Quando uma milonga buenaça
Ponteia lindaça, fazendo fumaça
Pra um chibo estendido n'alguma cruz...
A gente faz tudo que gosta,
Mas só quem se topa, termina na volta;
Deitado nas cordas, ouvindo um violão!
Então tá!!!
Que tal fecha um mate, tocando pro gasto.
Com a alma lavada, cheirando a pasto,
Batendo na marca de um milongão...
Então tá!!!
Que tal quebra o cacho da cola dos planos,
Largar a galope e a todo pano,
Matar a saudade de rir e chorar...
Milonga!!!Milonga!!!
mauro moraes - campereando
Na charla dos milongueiros, contraponteando o silêncio
Eu sempre digo o que penso quando o violão me golpeia
E me garanto por terra campeando as coisas do campo
Sem molestar o quebranto de um bordoneio queixoso
Aqueles do olhar lacrimoso quando voltamos pra dentro
Campereando vou
Campereando vou
Vou eu a cavalo
Encurtando o pago
Campeador
Guardo nas léguas dos olhos remorsos nunca esquecidos
Um catre bueno curtido pros dias que não enfreno
Tropilhas do mesmo pêlo parceiras pras invernadas
Quando amadrinho quarteadas na pampa do meu estado
E um coração solidário velando a luz dos luzeiros
Sabe comadre milonga, fulana nem sei das quantas
Sempre que um sonho se planta tenho com quem conversar
Ando de laço atorado, marcado pelo meu jeito
Quando a dor abre o peito e o vento nada responde
Talvez buscando horizonte eu mude a cara do tempo!
Cds mauro moraes á Venda