marsa - a pele
Só a pele entende a pele
A pele estanca a pele
Quando a pele sangra
A pele estanca a pele
Afaga a pele
A faca, a pele
Falta um tanto de fineza
Nessa dor que nos espanca
Se o fogo apela
Apele, rebele
Quero a tua pele preta
Sobre a minha pele branca
Pois somente a pele
Esquenta
A pele
Estende
Mas se não for lhe valer
Entenderei você
Ã? melhor não voltar
Mais vale a dor de esquecer
E é melhor não viver
Do que ter que matar
marsa - tarcísio
Nego, esse meu apego é foda, eu sei
Mas, quiçá, talvez, eu possa te entender
Cego não te nego toda vez que vens
Mas é tão doído depois do prazer
E tudo fica pra depois
E que há uma névoa entre nós dois
Preciso meu narciso de você
Mas você é tolo, por vezes cruel
Tem medo do fogo, mas não vai pro céu
A tua sorte é eu te querer
Pois que tua língua é meu lazer
Tarcísio meu narciso é você
marsa - breu da dor
No peito o breu valida a dor
Se acendo a luz o que restou?
Nem é bom dizer!
Se houvesse em nós algum fulgor
Que em minha voz pudesse cor, alguma cor
Nem deves saber que o céu turvou
Pra mim você sequer vem ver
Nem podes crer
Pensei haver
Algo assim, sempre afim
Entre mim e você
Nem sei porque
Te desfiz, me acudi
E ouça o que eu compus
Fui eu, turvei o céu, a cor, a luz
Expandi, só então pude perceber
Que o breu, a cor, o céu, turvou você
Se houvesse em nós algum fulgor
Que desse luz, pudesse cor
No que restou
Mas sem ter você
Não mais nos resta a flor
E é cinza amanhecer
marsa - de mim de nós do nada
Santa, profana, de quem és?
Abre a cabeça e finca os pés
Na imensidão, no vão, na alma
Brota do são, é tão que acalma
Tanto palavras, quanto sons
São quantas cores?
Quantos tons?
Parte de mim, de nós, do nada
Parte de mim, de nós, do nada!
marsa - mais um só
Tristeza é o mal do peito
Veja como estou tão só
Mas sou mais um só
Vivo num final de tarde
Mas sem fazer alarde
E sem pensar no fim
Na voz de tantos outros sós
Aquém de nós hão de escrever
O que esta valsa tenta te dizer
Aqui embaixo o meu olhar
Oblíquo e turvo sem saber
Se espera o tempo de planar
Pra novamente se erguer
marsa - seda manhã
Seda manhã
Ver florecer
Seis da manhã
Vir ver ter
Por sobre o chão
Arde e se vê
Cor de ser tão
Querer ser
Certo de amanhecer
(certo de anoitecer)
marsa - serpente
Serei navalha e tu serpente
Serei serpente e tu navalha
Pra me cortar
A carne, o fruto do ciúme
Abre a cortina dos teus desejos
Feche seus medos, abre a retina
Deixe eu te olhar
Tu tens o sol e voas devagar
Eu tenho o breu da noite como par
Me sinto chuva enchendo o alguidar
E espalho nuvens em teu calcanhar
Plumas ardentes, na tempestade
Brotam sementes, eternidade
A dissipar
marsa - sobre a paixão
A boca fere e o concreto arde
Arranha céu
No fígado o vinagre, o álcool
o agre e o fel
No pulmão o vício
No encontro o jogo
No afago o fogo
E a paixão é isso!
Deglutindo tijolos construo casas
Faço moradia pr'uma flor
Pra saudade
Tô perdendo os miolos
Criando asas
Pra voar além da minha dor
Que me arrasa
Dei meu corpo de abrigo
A tua casa
E entornasse vidro em meus lençóis
Que maldade
E te afogo no que me entorpece
E chego ao céu
No fígado o vinagre
o álcool, o agre e fel
No pulmão o vício
No encontro o jogo
No afago o fogo
E a paixão é isso!
marsa - vermelhos
Tenho dito que acho que acho os teus cabelos
Vermelhos
Parecidos com meu sarará
Vou ficar colado em teu tornozelo
Que zelo!
Vê-la e vê-los é tudo que há (que há)
Tanto que há
Tanto que já derramou
Tanto que há
Tanto que já se ramou
Teu cabelo é foda, colorido
Tingido
Teu vestido é todo de algodão
Não tem nada não no teu vestido
Despido
Teu corpo nu nas minhas mãos
Coração!