leopoldo rassier - obrigado patrão velho
Patrão velho, muito obrigado, por este céu azul
Por esta terra tão linda, pelo Rio Grande do Sul
Por ter me feito gaúcho, que veio deste lugar
E a lua cheia surgindo, fazendo guascas sonhar
Muito obrigado, pelas andanças do pago
Pela chinoca faceira e o gosto do mate amargo
Int.
Patrão velho, muito obrigado pelos fandangos de galpão
Pelos domingos de rodeio, nos campos do meu rincão
Pela geada caindo tornando em branco o capim
Por esta chama rebelde que queima dentro de mim
Muito obrigado por estas almas andarilhas
Que como o vento minuano vagueiam pelas coxilhas
Int.
leopoldo rassier - minha querencia
De manhã muito cedinho quando o sol devagarinho vem rasgando a escuridão
Ouço a voz da peonada no galpão arrinconada em roda de chimarrão
Da cacimba vem chegando a velha pipa e derramando gotas d'água pelo chão
Vacas mansas na mangueira e ciscando mui faceira no terreiro a criação
(Meu Rio Grande do Sul meu lindo pago, meu chão
Minha querência eu te trago na forma do coração)
Gineteando a cavalhada cruza o campo a gauchada pra o rodeio e a marcação
E o quero-quero alvissareiro que lhes avista primeiro grita sua saudação
Quando eu vejo a minha serra e a beleza desta terra nos meus olhos o debuxo
Prezo a deus na minha crença por esta aventura imensa de ter nascido gaúcho
leopoldo rassier - poncho molhado
Poncho molhado olhar na tropa e no horizonte
Vai o tropeiro devagar estrada afora
A chuva encharca que está chovendo desde anteontem
dói dentro d'alma essa demora
Irmão do gado ele se sente nessa hora
E o seu destino também vai nesse reponte
Igual a tropa nesse tranco estrada afora
Sempre encharcado de horizontes
A tropa segue devagar fugindo tonta
Talvez pressinta que seu fim é o matadouro
E o tropeiro entristecido se dá conta
O boi é bicho mais tem alma sobre o couro
O boi é bicho mais tem alma sobre o couro [repete]
leopoldo rassier - Última lembrança
Eu hei de amar-te sempre, sempre além da vida
Eu hei de amar-te muito além do nosso adeus
Eu hei de amar-te com a esperança já extinguida
De que meus lábios possam ter os lábios teus
Quando eu morrer permita Deus que nesta hora
Ouças ao longe o cantar da cotovia
Será minh'alma que num canto triste chora
E nessa mágoa o teu nome pronuncia
(Eu viverei eternamente nos cantares
Dos pobres loucos que dos versos fazem o ninho
Eu viverei para a glória dos pesares
Onde quase sucumbi nos teus carinhos)
Eu viverei no violão que a noite tomba
Ante a janela da silente madrugada
Eu viverei como uma sombra em tua sombra
Como poesia em teu caminho derramada
Nem mesmo o tempo apagará nossos amores
Que floresceram de uma ilusão febril e mansa
Eu viverei como uma sombra em tua sombra
Mas te levando em minha última lembrança
leopoldo rassier - veterano
Está findando meu tempo,
A tarde encerra mais cedo,
Meu mundo ficou pequeno
E eu sou menor do que penso.
O bagual tá mais ligeiro,
O braço fraqueja as vezes
Demoro mais do que quero
Mas alço a perna sem medo.
Encilho o cavalo manso,
mas boto o laço nos tentos,
Se força falta no braço,
Na coragem me sustento.
Refrão:
(Se lembra o tempo de quebra
A vida volta prá traz
Sou bagual que não se entrega,
Assim no mais.)
Nas manhãs de primavera
Quando vou para rodeio,
Sou menino de alma leve
Voando sobre o pelego.
Cavalo do meu potreiro
Mete a cabeça no freio.
Encilho no parapeito,
Mas não ato nem maneio.
Se desencilha o pelego
Cai o banco onde me sento,
Água quente de erva buena,
para matear em silêncio.
Refrão
Neste fogo onde me aquento,
Remôo as coisas que penso,
Repasso o que tenho feito,
Para ver o que mereço.
Quando chegar meu inverno,
Que me vem branqueando o cerro,
Vai me encontrar venta-aberta
De coração estreleiro.
Mui carregado dos sonhos,
Que habitam o meu peito
E que irão morar comigo
No meu novo paradeiro.
Refrão 3x
leopoldo rassier - pilchas
Não pensem que são pirilampos estas estrelas lá fora
É a lua clara dos campos refletida nas esporas
Não pensem que são pirilampos estas estrelas lá fora
É a lua clara dos campos refletida nas esporas
Se uso vincha na testa é pra ver o mundo mais claro
Não vendo o mundo por frestas lhe posso fazer reparos
Sem cinturão com guaiaca me sinto quase que em pelo
Quando meu laço desata sou carretel de novelo
Da bodega levo um trago pra matar a minha sede
Meu chapéu de aba quebrada beija santo de parede
(Atirei as boleadeiras contra a noite que surgia
Noite adentro entre as estrelas se tornaram Três Marias)
leopoldo rassier - garibaldi herói marujo gaudério
O passo manso dos bois
Avança em onda perfeita
Marujo se fez tropeiro
O barco virou carreta
O passo manso dos bois
Avança em onda perfeita
Marujo virou tropeiro
O barco de fez carreta
Canga de boi é leme
Para o marujo gaudério
Guerreiro dos sete mares
O pampa não tem mistério
Em vez de belas bandeiras
Pelos mares da coxilha
Nos ventos da liberdade
A esquadra farroupilha
Uma tropa de navios
Pelo pampa a navegar
Nas aguadas da esperança
Se reflete a ruiva estampa
Desse herói de campo e mar
leopoldo rassier - o inverno
Segredou-me o vento sul que cabresteia o inverno
Cantando nas casuarinas rompendo folhas e cerne
Lãs que tenho, lenha pouca silêncios de quase um ano
Sabenças que armazenei insuficientes, bem sei
Para enfrentar o tirano
(Qual general de campanha vai mandar o minuano
Virá com mil artimanhas intimidar o meu rancho
E eu silente mateando fogo de chão caprichado
No meu pala enrodilhado vou me quedar esperando)
Nunca o temi, que o varal de charque era lotado
Cavalo bem amilhado vinho prá cem madrugadas
Erva mansa, quincha buena de Santa Fé, despontada
Violão para as insônias que por amargas e longas
Tinha a alma calejada
Já nem mais canto milongas temendo o embate fatal
Dá pena ver o varal sem a fartura das mantas
Não sei se ri, ou se canta o vento quando ultrapassa
Não estou chorando, senhores é o efeito da fumaça
Não estou chorando, senhores
É o efeito da fumaça
leopoldo rassier - roda que roda
Sou cria da Bossoroca lindeira ali de São Luiz
Não saio da minha toca se ali me sinto feliz
Pode não ser para os outros mas pra mim sempre será
Terra de livres e potros que alguém jamais tomará
Roda que roda e não anda
Rodando de mão em mão
A cuia é um mundo em ciranda
Na seiva do coração
Gosto da lida campeira nessa escola me criei
O laço e a boleadeira são lições que eu decorei
Achei o rumo seguro meu abc de campanha
E ao quebrar um queixo duro tirando-lhe balda e manha
Minha mestra foi a vida meu mundo meu professor
A lição mais bem sabida foi esta de cantador
Depois da lida de campo junto ao fogo do galpão
Tempero a guitarra e canto na roda de chimarrão
leopoldo rassier - sabe moço
Sabe, moço
Que no meio do alvoroço
Tive um lenço no pescoço
Que foi bandeira pra mim
Que andei mil peleias
Em lutas brutas e feias
Desde o começo até o fim
Sabe, moço
Depois das revoluções
Vi esbanjarem brasões
Pra caudilhos coronéis
Vi cintilarem anéis
Assinatura em papéis
Honrarias para heróis
É duro, moço
Olhar agora pra história
E ver páginas de glórias
E retratos de imortais
Sabe, moço
Fui guerreiro como tantos
Que andaram nos quatro cantos
Sempre seguindo um clarim
E o que restou?
Ah, sim
No peito em vez de medalhas
Cicatrizes de batalhas
Foi o que sobrou pra mim
Ah, sim
No peito em vez de medalhas
Cicatrizes de batalhas
Foi o que sobrou prá mim
leopoldo rassier - bailanta do tio flor
Vamos embora ver onde chora o cantor
O pó levanta na bailanta do tio flor
Vamos embora ver onde chora o cantor
O pó levanta na bailanta do tio flor (2x)
Miro no espelho lá na cacimba
Firmo o cabelo na brilhantina
Vou me benzer na água benta da cantina
Vamos embora ver onde chora o cantor
O pó levanta na bailanta do tio flor
Vamos embora ver onde chora o cantor
O pó levanta na bailanta do tio flor (2x)
Bombacha nova par de botas de pelica
Tomo uma pura só pra ver como é que fica
Sou cantador de flor que não se achica
Vamos embora ver onde chora o cantor
O pó levanta na bailanta do tio flor
Vamos embora ver onde chora o cantor
O pó levanta na bailanta do tio flor (2x)
De relancina maneio um olhar fujão
E desempenho na polca de relação
Quero prosear com a filha do patrão
Vamos embora ver onde chora o cantor
O pó levanta na bailanta do tio flor
Vamos embora ver onde chora o cantor
O pó levanta na bailanta do tio flor
leopoldo rassier - tem dó