 MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
 MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS 
      josé mário branco - capotes brancos capotes negros
Capote preto, capote branco 
 Quem dá o flanco 
 Nunca se defende bem 
 
 Capote branco, capote preto 
 O Xico-esperto 
 Usa a cor que lhe convém 
 
 Em tempos que já lá vão 
 Vinham uns homens de mão 
 A soldo da reacção 
 Armar brigas e banzé 
 Junto ao Palácio de Sebastião José 
 Mas o Pombal, sabido 
 Estava prevenido 
 E tinha preparado 
 O seu esquadrão privado 
 
 E não pisavam o risco 
 No Bairro Alto os brigões de S Francisco 
 Enquanto o povo assistia 
 Às contradições que havia 
 No seio da fidalguia 
 Vinha a bófia endireitar 
 O Bairro Alto que ela andava a entortar 
 Os reaccionários, de um lado 
 Capote preto, cruzado 
 Do outro lado, os brancos 
 Que os punham logo a fancos 
 E não sei porque razão 
 Quem se lixava era sempre o mexilhão 
 
    josé mário branco - tiro no liro
Na zoologia do fala-só 
 Há muitos animais de tiro 
 Há o tiro-liro e não só 
 Também o tiro-liro-ló 
 
 Seja tiro-liro ou tiro-ló 
 O tiro-liro leva tiro 
 Que é o mesmo que três liros e um ló 
 Feridos por um tiro só 
 
 Quem dá o tiro no liro 
 Vai p´ró chilindró 
 Quem dá o tiro no ló 
 Anda de pó-pó 
 
 Lá em cima está o tiro-liro-liro 
 Cá em baixo o tiro-liro-ló 
 
 Mas o liro que eu prefiro é o ló 
 Que ao liro-liro tira o tiro 
 Pois enquanto o ló transpira no pó 
 O liro tira o pão do ló 
 
 Há-de vir o dia em que o liro-ló 
 Será igual ao liro-liro 
 Com a concertina e o sol-e-dó 
 Unidos por um tiro só 
 
 Quem dá o tiro no liro 
 Vai p´ró chilindró 
 Quem dá o tiro no ló 
 Anda de pó-pó 
 
 Lá em cima está o tiro-liro-liro 
 Cá em baixo o tiro-liro-ló 
 
    josé mário branco - alerta
Pelo pão e pela paz
 E pela nossa terra
 Pela independência
 E pela liberdade
 Alerta! alerta!
 Às armas! às armas!
 Alerta!
 Pelo pão que nos rouba a burguesia
 Que nos explora nos campos e nas fábricas
 Operários, camponeses hão-de um dia
 Arrebatar o poder à burguesia
 Abaixo a exploração!
 Pelo pão de cada dia!
 Pois claro!
 Só teremos a paz definitiva
 Quando acabar a exploração capitalista
 Camaradas soldados e marinheiros
 Lutemos juntos pela paz no mundo inteiro
 Soldados ao lado do povo!
 Pela paz num mundo novo!
 Pois claro!
 (refrão)
 Pela terra que nos rouba essa canalha
 Dos monopólios e grandes proprietários
 Camponeses, lutem p´la reforma agrária
 P´ra dar a terra àquele que a trabalha
 Reforma agrária faremos!
 A terra a quem a trabalha!
 Pois claro!
 Pela independência nacional
 Contra o domínio das grandes potências
 Fora o imperialismo internacional
 Que tem nas mãos metade de portugal
 Abaixo o imperialismo!
 Independência nacional!
 Pois claro!
 (refrão)
 Não há povo que tenha liberdade
 Enquanto houver na sua terra exploração
 Liberdade não se dá só se conquista
 Não há reforma burguesa que resista
 Democracia popular!
 E ditadura proletária!
 Pois claro! 
 
    josé mário branco - as canseiras desta vida
As canseiras desta vida
 Tanta mãe envelhecida
 A escovar
 A escovar
 A jaqueta carcomida
 Fica um farrapo a brilhar
 
 Cozinheira que se esmera
 Faz a sopa de miséria
 A contar
 A contar
 Os tostões da minha féria
 E a panela a protestar
 
 Dás as voltas ao suor
 Fim do mês é dia 30
 E a sexta é depois da quinta
 Sempre de mal a pior
 
 E cada um se lamenta
 Que isto assim não pode ser
 Que esta vida não se aguenta
 -o que é que se há-de fazer?
 
 Corta a carne, corta o peixe
 Não há pão que o preço deixe
 A poupar
 A poupar
 A notinha que se queixa
 Tão difícil de ganhar
 
 Anda a mãe do passarinho
 A acartar o pão pró ninho
 A cansar
 A cansar
 Com a lama do caminho
 Só se sabe lamentar
 
 É mentira, é verdade
 Vai o tempo, vem a idade
 A esticar
 A esticar
 A ilusão de liberdade
 Pra morrer sem acordar
 
 É na morte ou é na vida
 Que está a chave escondida
 Do portão
 Do portão
 Deste beco sem saída
 -qual será a solução? 
 
    josé mário branco - cantiga do fogo e da guerra
Há um fogo enorme no jardim da guerra 
 E os homens semeiam fagulhas na terra 
 Os homens passeiam co´os pés no carvão 
 que os Deuses acendem luzindo um tição 
 
 Pra apagar o fogo vêm embaixadores 
 trazendo no peito água e extintores 
 Extinguem as vidas dos que caiem na rede 
 e dão água aos mortos que já não têm sede 
 
 Ao circo da guerra chegam piromagos 
 abrem grande a boca quando são bem pagos 
 soltam labaredas pela boca cariada 
 fogo que não arde nem queima nem nada 
 
 Senhores importantes fazem piqueniques 
 churrascam o frango no ardor dos despiques 
 Engolem sangria dos sangues fanados 
 E enxugam os beiços na pele dos queimados 
 
 É guerra de trapos no pulmão que cessa 
 do óleo cansado que arde depressa 
 Os homens maciços cavam-se por dentro 
 e o fogo penetra, vai directo ao centro 
 
    josé mário branco - cantiga para pedir dois tostões
Nos carris
 Vão dois comboios parados
 Foste longe e regressaste
 Trazes fatos bem cuidados
 E já pensas
 Em dourar o teu portão
 Se és senhor de dez ou vinte
 És criado de um milhão
 Regressaste
 Com um dedo em cada anel
 E projectos num papel
 E amigos esquecidos
 Tempos idos
 São tempos que voltarão
 Em que pedirás ao chão
 Os banquetes prometidos
 
 Milionário que voltaste
 Dois tostões p´rós que atraiçoaste
 
 Fazes pontes
 Sobre rios e valados
 Mas quando o cimento seca
 Já morremos afogados
 Fazes fontes
 No silêncio das aldeias
 E a sede é tal que bebemos
 Até ter água nas veias
 Instituíste
 Guarda-sóis e manda-chuvas
 Lambe-botas, beija-luvas
 Pedras-moles e águas-duras
 Inauguras
 Monumentos ao passado
 Que está morto e enterrado
 Entre naus e armaduras
 
 Milionário que voltaste
 Dois tostões p´rós que atraiçoaste
 
 Quanto a nós
 Nós cantores da palidez
 Nosso canto nunca fez
 Filhos sãos a uma mulher
 Nem sequer
 Passa mel nos nossos ramos
 Pois a abelha que cantamos
 Será mosca até morrer
 
 Milionário que voltaste
 Dois tostões p´rós que atraiçoaste 
 
    josé mário branco - canto dos torna viagem
Melodia 1 (solistas, depois coro misto adulto)
Foi no sulco da viagem
Já sem armas nem bagagem
Nem os brazões da equipagem
Foi ao voltar
Pátria moratória
No coração da história
Que consumiste a glória
Num jantar
Foi como se Portugal
P'ra seu bem e p'ra seu mal
Andasse em busca dum final
P'ra começar
Ávida violência
Reverso da inocência
Sal da inconsciência
Que há no mar
Império tão pequenino
De portulano caprino
Bolsos de sina e de sino
Em cada mão
Pátria imaginária
De concistência vária
Afirmação diária
Do teu não
As malas dos portugueses
São como os olhos das rezes
Que se mastigam três vezes
Em cada chão
Cândida ignorância
Grande desimportância
Os frutos da errância
Já lá vão
Melodia 2 (solistas, depois coro adulto misto)
Ai Senhora dos Navegantes me valei
De África, do sal e do mar só eu sobrei
Foi p'ra me encontrar que amanhã já me perdi
Longe vai o tempo em que eu já não estou aqui
Ai Senhora dos Talvez-Muitos-Mais-Sinais
Socorrei estes desperdícios coloniais
Foi na noite fria que o dia me cegou
Inda agora fui, inda agora cá não estou
Ai Senhora dos Esquecidos me lembrai
O caminho que p'ra lá vem e p'ra cá vai
Etecetera e tal, portugal é nós no mar
Inda agora vim e estou longe de chegar
Ai Senhora dos Meus Iguais que eu subtraí
Foi pataca a mim e não foi pataca a ti
Se é tão grande a alma na palma do meu ser
Algum dia eu vou finalmente acontecer
Melodia 3 (coro infantil + Jmb)
Porque não tentar outro ponto de vista
A história dos outros quem a contará
Se qualquer colónia sem colonialista
São os que já estavam lá
Tentemos então ver a coisa ao contrário
Do ponto de vista de quem não chegou
Pois se eu fosse um preto chamado Zé Mário
Eu não era quem eu sou
Os navegadores chegaram cá a casa
E foi tudo novo p'ra eles e p'ra mim
A cruz e a espada e os olhos em brasa
Porque me trataste assim?
Não é culpa nossa se quem p'ra cá veio
Não se incomodou ao saber do horror
A história não olha a quem fica no meio
E o que foi é de quem fôr 
    josé mário branco - casa comigo marta
Chamava-se ela Marta 
 Ele Doutor Dom Gaspar 
 Ela pobre e gaiata 
 Ele rico e tutelar 
 Gaspar tinha por Marta uma paixão sem par 
 Mas Marta estava farta mais que farta de o aturar 
 - Casa comigo Marta 
 Que estou morto por casar 
 - Casar contigo, não maganão 
 Não te metas comigo, deixa-me da mão 
 
 Casa comigo Marta 
 Tenho roupa a passajar 
 Tenho talheres de prata 
 Que estão todos por lavar 
 Tenho um faisão no forno e não sei cozinhar 
 Camisas, camisolas, lenços, fatos por passar 
 - Casa comigo Marta 
 Tenho roupa a passajar 
 - Casar contigo, não maganão 
 Não te metas comigo deixa-me da mão 
 
 Casa comigo Marta 
 Tenho acções e rendimentos 
 Tenho uma cama larga 
 Num dos meus apartamentos 
 Tenho ouro na Suíça e padrinhos aos centos 
 Empresto e hipoteco e transacciono investimentos 
 - Casa comigo Marta 
 Tenho acções e rendimentos 
 - Casar contigo, não maganão 
 Não te metas comigo deixa-me da mão 
 
 Casa comigo Marta 
 Tenho rédeas p´ra mandar 
 Tenho gente que trata 
 De me fazer respeitar 
 Tenho meios de sobra p´ra te nomear 
 Rainha dos pacóvios de aquém e além mar 
 - Casas comigo Marta 
 Que eu obrigo-te a casar 
 - Casar contigo, não maganão 
 Só me levas contigo dentro de um caixão 
 
    josé mário branco - eu vim de longe
Quando o avião aqui chegou
 Quando o mês de maio começou
 Eu olhei para ti
 Então entendi
 Foi um sonho mau que já passou
 Foi um mau bocado que acabou
 
 Tinha esta viola numa mão
 Uma flor vermelha na outra mão
 Tinha um grande amor
 Marcado pela dor
 E quando a fronteira me abraçou
 Foi esta bagagem que encontrou
 
 Eu vim de longe
 De muito longe
 O que eu andei pra aqui chegar
 Eu vou pra longe
 Pra muito longe
 Onde nos vamos encontrar
 Com o que temos pra nos dar
 
 E então olhei à minha volta
 Vi tanta esperança andar à solta
 Que não hesitei
 E os hinos cantei
 Foram feitos do meu coração
 Feitos de alegria e de paixão
 
 Quando a nossa festa se estragou
 E o mês de Novembro se vingou
 Eu olhei pra ti
 E então entendi
 Foi um sonho lindo que acabou
 Houve aqui alguém que se enganou
 
 Tinha esta viola numa mão
 Coisas começadas noutra mão
 Tinha um grande amor
 Marcado pela dor
 E quando a espingarda se virou
 Foi pra esta força que apontou
 
 E então olhei à minha volta
 Vi tanta mentira andar à solta
 Que me perguntei
 Se os hinos que cantei
 Eram só promessas e ilusões
 Que nunca passaram de canções
 
 Eu vim de longe
 De muito longe
 O que eu andei pra aqui chegar
 Eu vou pra longe
 P´ra muito longe
 Onde nos vamos encontrar
 Com o que temos pra nos dar
 
 Quando eu finalmente eu quis saber
 Se ainda vale a pena tanto crer
 Eu olhei para ti
 Então eu entendi
 É um lindo sonho para viver
 Quando toda a gente assim quiser
 
 Tenho esta viola numa mão
 Tenho a minha vida noutra mão
 Tenho um grande amor
 Marcado pela dor
 E sempre que Abril aqui passar
 Dou-lhe este farnel para o ajudar
 
 Eu vim de longe
 De muito longe
 O que eu andei pra aqui chegar
 Eu vou p´ra longe
 P´ra muito longe
 Onde nos vamos encontrar
 Com o que temos pra nos dar
 
 E agora eu olho à minha volta
 Vejo tanta raiva andar a solta
 Que já não hesito
 Os hinos que repito
 São a parte que eu posso prever
 Do que a minha gente vai fazer
 
 Eu vim de longe
 De muito longe
 O que eu andei prá aqui chegar
 Eu vou pra longe
 P´ra muito longe
 Onde nos vamos encontrar
 Com o que temos pra nos dar
 
 
    josé mário branco - fado da tristeza
Não cantes alegrias a fingir 
 Se alguma dor existir 
 A roer dentro da toca 
 Deixa a tristeza sair 
 Pois só se aprende a sorrir 
 Com a verdade na boca 
 
 Quem canta uma alegria que não tem 
 Não conta nada a ninguém 
 Fala verdade a mentir 
 Cada alegria que inventas 
 Mata a verdade que tentas 
 Pois e tentar a fingir 
 
 Não cantes alegrias de encomenda 
 Que a vida não se remenda 
 Com morte que não morreu 
 Canta da cabeça aos pés 
 Canta com aquilo que és 
 Só podes dar o que é teu 
 
      josé mário branco - inquietação
A contas com o bem que tu me fazes 
A contas com o mal por que passei 
Com tantas guerras que travei 
Já não sei fazer as pazes 
São flores aos milhões entre ruínas 
Meu peito feito campo de batalha 
Cada alvorada que me ensinas 
Oiro em pó que o vento espalha 
Cá dentro inquietação, inquietação 
Ã? só inquietação, inquietação 
Porquê, não sei 
Porquê, não sei 
Porquê, não sei ainda 
Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer 
Qualquer coisa que eu devia perceber 
Porquê, não sei 
Porquê, não sei 
Porquê, não sei ainda 
Ensinas-me fazer tantas perguntas 
Na volta das respostas que eu trazia 
Quantas promessas eu faria 
Se as cumprisse todas juntas 
Não largues esta mão no torvelinho 
Pois falta sempre pouco para chegar 
Eu não meti o barco ao mar 
Pra ficar pelo caminho 
Cá dentro inqueitação, inquietação 
Ã? só inquietação, inquietação 
Porquê, não sei 
Porquê, não sei 
Porquê, não sei ainda 
Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer 
Qualquer coisa que eu devia perceber 
Porquê, não sei 
Porquê, não sei 
Porquê, não sei ainda 
Cá dentro inqueitação, inquietação 
Ã? só inquietação, inquietação 
Porquê, não sei 
Mas sei 
Ã? que não sei ainda 
Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer 
Qualquer coisa que eu devia resolver 
Porquê, não sei 
Mas sei 
Que essa coisa é que é linda 
    josé mário branco - nem deus nem senhor
A luz é tão cega
Que nunca se entrega
Só se dexa ver numa razão de ser
Sem sequer entender
Os olhos que a vão receber
E o rasto que fica
Ã? uma coisa antiga
Que a gente tem para dar
E só pode encontar
Quando volver a procurar
Salvo pelo amor
Só se pode ser salvo pelo amor
O sentido perdido.. ganhador
não tem Deus nem senhor
Esta dor
Anda a solta por aí
Que eu bem a vi
Ai se eu podesse parar
Se eu vos podesse contar
Salvo pelo amor
Não existe derrota para a dor
Com o seu capital triturador
Não tem deus nem senhor
Ã? simplesmente dor
Que o que faz questao de ser
Sem entender
que a vida toda surgiu
Dum sol que nunca se viu
Nem sei se existe 
    josé mário branco - nevoeiro
Onde vais ó caminheiro
Com o teu passo apressado
Onde vais ó caminheiro
Com o teu passo apressado
Vou ao cais do terreiro
Ver o rei Sebastião primeiro
Num lençol amortalhado
Voltou num nevoeiro
Num veleiro Sem leme nem gageiro
E de casco arrebentado
Onde vais ó caminheiro
Com o teu passo apressado
Com teus olhos em braseiro
E o teu rosto afogueado
Vou ao cais do terreiro
Ver o rei Sebastião primeiro
Por alcunha ao desejado
Voltou no seu veleiro
Nevoeiro
Sem leme nem gageiro
Num lençol amortalhado
Onde vais ó caminheiro
Com o teu passo apressado
Porque levas caminheiro
tanta pressa no cajado
Vou ao cais do terreiro
Ver o rei Sebastião primeiro
Num lençol amortalhado
Voltou no seu veleiro
Nevoeiro
Esperado primeiro
E depois desesperado
Onde vais ó caminheiro
Com o teu passo apressado
Que te traz ó caminheiro
Esse príncipe encantado
Vou ao cais do terreiro
Ver o rei Sebastião primeiro
Ã? tanto tempo esperado
Voltou no seu veleiro
Nevoeiro
Sem glória nem dinheiro
Num lençol amortalhado
Onde vais ó caminheiro
Com o teu passo apressado
Era príncipe ou sendeiro
Sebastião o desejado
Vou ao cais do terreiro
Ver o rei Sebastião primeiro
Num lençol amortalhado
Era príncipe herdeiro
Nevoeiro
O príncipe agoireiro
o príncipe mal esperado
Onde vais ó caminheiro
Com o teu passo apressado
Porque paras caminheiro
Se é Sebastião finado
Voltou no seu veleiro
Nevoeiro
leme nem gageiro
Num lençol amortalhado
Vou ao cais do terreiro,
Nevoeiro,
Pra ficar bem certeiro
De que é morto e enterrado 
    josé mário branco - o charlatao
Numa rua de má fama
 faz negócio um charlatão
 vende perfumes de lama
 anéis d'ouro a um tostão
 enriquece o charlatão
 
 
 No beco mal afamado
 as mulheres não têm marido
 um está preso, outro é soldado
 um está morto e outro f'rido
 e outro em França anda perdido
 
 É entrar, senhorias
 a ver o que cá se lavra
 sete ratos, três enguias
 uma cabra abracadabra
 
 Na ruela de má fama
 o charlatão vive à larga
 chegam-lhe toda a semana
 em camionetas de carga
 rezas doces, paga amarga
 
 No beco dos mal-fadados
 os catraios passam fome
 têm os dentes enterrados
 no pão que ninguém mais come
 os catraios passam fome
 
 É entrar, senhorias
 a ver o que cá se lavra
 sete ratos, três enguias
 uma cabra abracadabra
 
 Na travessa dos defuntos
 charlatões e charlatonas
 discutem dos seus assuntos
 repartem-s'em quatro zonas
 instalados em poltronas
 
 Pr'á rua saem toupeiras
 entra o frio nos buracos
 dorme a gente nas soleiras
 das casas feitas em cacos
 em troca d'alguns patacos
 
 É entrar, senhorias
 a ver o que cá se lavra
 sete ratos, três enguias
 uma cabra abracadabra
 
 Entre a rua e o país
 vai o passo dum anão
 vai o rei que ninguém quis
 vai o tiro dum canhão
 e o trono é do charlatão
 
 É entrar, senhorias
 a ver o que cá se lavra
 sete ratos, três enguias
 uma cabra abracadabra
 
 É entrar, senhorias
 É entrar, senhorias
 É entrar, senho... 
 
          Cds josé mário branco á Venda