MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
josé afonso - a acupunctura em odmira
Ainda bem que é verdade
Ainda bem que é mentira
A acupunctura em Odemira
Ainda bem que há quem viva
Em Odeceixe
E se peide à vontade
Na Rua Espinha de Peixe
Eu bem sei a Cergal a Super Bock
A volta ao mundo pelo Cabo de S. Roque
Em Abril àguas mil
Ponto final
Ainda bem que é para breve
O festival
Ainda bem que amanhã
É a ciclorama
E o campeonato do mundo no primeiro programa
Ainda bem que apostei no totobola
Todos os dias são santos, Dona Aurora
josé afonso - a formiga no carreiro
A formiga no carreiro
vinha em sentido contrário
Caiu ao Tejo
ao pé de um septuagenário
Lerpou trepou às tábuas (bis)
que flutuavam nas águas (bis)
e do cimo de uma delas
virou-se para o formigueiro
mudem de rumo (bis)
já lá vem outro carreiro
A formiga no carreiro
vinha em sentido diferente
caiu à rua
no meio de toda a gente
buliu abriu as gâmbeas
para trepar às varandas
e do cimo de uma delas
...
A formiga no carreiro
andava à roda da vida
caiu em cima
de uma espinhela caída
furou furou à brava
numa cova que ali estava
e do cimo de uma delas
josé afonso - os meninos nazis
O país vai de carrinho
Vai de carrinho o país
Os falcóes das avenidas
São os meninos nazis
Blusão de cabedal preto
Sapato de bico ou bota
Barulho de escape aberto
Lá vai o menino-mota
Gosta de passeio em grupo
No mercedes que o papá
Trouxe da Europa connosco
Até à Europa de cá
Despreza a ralé inteira
Como qualquer plutocrata
Às vezes sai para a rua
De corrente e de matraca
Se o Adolfo pudesse
Ressuscitar em Abril
Dançava a dança macabra
Com os meninos nazis
Depois mandava-os a todos
Com treze anos ou menos
Entrar na ordem teutónica
Combater os sarracenos
Os pretos, os comunistas
Os Índios, os turcomanos
Morram todos os hirsutos!
Fiquem só os arianos !
Chame-se o Bufallo Bill
Chegue aqui o Jaime Neves
Para recordar Wiriamu,
Mocumbura e Marracuene
Que a cruz gamada reclama
e novo o Grão-Capitão
Só os meninos nazis
Podem levar o pendão
Mas não se esquecam do tacho
Que o papá vos garantiu
Ao fazer voto perpétuo
De ir prà puta que o pariu
josé afonso - a morte saiu à rua
A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai
O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu
Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou
Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação
josé afonso - a cidade
A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.
A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.
A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
josé afonso - a mulher da erva
Velha da terra morena
Pensa que é já lua cheia
Vela que a onda condena
Feita em pedaços na areia
Saia rota subindo a estrada
Inda a noite rompendo vem
A mulher pega na braçada
De erva fresca supremo bem
Canta a rola numa ramada
Pela estrada vai a mulher
Meu senhor nesta caminhada
Nem m'alembra do amanhecer
Há quem viva sem dar por nada
Há quem morra sem tal saber
Velha ardida velha queimada
Vende a fruta se queres comer
À noitinha a mulher alcança
Quem lhe compra do seu manjar
Para dar à cabrinha mansa
Erva fresca da cor do mar
Na calçada uma mancha negra
Cobriu tudo e ali ficou
Anda, velha da saia preta
Flor que ao vento no chão tombou
No Inverno terás fartura
Da erva fora supremo bem
Canta rola tua amargura
Manhã moça ... nunca mais vem
josé afonso - a presença das formigas
A presença das formigas
Nesta oficina caseira
A regra de três composta
Às tantas da madrugada
Maria que eu tanto prezo
E por modéstia me ama
A longa noite de insónia
Às voltas na mesma cama
Liberdade liberdade
Quem disse que era mentira
Quero-te mais do que à morte
Quero-te mais do que à vida
josé afonso - achégate a mim maruxa
Achégate a mim, Maruxa
chégate ben, moreniña
quérome casar contigo
serás miña mulleriña
Adeus, estrela brilante
compañeiriña da lua
moitas caras teño visto
mais como a tua ningunha
Adeus lubeiriña triste
de espaldas te vou mirando
non sei que me queda dentro
que me despido chorando
josé afonso - adeus ó serra da lapa
Adeus ó serra da Lapa
adeus que te vou deixar
ó minha terra ó minha enxada
não faço gosto em voltar
Companheiros de aventura
vinde comigo viajar
a noite é negra a vida é dura
não faço gosto em voltar
Dou-te o meu lenço bordado
quando de ti me apartar
eu quero ir prò outro lado
não faço gosto em voltar
O meu dinheiro contado
é par quem me levar
o meu caminho está traçado
não faço gosto em voltar
Moirar a terra insegura
fugir de serra e do mar
meus companheiros de aventura
tudo farei pra salvar
josé afonso - agora
Agora a vinha é doce
Em vinha d´alhos
Agora a frívola foi-se
O matutino
Agora a vírgula vai-se
A virgindade
Agora a quinta descanta
A mocidade
Agora a a pérola não
Se vai embora
Agora vai a filha
E vai a sogra
Agora não cheirava
A rosmaninho
Agora o Bento está
Mesmo sozinho
Agora pinta a chuva
Na goteira
Agora a filha já
Não tem papeira
Agora rima o novo
Rumo ao velho
Agora sabe bem
Este sossego
josé afonso - ailé ailé
Limpa a bota
Cava na trincheira
Puxa-lhe
Pela crina
Corta as pinças
À centopeia
Põe-lhe uma pedra
Em cima
Mata a bicha
Que está bem cheia
Morde-lhe a perna
Fina
Corta a língua
Fura a traqueia
Que ela estrebucha
Ainda
Se ela assopra
Cospe-lhe à beira
Dá-lhe c´os pés
À bruta
Ninguém topa
Que é cuspideira
Salta-lhe
P´rá garupa
Tanto cavas
A cova funda
Que há-de acabar
A bicha
Põe-lhe a terra
Sobre a corcunda
R´ra não se ver
A crista
josé afonso - alegria da criação
Plantei a semente da palavra
Antes da cheia matar o meu gado
Ensinei ao meu filho a lavra e a colheita
num terreno ao lado
A palavra rompeu
Cresceu como a baleia
No silêncio da noite à lua cheia
Vi mudar estações soprar a ventania
Brilhar de novo o sol sobre a baía
Fui um bom engenheiro um bom castor
Amei a minha amada com amor
De nada me arrependo só a vida
Me ensinou a cantar esta cantiga
Feiticeira
Mãe de todos nós
Flor da espiga
Maldita para tiranos
Amorosa te louvamos
tens mais de um milhão de anos
Rapariga
Quando o lume nos aquece
No grande frio de Inverno
Vem até nós uma prece
Que assim de longe parece
Uma cantiga
Magistrada Nossa natural
Vitoriosa
Curandeira dos aflitos
Amante de mil maridos
Há mais de um milhão de idos
tormentosa
Quando a fera encarcerada
Que dentro de nós suplanta
Quebra a gaiola sozinha
Voa voa endiabrada
Uma andorinha
josé afonso - ali está o rio
Ali está o rio
Dois homens na margem estão
Um dá um passo, outro hesita
Só um se aventura outro não
Se o primeiro é destemido
Será o outro um poldrão
Do outro lado do perigo
Só um se governa outro não
Mal sobe a margem do rio
Torna-se logo um patrão
E se uma figueira dá figo
Só um come o fruto outro não
Tudo perdeu o primeiro
Só não perdeu a razão
Os dois passaram o rio
Mas só um venceu outro não
Ambos venceram o rio
"Nós", dizem todos, mas não
Ambos vencemos o rio
A mim quem me vence é o patrão
josé afonso - alípio de freitas
Baía de Guanabara
Santa Cruz na fortaleza
Está preso Alípio de Freitas
Homem de grande firmeza
Em Maio de mil setenta
Numa casa clandestina
Com campanheira e a filha
Caiu nas garras da CIA
Diz Alípio à nossa gente:
"Quero que saibam aí
Que no Brasil já morreram
Na tortura mais de mil
Ao lado dos explorados
No combate à opressão
Não me importa que me matem
Outros amigos virão"
Lá no sertão nordestino
Terra de tanta pobreza
Com Francisco Julião
Forma as ligas camponesas
Na prisão de Tiradentes
Depois da greve da fome
Em mais de cinco masmorras
Não há tortura que o dome
Fascistas da mesma igualha
(Ao tempo Carlos Lacerda)
Sabei que o povo não falha
Seja aqui ou outra terra
Em Santa Cruz há um monstro
(Só não vê quem não tem vista
Deu sete voltas à terra
Chamaram-lhe imperialista
Baía da Guanabara
Santa Cruz na fortaleza
Está preso Alípio de Freitas
Homem de grande firmeza
josé afonso - altinho
Eu quero ir para o altinho
Que eu daqui não vejo bem
Quero ir ver do meu amor
Se ele adora mais alguém
Se ele adora mais alguém
Se ele me ama a mim sozinho
Eu quero ir para o altinho
Que eu daqui não vejo bem
E a alegria duma mãe
É uma filha solteira
Casa a filha vai-se embora
Vai-se a rosa da roseira
Cds josé afonso á Venda