MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
joão de almeida neto - alma de poço
Madrugada mais lubuna mateio desprevenido
Tenho andado mal dormido com paixões demais pra um
Os meus olhos tresnoitados se voltam mesmo pra dentro
A vida põe sal na boca e o mate não mata a sede
Querência fica distante mesmo andando dentro dela
Que me importa o sol na cara se a alma não amanhece?
Não quero sonhar de novo renascer não vale a pena, ai
Alegria pouco importa quando a vida anda pequena, ai
Solidão bate no rancho já me sabe mais covarde
Vou cultivando um silêncio que vai florescendo à tarde
(Ai, ai, ai... de mim, corpo de moço,
Jeito de rio
Ai, ai, ai de mim, alma de poço,
Peito vazio
Ai, ai, ai... de mim, corpo de moço,
Jeito de rio)
Int.
joão de almeida neto - milonga da coragem
Levando o vento no peito pelo pampa onde andei
Alargando os horizontes que eu mesmo redesenhei
E os mapas que risquei a lança e ponta de adaga
Estão nas folhas dos livros que a memória não apaga
(Um dia deixei o campo porque o campo me deixou
No pasto perdi o rastro que o vento norte apagou
Morador dos corredores deixei prá trás horizontes
Herdei a fome das vilas e a quincha nua das fontes)
Um dia volto à querência para cortar sesmarias
E o novo canto da terra cantarei nas pulperias
Desgarrados, bóia-frias encontrarão nova trilha
E os direitos sonegados virão a sobre partilha
Um dia deixei o campo porque o campo me deixou
joão de almeida neto - há muito tempo é assim
Quem me vê fazendo frete
Nesse arrabalde sem fim,
Picaneando um mouro magro
Pisado dos balancins,
Não diz que eu fui fazendeiro,
Que eu tive sebo no rim,
E esta história que hoje conto,
Que é minha e de tantos outros,
Ã? mais ou menos assim.
Tive um rebanho merino
Que o velo era um camoatim,
Usava carneiro fino
Num campo que era um jardim.
A lã pegou a valer pouco,
O povo só usa brim,
Começou a escassear miâ??a renda,
Fui despovoando a fazenda,
Daí o início do fim.
Meu gado que eu cuidei tanto
Deu lucro,mas não pra mim.
Vendi mas não me pagaram,
Processei uns graxaim.
O que eu não tinha vendido
O advogado deu fim,
Ficou vazia a fazenda,
Tem dor que não se remenda
E é dessas que dói em mim.
Meu mouro marca de fisga
Deus não fabrica outro assim,
Cogote de ganso macho,
Zoreia de graxaim.
Pra não vender pro salame,
Veio também,quando eu vim,
Foi pra charrete o meu mouro,
Que antes pechava touro
Por cima dos alecrim.
E a mão pra vir pra miséria
O governo deu pra mim,
Prometeu financiamento
Com um jurinho chinfrim.
Virei meus campos de arado,
Plantei milho e amendoim,
A seca ajudou o banco,
O banco ficou com o campo
E a vila ficou pra mim.
Só conto pra que conclua
Que quem produz ta na pua,
E há muito tempo é assim.
- Letra enviada por João Antunes -
joão de almeida neto - china atrevida
Cada vez que o sol levanta traz consigo uma ansiedade
De uma china onde a saudade é o poncho da minha vida
Que china mais atrevida que sai sem avisar nada
E só vem de madrugada nestes sonhos de ilusão
O meu xucro pensamento vai sem rumo estrada afora
Pressenti chegar a hora num palpite quase certo
Meu rancho ficou deserto sem o achego da morena
Que só vive em meu poema num disfarce à solidão Bis
E assim vai passando o tempo com seus segredos
E eu no vazio dos meus pelegos espero a sorte logo chegar
Pois dentro de cada mate uma espera louca
Na bomba o gosto daquela boca e no rosto o pranto pra consolar
Pois dentro de cada mate uma espera louca
Na bomba o gosto daquela boca e no rosto o pranto pra consolar
joão de almeida neto - homem sem coragem
Eu fui no cavalo preto de acordo com a noite escura
Um pingo solto de pata que era uma formosura
Se acaso eu e meu mano fizesse alguma loucura
Que botasse a vida em jogo os pingos soltavam fogo
Do rompão das ferraduras
Meu irmão dançou com a loira e eu dancei com a morena
Sai no ouvido dela chorando que dava pena
Meu irmão também com a outra repetia a mesma cena
Nos os quatro agarradinho parecia dois barquinhos
Quando as águas são serenas
E eu disse pra minha mãe a senhora tem visita
De hoje em diante mamãe estas duas senhoritas
Lhe obedecem como sogra a terezinha e a rita
Desculpe a nossa bobagem f que homem feio e sem coragem
Não possui mulher bonita
joão de almeida neto - a primeira coxilha
Faz muito que ando na lida pintando panos de fundo
Tocando o sonho e a vida, pelas coxilhas do mundo
Desde a primeira aprendi, fosse no rumo que fosse
Que o caminho mais amargo faz a chegada mais doce
Assim se amolda o destino, ganhando e perdendo vaza
Seguindo o rastro de um sonho, que um dia fugiu de casa
Se a vida e campo dobrado puxando o sonho da gente
Do alto de uma coxilha se enxerga outra na frenteHoje me pego cantando como a vida parada
Me desse novas estrelas, numa mesma madrugada
Trazendo rimas na alma e versos que o tempo fez
Vou de coxilha em coxilha, um pouco de cada vez
Vou de coxilha em coxilha, um pouco de cada vez
O que se chama esperança e ter guardado com sigo
O calor do primeiro abraço, pra dar ao próximo amigo
A luz do primeiro sol, para o próximo verão
E o mel do primeiro beijo, para uma nova paixão
Desde a primeira coxilha, plantando rama e raiz
Só me arrependo até hoje daquilo que eu nunca fiz
Comete um erro na vila, quem pensa que envelheci
Do alto de uma coxilha a gente e sempre guri
joão de almeida neto - o pingo e a pinga
Quando a chuva pinga no meu pago
E pela estrada eu saio no meu pingo
Me apeio a procura de algum gringo
Dono de bolicho quero um trago
Bebo pinga pura mas não pago
E meto uma peleia com o gringo
Sai cara a pinga porque nem um pingo
De dinheiro na guaiaca eu trago
E quando ele me grita paga a pinga
Eu pego pelas goela o pobre gringo
E despacito, despacito a pago
(Depois na garupa eu levo a gringa
Que vai pingando pranto no meu pingo
E eu fedendo a pinga pelo pago)
joão de almeida neto - missioneira
Eu pela noite negra dos teus cabelos
Tu acendendo estrelas pra me guiar
Eu procurando a chave dos teus segredos
Tu apagando o rastro do teu olhar
Pra que rincões a vida levou teus passos
Flor das missões que vive nos sonhos meus
Como entender que um dia estando em meus braços
Com luz de sol me sorriu
E com uma voz de rio disse adeus
E é este amor que me traz assim
Peregrino em busca do teu querer
E é minha dor que jamais tem fim
Que serena os lírios no amanhecer
Linda missioneira da voz de rio
Flor que na fronteira da solidão
Me adoçou a boca e depois partiu
E amargou pra sempre meu coração
Por onde andarás, por onde andarei
Que será do amor que eu jurei por ti
Que será de ti sem o que eu te dei
Que será de mim que já te perdi
Sangra a terra vermelha dessas estradas
Arde no sal do rosto o sol do verão
E eu qual um andarilho pelas estradas
Vou maldizendo os rumos dessa paixão
Louco de amar assim teu amor selvagem
Louco de amar a imagem que eu quero bem
Sem entender que passas pela paisagem
Igual a flor de aguapé que é linda
Mas que não é de ninguém!
joão de almeida neto - razões do boca braba
(Tem gente que não entende
Que o macho, quando é bem macho,
Nem que o mundo venha abaixo
Não dispara e não se rende
Essa é a gente que se ofende
Com o meu ar de liberdade
E por inveja, e maldade
Das suas mentes macabra
Batizam de boca braba
Quem tem personalidade)
Me chamam de boca braba
Não sabem me analisar
De gênio eu sou uma cachaça
Mas de alma um guaraná
Só não me péla com a unha
Quem pretende me pelar
E depois que eu fico brabo
Não adianta me adular
(Eu sei que é em mim que deságua
Quase que cento por cento
De todo o ressentimento
Dessa gente que tem mágoa
É porque eu não bebo água
Nas orelhas dessa gente
Que adoram mostrar os dentes
E por não terem fé no taco
Vivem grudado no saco
Dos políticos influentes)
Me chamam de boca braba
Mas eu nem brabo não fico
Não desfaço quem é pobre
Nem adulo quem é rico
Quando eu gosto, eu elogio
Quando eu não gosto, eu critico
E onde tem galo cantando
Eu vou lá e quebro-lhe o bico
(O meu jeito?
Ah, o meu jeito, conforme tenho dito
Pra uns é muito bonito
Pra outros é meu defeito
Mas talvez seja o meu jeito
Que me troque de invernada
Cada um tem sua estrada
Seu lugar, seu parador
A abelha gosta da flor
A sarna, da cachorrada)
Me chamam de boca braba
Essa gente tá enganada
Eu tenho é boca de homem
E tenho opinião formada
Sei qual é a boca que explora
Sei qual é a boca explorada
E é melhor ser boca braba
Que não ter boca pra nada!
joão de almeida neto - as razoes do boca braba
(Tem gente que não entende
Que o macho, quando é bem macho,
Nem que o mundo venha abaixo
Não dispara e não se rende
Essa é a gente que se ofende
Com o meu ar de liberdade
E por inveja, e maldade
Das suas mentes macabra
Batizam de boca braba
Quem tem personalidade)
Me chamam de boca braba
Não sabem me analisar
De gênio eu sou uma cachaça
Mas de alma um guaraná
Só não me péla com a unha
Quem pretende me pelar
E depois que eu fico brabo
Não adianta me adular
(Eu sei que é em mim que deságua
Quase que cento por cento
De todo o ressentimento
Dessa gente que tem mágoa
É porque eu não bebo água
Nas orelhas dessa gente
Que adoram mostrar os dentes
E por não terem fé no taco
Vivem grudado no saco
Dos políticos influentes)
Me chamam de boca braba
Mas eu nem brabo não fico
Não desfaço quem é pobre
Nem adulo quem é rico
Quando eu gosto, eu elogio
Quando eu não gosto, eu critico
E onde tem galo cantando
Eu vou lá e quebro-lhe o bico
(O meu jeito?
Ah, o meu jeito, conforme tenho dito
Pra uns é muito bonito
Pra outros é meu defeito
Mas talvez seja o meu jeito
Que me troque de invernada
Cada um tem sua estrada
Seu lugar, seu parador
A abelha gosta da flor
A sarna, da cachorrada)
Me chamam de boca braba
Essa gente tá enganada
Eu tenho é boca de homem
E tenho opinião formada
Sei qual é a boca que explora
Sei qual é a boca explorada
E é melhor ser boca braba
Que não ter boca pra nada!
joão de almeida neto - cantor de fronteira
Quando canta um cantor de fronteira
Traz recados de vida e caminho
E se sua garganta é guerreira
Sua alma transborda carinho
Quando canta um cantor de fronteira
Não vê mapas e faz seu aparte
Irmanando parceiros de alma
Na fraterna grandeza da arte
Quando canta um cantor de fronteira
Escancara garganta e caminho
Se somando a outras vozes cantoras
Que um fronteiro não canta sozinho
Quando canta um cantor de fronteira
Louva amores que o mundo lhe deu
Mas conserva em ciumenta moldura
A fronteira que nunca esqueceu
Quando canta um cantor de fronteira
Nunca é isolada a emoção,
É uma frente de vozes erguendo
Sua gente, sua arte, seu chão
joão de almeida neto - flor de campeira
Uma milonga pachola pra se cantar a vida inteira
Tem que ser for de campeira com um laço a bate cola
Tem que falar de cavalos de tombos e gauchadas
Rodeios nas madrugadas contraponteando com os galos
Saudades da sesta boa no galpão onde eu encilho
Meu pingo quebrando milho pelas tardes de garoa
(Milonga flor de campeira de canto de pelo a pelo
Se cada verso é um sinuelo pra outro que vem de atrás)
De faceiro encilho rindo esse potro colorado
Pois quando estou bem montado até o dia fica mais lindo
Cavalo que corcoveia conheço ao meter o freio
Não tiro pra os meus arreios se for mesquinho da oreia
Eu posso ser feio assim mas quando encilho meu mouro
Falta janela no povo pras moças olharem par mim
Conheço parada feia mas peguei um malacara
Se nega o estribo dispara e se não nega corcoveia
Potro que anda gavionando eu ferro porteira afora
Me agrada de vez em quando dar comida pras esporas
Tenho um lobuno mimoso e atacado das idéias
Disparou com a minha sogra nem os corvo acharam a véia
joão de almeida neto - florêncio guerra e seu cavalo
(Florêncio afiou a faca para sangrar seu cavalo
Florêncio afiou a faca para sangrar seu cavalo
Florêncio afiou a faca para sangrar seu cavalo)
Florêncio guerra das guerras do tempo em que seu cavalo
Pisava estrelas nas serras pra chegar antes dos galos
Florêncio afiou a faca pensando no seu cavalo
Florêncio afiou a faca pensando no seu cavalo
Parceiros pelas lonjuras na calma das campereadas
Um barco em tardes serenas um tigre numa porteira
Pechando boi pelas primaveras sem mango sem nazarenas
O patrão disse a Florêncio que desse um fim no matungo
Quem já não serve pra nada não merece andar no mundo
A frase afundou no peito e o velho não disse nada
E foi afiar uma faca como quem pega uma estrada
Acharam Florêncio morto por cima do seu cavalo
Alguém que andava no campo viu o centauro sangrado
Caídos no mesmo barro voltando pra mesma terra
Que deve tanto ao cavalo e tanto a Florêncio guerra
joão de almeida neto - fogo de macho
Quando as vezes a canha me bebe
Eu me enfio pra dentro de um frasco
Pois faz parte da história do mundo
Se beber pra depois fazer fiasco
Que me importa que eu caia onde caia
De saudade de canha me ensopo
Quem se perde por um rabo de saia
Só se acha no fundo de um copo
(Porque a canha tem esta magia
Que eu não sei explicar muito bem
Ela encontra no fundo da gente
Alegrias que a gente não tem
E é por isso que eu tomo meus tragos
E pra dizer francamente o que eu acho
Não tem nada melhor do que um fogo
Pra curar um descorno de macho)
O destino daquele que canta
É uma coisa que eu nunca entendi
Ele faz alegrias pros outros
Mas não tem alegrias pra si
Eu entendo os mamau da querência
Gente buena se empedra e não mente
Só quem bebe a cachaça que paga
Perde a amarga saudade que sente
joão de almeida neto - o meu país
Um país que crianças elimina;
E não ouve o clamor dos esquecidos;
Onde nunca os humildes são ouvidos;
E uma elite sem Deus é que domina;
Que permite um estupro em cada esquina;
E a certeza da dúvida infeliz;
Onde quem tem razão passa a servis;
E maltratam o negro e a mulher;
Pode ser o país de quem quiser;
Mas não é, com certeza, o meu país.
Um país onde as leis são descartáveis;
Por ausência de códigos corretos;
Com noventa milhões de analfabetos;
E multidão maior de miseráveis;
Um país onde os homens confiáveis não têm voz,
Não têm vez,
Nem diretriz;
Mas corruptos têm voz,
Têm vez,
Têm bis,
E o respaldo de um estímulo incomum;
Pode ser o país de qualquer um;
Mas não é, com certeza, o meu país.
Um país que os seus índios discrimina;
E a Ciência e a Arte não respeita;
Um país que ainda morre de maleita, por atraso geral da Medicina;
Um país onde a Escola não ensina;
E o Hospital não dispõe de Raios X;
Onde o povo da vila só é feliz;
Quando tem água de chuva e luz de sol;
Pode ser o país do futebol;
Mas não é, com certeza, o meu país!
Um país que é doente;
Não se cura;
Quer ficar sempre no terceiro mundo;
Que do poço fatal chegou ao fundo;
Sem saber emergir da noite escura;
Um país que perdeu a compostura;
Atendendo a políticos sutis;
Que dividem o Brasil em mil brasis;
Para melhor assaltar, de ponta a ponta;
Pode ser um país de faz de conta;
Mas não é, com certeza, o meu país!
Um país que perdeu a identidade;
Sepultou o idioma Português;
Aprendeu a falar pornô e Inglês;
Aderindo à global vulgaridade;
Um país que não tem capacidade;
De saber o que pensa e o que diz;
E não sabe curar a cicatriz;
Desse povo tão bom que vive mal;
Pode ser o país do carnaval;
Mas não é, com certeza, o meu país!
Cds joão de almeida neto á Venda