MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
joão afonso - 16
Já não se mira o voo dos astros
Anda a cidade em conta-corrente
Longe do encanto longe do rio
Para onde levas o teu navio?
Quem embarque nesta corrida
Fechou em alta uma vaidade
Olho para o dia faz tanto frio
De quando em quando vou por aí
Chego de noite a compostela
Ouço distante o som dos sinos
Encontro amigos, escrevo em papéis
Em breve torno ao "dezasseis"
joão afonso - a sesta
Durmo a sesta numa curva do coqueiro
ouço a orquestra que toca para o mundo inteiro
pode ser longa a viagem no teu quarto
a miragem da cascata sobre um livro
tomo banho apenas na água da chuva
alaguei-me de amor junto ao veleiro
E fazer mais de mil versos prós amigos
e emaranhar a dor num sol de risos
De longe em longe lancei o meu arco
berço de redes aromas de quarto
fui buscar pedaços aos telhados
fui buscar pedaços aos telhados
Durmo a sesta numa curva do coqueiro
ouço a orquestra que toca para o mundo inteiro
pode ser longa a viagem no teu quarto
a miragem da cascata sobre um livro
No fim da rota cheguei a uma gruta
encontro a moça no musgo dormita
fica o som suspenso o mês inteiro
fica o som suspenso o mês inteiro
Durmo a sesta numa curva do coqueiro
ouço a orquestra que toca para o mundo inteiro
tomo banho apenas na água da chuva
alaguei-me de amor junto ao veleiro
Dançam duendes sobre um lamaçal
soltam em bolhas mais um festival
saltaricam jogos tagarelas
num banho profundo desta ria
Durmo a sesta numa curva do coqueiro
ouço a orquestra que toca para o mundo inteiro
E fazer mais de mil versos prós amigos
e emaranhar a dor num sol de risos
Durmo a sesta numa curva do coqueiro
ouço a orquestra que toca para o mundo inteiro
Durmo a sesta numa curva do coqueiro
ouço a orquestra que toca para o mundo inteiro
joão afonso - aqui em baixo
Aqui em baixo é tudo azul
o arco-íris é azul
e é azul a chuva quando molha
a minha casa está no mar
no fundo bem fundo, azul
sem fronteiras a dividir corações
Aqui em baixo é tudo azul
o meu lugar é azul
em azul até dançam as areias
só se vê estrelas no mar
num silêncio todo azul
e mais as bolhas de ar que nos rodeiam
Quando o riso tiver cor
um reflexo de calor
como pássaro liberto no teu quarto
rio amarelo interior, ondas de sal e vapor
fazem desenhos na água do teu parto
Aqui em baixo é tudo azul
a lua veste de azul
anémonas são nossas caricaturas
E se a morte for azul
E dormir no fundo mar
onde os sonos nos confiam as lembranças.
Aqui em baixo é tudo azul
o arco-íris é azul
e é azul a chuva quando molha
joão afonso - buganvília
Eu vi a buganvília a dançar na ventania
a trepar numa janela
eu vi a buganvília entre o acender da lua
e o encanto da manhã
Eu vi a buganvília de noite junto ao lago
a molhar o seu sorriso
Sonhara que morrera nos ramos da buganvília
nos tons do seu vestido
Eu vi a buganvília a fazer do teu vermelho
um bordado marinheiro
quando encontras o sol no branco da cal
te pões de amarelo
Eu vi a buganvília a dançar na ventania
a trepar numa janela
eu vi a buganvília entre o acender da lua
e o encanto da manhã
Eu vi a buganvília de noite junto ao lago
a molhar o seu sorriso
sonhara que morrera nos ramos da buganvília
nos tons do seu vestido
joão afonso - caruma
Dorme, dorme, é Janeiro
ri com o sol, com o mar
sob as folhas do loureiro
soltaste o olhar
Dorme, dorme, meu menino
ao som do kora
estrelas brancas são o caminho
no céu do Sahara
Tardes passadas no Monte
o acaso em cada uma
céu e mar no horizonte
pinhais e caruma
Rema, rema num mar verde
sem buscares morada
as ondas do mar a dizer-te
faz uma jangada
O sol no jardim da estrela
o caderno e o jornal
vai dormindo meu menino
não me leves a mal
O mundo não é pequeno
tem muito para ver
e no labirinto das ruas
não te irás perder
joão afonso - cheiro a café
Uma noite escrevi o teu nome
num café
a cafeteira adormece breve
mesmo ao pé
O mar que passa
pela vidraça
senta-se à mesa
cheira a café
Não me enjeites quando te escrevo
o que à memória me vem
contas contadas, contas da história
que a ninguém devo, a ninguém
Já não vejo razão para calar
as múrmures águas na areia
sobre a praia a maré cheia
enche toda antes de vazar
A noite dura para além da tarde
cerveja com levedura
vaga de espuma entre o meio dia
calma a garganta que arde
O tesouro no ventre do mar
não será para quem mareia
como é bom dormir, acordar
preguiçar em branca açoteia
O sentido que eu tive da vida
num café
o que foi certo para mim um dia
já não o é
O mar que passa
pela vidraça
senta-se à mesa
cheira a café
Cão vadio, cão sem raça
pela rua a vaguear
candeeiro de luz baça
café moído a exalar
À noite os casais devassam
os enigmas duma luz mansa
os sonhos idos de criança
como farrapos soltos que passam.
joão afonso - entre sodoma e gomorra
Entre Sodoma e Gomorra
entrou na cama a barata
a virginal favorita
que às escondidas me mata
São horas de perder horas
ou de minutos apenas
entre Sodoma e Gomorra
fui ver o mar a Atenas
Entre Sodoma e Gomorra
entrou na cama a barata
a virginal favorita
que às escondidas me mata
Entre Sodoma e Gomorra
somaras a minha vida
barata minha barata
não me deixes à deriva
Entre Sodoma e Gomorra
entrou na cama a barata
a virginal favorita
que às escondidas me mata
São horas de perder horas
ou de minutos apenas
entre Sodoma e Gomorra
fui ver o mar a Atenas
joão afonso - eu não sei que faz o sol
Eu não sei que faz o sol
que não dá na minha rua
hei-de me vestir de branco
que de branco anda a lua
Não vi ribeira sem água
nem praça sem pelourinho
nem donzelas sem amores
nem padres sem beber vinho
Lindos olhos de pau preto
nariz de pena aparada
dentes de letra miúda
boca de carta cerrada
Lindos olhos tem a cobra
quando olha de repente
mais vale um bom desengano
que andar enganado sempre
joão afonso - fugir com o cientista
Estaremos juntos separados como amantes
nesta viagem com água sem retorno
entre as queimadas vento norte viajante
é o cacimbo africano Moçambique
Ao terraço e à varanda do avô
passeios da dimensão do anarquista
ao teatro ao professor à fantasia
no matope um sono de marimbas
Limpidez das areias, tem
em teias de caniço
fugir com o cientista, tem
estrelas a perder de vista
São trovoadas que caem no capim
o som do zinco o sentido às caminhadas
passos compridos e a voz dos velhos sábios
são a memória da sombra das acácias
Ondas que cavam as areias do Bilene
e as histórias que contava José Bila
ventos parados ao subir às papaieiras
e a maravilha do canto do magaíça
Limpidez das areias, tem
em teias de caniço
fugir com o cientista, tem
estrelas a perder de vista
joão afonso - morrer em zanzibar
As Histórias que contavas lá da aldeia
a bola no telhado da vizinha
o branco no amarelo da eira
e a calça sem bainha
A varanda e a calça sem bainha
a semana
na baía a pesca à linha
a vizinha, o que querias da montanha
Que pensamento querias da montanha
fugiste um dia p´ra Kilimanjaro
seria o jeito sábio dum cocoana
a falar sob um céu claro
a marimba, a falar sob um céu claro
a madeira, de pau preto um aparo
a montanha
vou de boleia em boleia
Agora vou de boleia em boleia
agora vou voltar a ser menino
parar, ouvir silêncios sobre a areia
visitar-te em S. Francisco
Sobre a areia, visitar-te em S. Francisco
lua cheia
a subir tudo o que lembro
a gavinha, numa noite de Dezembro
Deixaste o sol na praia de Inhambane
no cais da ponte o dia do vapor
amigos que p´ra longe a pátria bane
num retrato de esplendor
Ventoinha, num retrato de esplendor
cazuarina, quinino saga e calor
a cantina
com o sabor ,o leitor
e fico com o sabor das leituras
percorro a vossa esteira pelo mar
com um baú de histórias de aventuras
vou morrer em Zanzibar
joão afonso - na machamba
Mariana Maria Madalena
Mariana Maria Madalena
Por ti meu amor dou dois xi-coração
Por ti meu amor dou dois xi-coração
Mariana Maria Madalena
Mariana Maria Madalena
Por ti meu amor dói-dói meu coração
Por ti meu amor dói-dói meu coração
Desde que você foste embora
sono não tem, não não não
acorda na madrugada
o galo cantando co ri cô cô
nos olhos sono que pesa
maningue saudade no coração
nos olhos sono que pesa
maningue saudade no coração
Mariana Maria Madalena
Mariana Maria Madalena
Por ti meu amor dou dois xi-coração
Por ti meu amor dou dois xi-coração
Mariana Maria Madalena
Mariana Maria Madalena
Por ti meu amor dói-dói meu coração
Por ti meu amor dói-dói meu coração
Pé no cacimba vou na machamba
sem matubixo
panela de mangungu não tem
chicafo, não não não
Ô ô i ô Maria meu amor
quando qu´eu zangou
eu tinha era só babalaza
quando qu´eu zangou
eu tinha era só babalaza
Mariana Maria Madalena
Mariana Maria Madalena
Por ti meu amor dou dois xi-coração
Por ti meu amor dou dois xi-coração
Mariana Maria Madalena
Mariana Maria Madalena
Por ti meu amor dói-dói meu coração
Por ti meu amor dói-dói meu coração
joão afonso - paz de santiago
Bebo tus ojos
beso tus labios
te respiro
Beso tus ojos
bebo tus labios
te rehablo
Paz peregrina
de Santiago
Ave de paso
Canto que vuela
Bebo tus ojos
En el ocaso
Bebo tus ojos
beso tus labios
te respiro
Beso tus ojos
bebo tus labios
te rehablo
Paz peregrina
de Santiago
Luna viajera
Ave de paso
Canto que vuela
Bebo tus ojos
En el ocaso
Louca ternura
Beso tus labios
Bebo tus ojos
Paz de Santiago
joão afonso - rio das pérolas
Na orla de olhar salino
o junco rasga o caminho
no rio das pérolas um ponto sem fundo
dá força à tranquila montanha
No porto os tancares aguardam o mundo
como se ocultassem segredos nas águas
no rio das pérolas um ponto sem fundo
dá força à tranquila montanha
Cisma no deserto d´olhar peregrino
um rapaz atrás da lua
soluço das ondas que o farol envia
e a cor que a luz refugia
Despida a noite a copa dos sonos
É de barro a última palavra
no rio das pérolas um ponto sem fundo
dá força à tranquila montanha
Nos sulcos do mar de prata
Vai um barco viageiro
Tem por destino a distância
O vento que sopra é timoneiro
Na trança a figura do mundo antigo
saudades colinas do velho farol
no rio das pérolas um ponto sem fundo
dá força à tranquila montanha
Chove nas vidraças, jogos inventados
à beira dum mundo novo
soluço das ondas que o farol vigia
e a cor que a luz refugia
Farol da guia ensina a noite
à linda tancareira a remar
no rio das pérolas um ponto sem fundo
dá força à tranquila montanha
Vinte léguas o circundam
de esperar pela maré cheia
brilha o sol em hora e meia
e um rapaz atrás da lua
sentado num guarda-chuva
voa o peixe na banheira
e a canção é das torneiras
do coração das sereias
joão afonso - s simão
Em Castela há um santo que se chama S. Simão
onde vão frades e freiras ouvir a missa e sermão;
e também D. Maria, das mais altas que lá vão.
Ao entrar para a igreja sete frades namorou;
o que estava a dizer missa logo para trás olhou;
o que mudou o missal sete folhas lhe rasgou;
o que dava as galhetes todo o vinho lhe arramou;
e o que tocava o sino do campanário saltou;
quebrava sete costelas e um braço deslocou!
Mal haja a D. Maria e mais quem na cá passou;
em tão poucochinho tempo tento mal ela causou!
joão afonso - tangerina dos algarves
Tenho uma rosa p´ra ti
Tenho uma rosa encarnada
Tenho uma rosa no mar
Tenho uma rosa molhada
Circula a noite no tempo
sobre as nossas gargalhadas
Tenho uma rosa p´ra ti
Tenho uma rosa encarnada
Vou sonhar com o teu olhar
oceano de água e mar
Vou fugir com o teu olhar
oceano de água e mar
sobre o mistério
Em castelos de areia
eu escrevi o nome ao lado
foi por ti que conheci
a tangerina dos Algarves
Gira o Sol atrás da serra
Com cheiro a funcho queimado
E este abanão duma vaga
que chega sem avisar
Vinho rubro a navegar
Por segredos do universo
Desfolho a rosa no rio
para te oferecer com um verso
Vou sentir o teu sabor
oceano de água e mar
Vou sentir com o teu sabor
oceano de água e flor
de tangerina
Em castelos de areia
eu escrevi o nome ao lado
foi por ti que conheci
a tangerina dos Algarves
Cds joão afonso á Venda