MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
jessier quirino - a triste partida
A triste seca já rodou
E a asa branca agorou e já bateu a asa,
Plantação de fruta no oitão de casa,
O chão em brasa e a triste seca já rodou (2x)
O arco-iris, sopre o vento colorido
Que o verde do teu vestido,
Se espalhe na plantação.
Que o amarelo seja puro e adoçicado,
E que a brancura seja a cor da afloração.
E que o vermelho sejam flores parecidas,
Com os beiçinhos das lusiadas,
Cabloquinhas do sertão.
Que não se veja,
Um sertanejo se ajoelhando,
Pedindo chuva, perante Cristos sonolentos.
Que não se veja um solo rachado e sedendo,
E sem sustento, as vezes se ajoelhando.
Que não se veja bararuna jejuando,
Chorando folha numa paisagem cinzenta.
Que não se veja fila de latas sedentas,
Salário d'água matando a sede, matando.
O arco-iris, sopre o vento colorido
Que a fita do teu vestido,
Faça uma festa de cor.
Eu quero ver resina de catingueira,
Ser o chiclete na boca do meu amor.
E que a sanfona toque o xote na colheita,
Pra dança das borboletas, enfeitadeiras de flor 2x)
jessier quirino - comicio em beco estreito
"Pra se fazer um comício
Em tempo de eleição
Não carece de arrodei
Nem dinheiro muito não
Basta um F-4000
Ou qualquer mei caminhão
Entalado em beco estreito
E um bandeirado má feito
Cruzando em dez posição.
Um locutor tabacudo
De converseiro comprido
Uns alto-falante rouco
Que espalhe o alarido
Microfone com flanela
Ou vermelha ou amarela
Conforme a cor do partido.
Uma ganbiarra véa
Banguela no acender
Quatro faixa de bramante
Escrito qualquer dizer
Dois pistom e um taró
Pode até ficar melhor
Uma torcida pra torcer
Aí é subir pra riba
Meia dúzia de corruto
Quatro babão, cinco puta
Uns oito capanga bruto
E acunhar na promessa
E a pisadinha é essa:
Três promessa por minuto.
Anunciar a chegança
Do corruto ganhador
Pedir o "V" da vitória
Dos dedo dos eleitor
E mandar que os vira-lata
Do bojo da passeata
Traga o home no andor.
Protegendo o monossílabo
De dedada e beliscão
A cavalo na cacunda
Chega o dono da eleição
Faz boca de fechecler
E nesse qué-ré-qué-qué
Vez por outra um foguetão.
Com voz de vento encanado
Com os viva dos babão
É só dizer que é mentira
Sua fama de ladrão
Falar dos roubo dos home
E tá ganha a eleição.
E terminada a campanha
Faturada a votação
Foda-se povo, pistom
Foda-se caminhão
Promessa, meta e programa...
É só mergulhar na Brahma
E curtir a posição.
Sendo um cabra despachudo
De politiquice quente
Batedorzão de carteira
Vigaristão competente
É só mandar pros otário
A foto num calendário
Bem família, bem decente:
Ele, um diabo sério, honrado
Ela, uma diaba influente
Bem vestido e bem posado
Até parecendo gente
Carregando a tiracolo
Sem pose, sem protocolo
Um diabozinho inocente".
jessier quirino - a cumeeira de aroeira lá da casa grande
Oh! cumeeeira de aroeira dessa casa-grande
Veja e nos mande uma visão dessa velha morada
Sendo a parada retilínea do telhado em quedas
Não te arredas dessa empena tão estruturada
Sois a chegada de telheiro, ripa e caibaria
Hospedaria de pavôes, corujas e pardais
Nos teus anais e cabedais de vida em cumeeira
Diz aroeira - dessa casa - o que enxergas mais?
- Pelas janela e portais lá da sala da frente
Vejo contentes e voantes espreguiçadeiras
Relaxadeiras de alpendre junto à rede armada
Lonas listradas, cores-vivas, vidas de cadeira
As choradeiras de avencas pendem dos frechais
E os fuás das trepadeiras jasmineiras voam
Blusas magoam com bateres as saias das portas
E vejo as hortas de verduras que nos afeiçoam.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.
Vejo o cimento avermelhado do piso da sala
E nesta sala quatro portas e quatro janelas
Cor amarela combinando com retrato antigo
E pouco artigo de mobília se avista nela
Uma janela abre as asas por cima dum cofre
Atrás do cofre inclinado: rifle e mosquetão
Um birozão de escritório, uma banca de rádio
E junto ao rádio uma cadeira balança no chão.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa grande.
A sala interna sem janelas vive apenumbrada
Iluminada pelas frechas vindas do telhado
O decorado do bufê é uma ceia-larga
E se alarga grande mesa de pau trabalhado
De lado a lado, quatro portas, uma a cada quarto
Sala de parto dos bruguelos por ali nascidos
Vejo o florido de lençóis, de redes e armários
E os sanitários de penicos neles escondidos.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.
Segue o comprido estendido da sala do meio
No arrodeio rumo ao fundo grande petisqueiro
O quarteleiro de comidas, louças e talheres
Onde mulheres abrem e fecham pelo dia inteiro
Alvissareiro é o vão que surge mais adiante
A confortante copa-grande junto da cozinha
Sala-rainha, mesa farta, tamanho banquete
Com tamboretes, bancos largos, banca de quartinha.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.
Vem a cozinha festa em festa pelo dia inteiro
Um verdadeiro alegreiro de se cozinhar
O esquentar de um fogão de lenha braseado
E outro fogão de ferro inglês de branco cintilar
Tem o abrir e o fechar do móvel azul pintado
Amorcegado de canecos, conchas e peneiras
A paneleira aramada pende na parede
E mata a sede o pote frio na porta traseira.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.
Meias paredes me permitem essa visão de encanto
Em cada canto um armador e rede ali dobrada
Tampa curvada de baús e luz de candeeiros
E o padroeiro em oratório de vida velada
As alpendradas lado a lado, não consigo vê-las
Meias-paredes se esbarram no caixão da casa
Mas são terraços com arreios, silos e ferretes
Nos pilaretes as gaiolas com mimos de asa.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.
Em campo aberto de quintal, ciscados de terreiro
O galinheiro estaqueado de varas ao fundo
Meio oriundo da cozinha segue uma puxada
E a batucada do pilão de segundo a segundo
Vejo cisternas e tonéis de interno cimentado
Que são represas pros banhados canecos de flandre
O sanitário é um chalezinho lá no fim da casa
Visto daqui da cumeeira desta casa-grande.
jessier quirino - vou me embora pro passado
Vou-me embora pro passado
Lá sou amigo do rei
Lá tem coisas "daqui, ó!"
Roy Rogers, Buc Jones
Rock Lane, Dóris Day
Vou-me embora pro passado.
Vou-me embora pro passado
Porque lá, é outro astral
Lá tem carros Vemaguet
Jeep Willes, Maverick
Tem Gordine, tem Buick
Tem Candango e tem Rural.
Lá dançarei Twist
Hully-Gully, Iê-iê-iê
Lá é uma brasa mora!
Só você vendo pra crê
Assistirei Rim Tim Tim
Ou mesmo Jinne é um Gênio
Vestirei calças de Nycron
Faroeste ou Durabem
Tecidos sanforizados
Tergal, Percal e Banlon
Verei lances de anágua
Combinação, califon
Escutarei Al Di Lá
Dominiqui Niqui Niqui
Me fartarei de Grapette
Na farra dos piqueniques
Vou-me embora pro passado.
No passado tem Jerônimo
Aquele Herói do Sertão
Tem Coronel Ludugero
Com Otrope em discussão
Tem passeio de Lambreta
De Vespa, de Berlineta
Marinete e Lotação.
Quando toca Pata Pata
Cantam a versão musical
"Tá Com a Pulga na Cueca"
E dançam a música sapeca
Ô Papa Hum Mau Mau
Tem a turma prafrentex
Cantando Banho de Lua
Tem bundeira e piniqueira
Dando sopa pela rua
Vou-me embora pro passado.
Vou-me embora pro passado
Que o passado é bom demais!
Lá tem meninas "quebrando"
Ao cruzar com um rapaz
Elas cheiram a Pó de Arroz
Da Cachemere Bouquet
Coty ou Royal Briar
Colocam Rouge e Laquê
English Lavanda Atkinsons
Ou Helena Rubinstein
Saem de saia plissada
Ou de vestido Tubinho
Com jeitinho encabulado
Flertando bem de fininho.
E lá no cinema Rex
Se vê broto a namorar
De mão dada com o guri
Com vestido de organdi
Com gola de tafetá.
Os homens lá do passado
Só andam tudo tinindo
De linho Diagonal
Camisas Lunfor, a tal
Sapato Clark de cromo
Ou Passo-Doble esportivo
Ou Fox do bico fino
De camisas Volta ao Mundo
Caneta Shafers no bolso
Ou Parker 51
Só cheirando a Áqua Velva
A sabonete Gessy
Ou Lifebouy, Eucalol
E junto com o espelhinho
Pente Pantera ou Flamengo
E uma trunfinha no quengo
Cintilante como o sol.
Vou-me embora pro passado
Lá tem tudo que há de bom!
Os mais velhos inda usam
Sapatos branco e marrom
E chapéu de aba larga
Ramenzone ou Cury Luxo
Ouvindo Besame Mucho
Solfejando a meio tom.
No passado é outra história!
Outra civilização...
Tem Alvarenga e Ranchinho
Tem Jararaca e Ratinho
Aprontando a gozação
Tem assustado à Vermuth
Ao som de Valdir Calmon
Tem Long-Play da Mocambo
Mas Rosenblit é o bom
Tem Albertinho Limonta
Tem também Mamãe Dolores
Marcelino Pão e Vinho
Tem Bat Masterson, tem Lesse
Túnel do Tempo, tem Zorro
Não se vê tantos horrores.
Lá no passado tem corso
Lança perfume Rodouro
Geladeira Kelvinator
Tem rádio com olho mágico
ABC a voz de ouro
Se ouve Carlos Galhardo
Em Audições Musicais
Piano ao cair da tarde
Cancioneiro de Sucesso
Tem também Repórter Esso
Com notícias atuais.
Tem petisqueiro e bufê
Junto à mesa de jantar
Tem bisqüit e bibelô
Tem louça de toda cor
Bule de ágata, alguidar
Se brinca de cabra cega
De drama, de garrafão
Camoniboi, balinheira
De rolimã na ladeira
De rasteira e de pinhão.
Lá, também tem radiola
De madeira e baquelita
Lá se faz caligrafia
Pra modelar a escrita
Se estuda a tabuada
De Teobaldo Miranda
Ou na Cartilha do Povo
Lendo Vovô Viu o Ovo
E a palmatória é quem manda.
Tem na revista O Cruzeiro
A beleza feminina
Tem misse botando banca
Com seu maiô de elanca
O famoso Catalina
Tem cigarros Yolanda
Continental e Astória
Tem o Conga Sete Vidas
Tem brilhantina Glostora
Escovas Tek, Frisante
Relógio Eterna Matic
Com 24 rubis
Pontual a toda hora.
Se ouve página sonora
Na voz de Ângela Maria
"? Será que sou feia?
? Não é não senhor!
? Então eu sou linda?
? Você é um amor!..."
Quando não querem a paquera
Mulheres falam: "Passando,
Que é pra não enganchar!"
"Achou ruim dê um jeitim!"
"Pise na flor e amasse!"
E AI e POFE! e quizila
Mas o homem não cochila
Passa o pano com o olhar
Se ela toma Postafen
Que é pra bunda aumentar
Ele empina o polegar
Faz sinal de "tudo X"
E sai dizendo "Ô Maré!
Todo boy, mancando o pé
Insistindo em conquistar.
No passado tem remédio
Pra quando se precisar
Lá tem Doutor de família
Que tem prazer de curar
Lá tem Água Rubinat
Mel Poejo e Asmapan
Bromil e Capivarol
Arnica, Phimatosan
Regulador Xavier
Tem Saúde da Mulher
Tem Aguardente Alemã
Tem também Capiloton
Pentid e Terebentina
Xarope de Limão Brabo
Pílulas de Vida do Dr. Ross
Tem também aqui pra nós
Uma tal Robusterina
A saúde feminina.
Vou-me embora pro passado
Pra não viver sufocado
Pra não morrer poluído
Pra não morar enjaulado
Lá não se vê violência
Nem droga nem tanto mau
Não se vê tanto barulho
Nem asfalto nem entulho
No passado é outro astral
Se eu tiver qualquer saudade
Escreverei pro presente
E quando eu estiver cansado
Da jornada, do batente
Terei uma cama Patente
Daquelas do selo azul
Num quarto calmo e seguro
Onde ali descansarei
Lá sou amigo do rei
Lá, tem muito mais futuro
Vou-me embora pro passado
jessier quirino - a morrença dos meus cumpade
(ninguém sabe se a morte é virgula, ponto-e-vírgula ou ponto final
No interior, quando morre um ?cumpade?,
Mas desses ?cumpade? de alma boa e manso viver,
Aí o matuto, lamentando essa perda, diz:
?a morte é um doido limpando mato?
"a morrença dos meus cumpade? trata dessa edição de capa dura da vida)
Mas como é que pode?
Dois caba tá vivo,
Forgoso, garboso,
Da vida se rir!
Os coro da testa sem nunca franzir,
Disposto na luta,
Lutando com pente,
Sem mesmo dar canso de ser um vivente,
Um corre pro sul mó de ?podregir?,
O outro ?pogrede? mesmo por aqui
A morte carrega os dois indivíduo,
Dá uma descurpa:
?morreu por derito,
O outro, coitado, morreu de nuí.?
Cumpade ?coitim? bateu a biela,
Sem ?frei? nas estrada, em riba dum fó.
Pedim defuntou-se no ?mei? dum forró,
Honório pifou com a mão na bainha,
Quem enviuvou gorete e ritinha,
Foi joão ?cascaver? e bento cotó
Bié de zé tôta fechou o paletó,
Mudou-se pro céu cumpade biliu,
Cumpade zé danta ninguém nunca viu,
Mas dizem que foi-se daqui pra ?mió?.
Quem bateu as bota foi zé bacamarte,
Findou-se de vez cumpade zulu,
Quem empacotou-se com tanta pitu
Foi pinga, meloso, meota e topada.
Ginura já tava na última morada
Quando pediu baixa o vaqueiro zebu
Foi pro beleléu nas bandas do sul
Veúca, moreno, ponez e zezim
Mimosa se foi que nem ?passarim?
Baixou sete palmos, luis do exu
Deu uma roleta lá no meio da feira,
Juntou-se um bocado com seu criador
Deu adeus ao mundo mané vendedor
Foi chegada a hora de biu das jumenta
Foi pro rol dos bom, cumpade pimenta
Biu ?pedo? firmino por fim descansou
Disseram que nino também ?botoou?
Sargento já foi promovido a defunto
Tiraram cirila de lá de pé junto
Perdi meu cumpade,
Não sei quando eu vou
jessier quirino - miss feiúra nenhuma
MISS FEIÃ?RA NENHUMA
Miss feiúra nehuma
Bonitamente falando
O nome dela era Miss
Nomezinho portátil para tanto porte
Só tinha mesmo um defeito:
Uma marca de vacina, no braço.
Tipo mulher, mulheraço
Belezona de engolir festa
Por onde passava
Todos ligavam os seus risores
Mulheres, meninos, senhores
Os cabras bestas, cabrabestavam-se todos
Contaminavam-se todos
Com o perpétuo chingoso do seu ferrão
Rebolandíssimamente
De sapequisse matreira
Parecia uma forrageira
De triturar atenção
Nunca se viu tanta bundalidade
Ou mesmo nada tão fêmeo
Arte tão divinatória
Do mulherame seleto,
Parecia ser o derradeiro caroço
Desalvoroçava qualquer alvoroço
Alvoroçadamente, falavam Zé de Cazuza, e o mestre Chico Dedêz
Eu vou dizer para vocês
Pense numa nega boa
Ela é muito mais que um Seiko
Muito mais que um Orient
Ã? bem dizer, um Omega, um Rolex de pessoa
O corpo dessa danada é mesmo que tititi
E um punhado de milho no galinheiro da gente
Ã? bicha do rabo quente!
Ã?i, nem que eu tivesse dois â??rim'
Dois â??pulmão', dois â??intistino'
Um mais grosso e â??oto' fino
E dois â??peitão' na titela
Eu num dava conta dela
Eu sou do mato, menino!
E... pro caboclo do mato
Paixão num existe não?
Ora bom basta... deixe estar...
â??Cunverseiro' de paixão é combustão de poeta
O cabra vira é pateta
Porque falta o â??principá'
O dólar, o circulante, a bufunfa,
O â??vi metá', o â??tustãozin', o montante,
O bronze, a â??pila', o â??reá', a â??caitolina',
O arame, o bago, a renda,
O â??jeton', o pé-de-meia, a maniva,
O â??cifrãozin' na saliva, o bagarote e o bom,
A bolada, o tutuzinho, a pataca no â??borná'
O caroço, o numerário, o â??burrachudo',
O â??cacá', o â??checão' baixando a ripa
Zé â??papé' no
Dinheirama e â??capitá'
Nessa â??cunversinha' bela vai liso pra riba dela
â??Pá' tu vê o que é que dá
Tu sai de lá é lascado que nem um pau de puleiro
â??Inda' leva um cacete, uma multa, uma vaia
E mais um par de â??cangaia' â??pá' deixar dessa doidice
De quando ver uma miss pensar em se apaixonar.
jessier quirino - paisagem de interior
Matuto no meio da pista
menino chorando nu
rolo de fumo e beiju
colchão de palha listrado
um par de bêbo agarrado
preto véo rezador
jumento, jipe e trator
lençol voando estendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
três moleque fedorento
morcegando um caminhão
chapéu de couro, gibão
bodega com sortimento
poeira no pé do vento
tabuleiro de cocada
banguela dando risada
das prosa dum cantador
buchuda sentindo dor
com o filho quase parido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Bêbo lascano a canela
escorregando na fruta
num batente, uma matuta
areando uma panela
cachorro numa cadela
se livrando das pedrada
ciscador, corda e enxada
na mão do agricultor
no jardim, um beija-flor
num pé de planta florido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Mastruz e erva cidreira
debaixo de jatobá
menino quereno olhar
as calça da lavadeira
um chiado de porteira
um fole de oito baixo
pitomba boa no cacho
um canário cantador
caminhão de eleitor
com os voto tudo vendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Um motorista cangueiro
e um jipe chêi de batata
um balai de alpercata
porca gorda no chiqueiro
um camelô trambiqueiro
aveloz, lagartixa
bode véio de barbicha
bisaco de caçador
um vaqueiro aboiador
um bodegueiro adormecido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Meninas na cirandinha
um pula corda e um toca
varredeira na fofoca
uma saca de farinha
cacarejo da galinha
novena no mês de maio
vira-lata e papagaio
carroça de amolador
fachada de toda cor
um bruguelim desnutrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Uma jumenta viçando
jumento correndo atrás
um candeeiro de gás
véi na cadeira bufando
rádio de pilha tocando
um choriço, um manguzá
um galho de trapiá
carregado de fulô
fogareiro, abanador
um matador destemido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Um soldador de panela
debaixo da gameleira
sovaqueira, balinheira
uma maleta amarela
rapariga na janela
casa de taipa e latada
nuvilha dando mijada
na calçada do doutor
toalha no aquarador
um terreiro bem varrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Um forró pé de serra
fogueira, milho e balão
um tum-tum-tum de pilão
um cabritinho que berra
uma manteiga da terra
zoada no mei da feira
facada na gafieira
matuto respeitador
padre prefeito e doutor
os home mais entendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
jessier quirino - virgulino lampião deputado federá
Seus Dotôres Deputado
falo sem tutubiá
pra mostrá que nós matuto
sabe se pronunciá
dizê que ta um presídio
com dó e matuticídio
a vida nesse lugá
O Brasí surgiu de nós
nós tudo que vem da massa
deram um nó no mêi de nós
que nós desse nó não passa
e de quatro em quatro ano
vem vocês com o veio plano
desata o nó e se abraça
Tamo chêi dessa bostice
de promessa e eleição
dos que vem de vem em quanto
se rindo, estendeno a mão
candidato a caloteiro
aprendiz de trapaceiro
corruto, falso e ladrão.
A coisa ta enveigada
ta ruim de devenveigá
meu sistema neuvosíssimo
vejo a hora se estorá
se estóra eu não engano
cuma diz o americano
na matança eu tem norrá.
Quero que vocês refrita
o falá da minha fala
pelo cano do revóve
magine o tamãe da bala.
Vocês que véve arrimado
nas bengala do podê
dou um chuto na bengala
mode alejado corrê
dou dedo, faço munganga
canto Ouvira do Ypiranga
e mando tudo se fudê.
Acunho logo a tramela
nas porta da corrução
toco fogo na lixeira
e passo de mão em mão
corto língua de quem mente
quebro três ou quatro dente
dos Deputado risão.
Político que come uva
em plena safra de manga
vai pra lei dos desperdiço
nas faca dos meus capanga.
Se eu der um tiro no mato
e bater num marinheiro
é porque tem mais honesto
do que cabra trambiqueiro
diante dessa nutiça
não haverá injustiça
é a lei dos cangaceiro.
Os deputado bom de pêia
eu tiro o ?W? do nome
tiro vírgula dos discurso
reticença e pisilone
sapeco lei pra matuto
meto bala nesses puto
e um viva no microfone.
Matuto que tem saúde
pro trabaio ele é capaz
nós se vira, arruma água
as sementes e o preço em paz
não vai sê protecionismo
é a lei do Nordestinismo
dos Problemas Matutais.
Debuiado este discurso
pros Dotôre e Deputado
ta dizido minha meta
pra cem bilhão de roçado
depois não venham dizê
que foi golpe de pudê
proque não foram avisado
Partido dos Cangaceiro
o PC dos natura
pela lei da ignorança
do Congresso Federá
assinado Capitão
Virgulino Lampião
Deputado Federá.
jessier quirino - voltando pro nordeste
Seu motorista, siga pro nordeste
Que eu sou cabra da peste, quero ver o meu xodó
Mas na carreira, não passe de uma centena,
Ligue o rádio, puxe a antena,
Sintonize num forró
Daqui pra frente são três dias de viagem,
Eu já to vendo miragem
É a saudade matadeira
Sinto o balanço da minha rede amarela,
Quando o carro na banguela embiloca na ladeira
Nesse balanço eu sinto cheiro de cachaça,
De rolinha com fumaça, cheiro quente de beiju
Ouço o ciscado do frango de capoeira,
Dos pinto na piadeira,
Mugido de boi-zebu
Eu tô sentindo cheiro azedo de ?coaiada?,
Cheiro bom de tripa assada subindo do fogareiro
Escuto o berro da ?oveia? desgarrada,
Chocaiado da boiada,
Aboio do boiadeiro,
Escuto o choro dos meninos arengando,
Só tem doze se criando e a tudim eu quero bem
Não vejo a hora de chegar naquela sala
De abrir a minha mala, distribuir os terém
Seu motorista, lá no fim desse asfalto
O senhor pare que eu salto
Que minha goela deu um nó
Tá vendo aquela dentro daquela rede amarela?
Adivinhe quem é ela
Ela é o meu xodó
jessier quirino - o imposto do cupido
Nos braços da minha amada
Sou um inventor de carinho
"Taqualmente" um bem-te-vi
Me mando um leite de vizinho
Eu chega fico alesado
Feito um bacorim mamado
Pro riba dos bacorinho
Ã? aquele enganchamento
De perna, de boca e mão
Aquele agrado de coxa
Ã? aquela alisação
E, se acaso, ela der sopa,
Descascadinha de roupa,
Vixe Maria, sei não!
O falar da minha amada
Ã? aquele meio-tom
Aquela vozinha fofa
Que nem o talco Pom-Pom
Na orelha desse ouvido
Ã? aquele sustenido
Fazendo cochicho bom
Meu peso sem gravidade
Me manera vento afora
Eu, em formato de doido,
Esqueço o dia e a hora
E se ela disser: "Menino!
Vambora fazer menino?"
Menino, eu, digo, vambora!
O imposto do cupido
Eu pago só o varejo
Aparecendo o fiscal
Declaro dois ou três beijos
E sonego o apurado
Chamego do furioso
Os fósforo que acende a chama
Palavreado de cama
Os apelido dengoso
Os meus saldos de balanço
"Corrochiado" em gracejos
E a viva "fiscaiada"
Se multar a minha amada
Tá multando meus desejos
jessier quirino - zé qualquer e chica boa
Empurra a cancela Zé
Abre o curral da verdade
Pra mostrar pra mocidade
Como é que vive um Zé
Sem um conforto sequer
Com sua latas furadas
E a cacimba tão distante
Um Zé arame farpante
Feito de gente e de fé.
O Zé que se aprisiona
Aos cacos velhos da enxada
Que nasce herdeiro do nada
E qualquer lado é seu caminho
Medalhas, são seus espinhos
Quedas de bois são batalhas
Seus braços, duas cangalhas
De taipa e barro é seu ninho.
O Zé metido em gibão
Numa besta atrás dum boi
Por entre as juremas pretas
Por onde o bicho se foi
A poder de grito e ois
Peitando graveto torto
Um dos três vai sair morto
Ou ele, a besta ou o boi.
É cabôco elefantado
Que não tem medo de cruz
Que fita o sol faiscando
Dez mil peixeiras de luz
O Zé que assim se conduz
Nas brenhas deste sertão
O Zé Ninguém, Zé Qualquer
Mas o Qualquer desse Zé
Não é qualquer qualquer não.
É um Qualquer niquelado
Acabestrado num Zé
Não é Zé pra qualquer nome
Nem Qualquer pra qualquer Zé
Diante desses apois
Eu vou dizer quem tu sois
Pode escrever se quiser:
Sois argumento de foice
Sois riacho correntoso
Tu sois carquejo espinhoso
Sois calo de coronel
Sois cor de barro a granel
Sois couro bom que não mofa
Sois um doutor sem farofa
Sem soqueira de anel.
Sois umbuzeiro de estrada
Sois ninho de carcará
Sois folha seca, sois galho
Sois fulô de se cheirar
Sois fruto doce e azedo
Sois raiz que logo cedo
Quer terra pra se enfiar.
No inverno sois caçote
Espelho de céu no chão
Chorrochochó de biqueira
Espuma de cachoeira
Sois lodo, sois timbungão
Sois nuvem quebrando a barra
Violino de cigarra
Afinando a chiação.
Sois bafo de cuscuzeira
Sois caldo de milho quente
Sois a canjica do milho
Sois milho pessoalmente
Tu sois forte no batente
Tu sois como milho assado
Se não for bem mastigado
Sai inteirinho da gente.
Tu desarruma as tristezas
Caçando uma risadinha
Sois doido, doido tu sois
Tu sois um baião-de-dois
Tu sois pirão de farinha
Sois bruto que se ameiga
No amor tu sois manteiga
Numa creamecrackerzinha.
Sois um Zé Qualquer do mato
Provador de amargor
Tu sois urro, sois maciço
Devoto do padre Ciço
Sois matuto rezador
O Zé Qualquer em pessoa
Marido de Chica Boa
O teu verdadeiro amor.
É Francisca Caliméria
Feliciana Qualquer
Chica Boa é apelido
Pode chamar quem quiser
Mas digo as outras pessoas
Não digam que Chica "É" boa
O cabra que assim caçoa
Vê direitim quem é Zé.
jessier quirino - agruras da lata d água
...E eu que fui enjeitada
Só porque era furada.
Me botaram um pau na boca,
Sabão grudaram no furo,
Me obrigaram a levar água
Muitas vezes pendurada,
Muitas vezes num jumento.
Era aquele sofrimento,
As juntas enferrujadas.
Fiquei com o fundo comido.
Quando pensei que tivesse
Minha batalha cumprido,
Um remendo me fizeram:
Tome madeira no fundo
E tome água e leva água,
E tome água e leva água.
Daí nasceu minha mágua:
O pau da boca caía,
Os beiços não resistiam.
Me fizeram um troca-troca:
Lá vem o fundo pra boca,
Lá vai o pau para o fundo.
Que trocado mais sem graça
Na frente de todo mundo.
E tome água e leva água
E tome água e leva água.
Já quase toda enfadada,
Provei lavagem de porco,
Ai mexeram de novo:
Botaram o pau na beirada.
E assim desconchavada,
Medi areia e cimento,
Carreguei muito concreto
Molhado duro e friento,
Sofri de peitos aberto,
Levei baque dei peitada.
Me amassaram as beiradas,
Cortaram minhas entranhas.
Lá fui eu assar castanha,
Fui por fim escancarada.
Servi de cocho de porco
Servi também de latada.
Se a coisa não complica,
Talvez eu seja uma bica
Pela próxima invernada.
E inverno é chuva, é água,
E eu encherei outras latas
Cumprindo minha jornada.
jessier quirino - além das preces
A triste seca já voltou
E a asa-branca agourou e já bateu a asa
Plantação defunta no oitão de casa
O chão em brasa
A triste seca já voltou
Ô arco-íris, sopre um vento colorido
Que o verde do teu vestido se espalhe na plantação,
Que o amarelo seja puro e adocicado,
E que a brancura seja a cor da floração,
E que o vermelho sejam flores parecidas
Com os beicinhos das luzidas, ?caboquinhas? do sertão
Que não se veja um sertanejo se ajoelhando
Pedindo chuva perante Cristo sonolentos
Que não se veja um solo rachado e sedento
Que sem sustento, às vezes se ajoelhando
Que não se veja baraúna jejuando,
Chorando folha numa paisagem cinzenta
Que não se veja fila de latas sedentas,
Salário d?água matando a sede matando
Ô arco-íris, sopre um vento colorido
Que a fita do teu vestido faça uma festa de cor
Eu quero ver resina de catingueira
Ser o chiclete na boca do meu amor
E que a sanfona toque um xote na colheita
Pra dança das borboletas enfeitadeiras de flor
(Quem vive pelo sertão já vive sertanejado
Pois a chuva não choveja, nem troveja no cerrado
E o sertanejo valente guarda sempre uma semente
Pro inverno abençoado)
jessier quirino - baixe as armas comedor
Oh morena, oh moreninha
Deixa de morenação
Larga dessas invenção
De nós dois sozim ficar
Mode evitar confusão
Larga dessas invenção
Pense da zabumbação
E se teu pai desconfiar?
E vai que tu pega enxaqueca
E vai que eu sou bom de curar
E vai que tu arrisca um verbo
E vai que eu saiba verbiar
Vai que eu vire flecha doida
E vai que tu quer se flechar
Vai que tu seja espoleta
E vai que eu seja um malagueta
Feito goela de dragão
E vai que tu vem toda bela
De laço e fita amarela
Vai que tu se passarela
Vai que eu seja o rés do chão
Vai que tu arriba a saia
Vai que eu veja o essenciá
Vai que tu pede embreagem
Vai que eu saiba debrear
Vai que tu venta pro norte
Vai que sou todim jangada
Vai que eu seja um taboleiro
E vai que eu seja cocada
Vai que tu se enrouxinó-las
Vai que eu seja passarinho
Vai que eu saia da gaiola
Vai que amostre o ninho
E vai que tu sois moça anja
Vai que eu seja um pecador
Vai que tu sois gozo eterno
Vai que eu sou rojão do amor
Vai que teu ?ui ui, meu bem?
Acorde o véi roncador
Vai que esse véi grite brabo
Com o revolver no meu rabo:
- Baixe as arma, comedor!
jessier quirino - bandeira nordestina
A bandeira nordestina
É uma planta iluminada
É qualquer raiz plantada
Mostrando o caule maduro
E quando o sol varre o escuro
Com luz e sombra no chão
É quando germina o grão
É quando esbarra o machado
É quando o tronco hasteado
É sombra pro polegar
É sombra pro fura-bolo
É sobra pro seu vizinho
É sombra para o mindinho
É sombra prum passarinho
É sombra prum meninote
É sombra prum rapazote
É sombra prum cidadão
É sombra para um terreiro
É sombra pro povo inteiro
Do litoral ao sertão
Essa bandeira que eu falo
Tem cores de poesia
Tem verde-folha-avoada
Amarelo-jaca-aberta
Em tudo que é vegetal
Tem bandeira desfraldada
No duro da baraúna
No forte da aroeira
No bandejar buliçoso
Das folhas das bananeiras
Das bandeirolas dos coentros
E na marca sertaneja:
O rijo e forte umbuzeiro
Cds jessier quirino á Venda