MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
fabiano bacchieri - bancando na rédea
Foi teu olhar de moça enluarando a vidraça
Foi tua graça enfinda em silhueta de flor
Por quem banquei na rédea nessa noite de inverno
Pra poder ter-me eterno pleno carinho e amor
Foi teu afago manso e os teus lábios pequenos
Tal qual gotas de serenos num campo de mel e prata
Por quem banquei na rédea o meu destino estradeiro
Pra entregar-me inteiro hoje nesta serenata
Linda abre a janela e teu sorriso franco
Sente o acalanto desta valsa calma
Que no ponteio desse violão
Vai meu coração e um naco da alma (bis)
Deixa eu levar na garupa firme no tento do laço
A emoção do abraço desse instante abençoado
Pra eu não bancar na rédea em outro rosto qualquer
Sabem tudo bem me quer de todos sonhos sonhados
Assim te quero sempre minha linda enluarada
Meu céu luz e morada até o infinito de nós
Dizendo na mesma valsa que te amo e me resta
Tua presença em seresta o alento da tua voz
Prenda deixa a moldura do teu riso intenso
E o apego imenso desta serenata
Tomar-te a alma pra ofertar-lhe um beijo
Clareando um desejo em teu olhar de prata
fabiano bacchieri - paixão de campo
Perdoa o guasca atrevido
Que vem traserte aos ouvidos
O grito de um coração
Mas se a saudade é tao grande
Que o peito em trova se espande
Pra dar alça a esta paixao
Partiste fosse ainda agora
Mas desde que foste embora
Abichornado me vejo
Como um carrancho isolado
Numa tronqueira pousado
Sem saber oque desejo
Desde que partiste morena
Eu nao sou mais o torena
Que em tantos rincões temiam
Ja nao sei mais oque faço
Errei dois tiro de laço
Na marcação n'outro dia
Ando aperriado ando incrente
Ando corrido de rebenque
Pela saudade cruel
O amor me trata ao laço
O cupido me da trompasso
Só por eu te ser fiel
Me lembro ainda saudoso
Daquele tempo formoso
Que junto a ti eu passei
Daquele beijo celeste
Que eu pedi, tu nao me deste
Mas depois eu te roubei
Eu roubei mas se eu soubesse
Antes morena eu tivesse
Fujido de tal perigo
Pois o cupido sem demora
Cravou-me logo as esporas
E passou-me o pé de amigo
De ti nao posso queixarme
Pois se nao querias darme
Pra que é que eu fui roubar
Eu fiz asnera aquele dia
Mas juro bem que seria
Capaz de recomeçar
Acalma, pois esse tento
Por que assim desse jeito
Nao a indio que aguente
Ve quando deixas o povo
E vem outra vez denovo
Passar um tempito com agente
Até o tobiano anda triste
Por que desdeque partistes
Ninguem montou nele ainda
Da pena velo em verdade
Relinchando de saudade
Da sua dona tao linda
Se até o tobiano te chama
E tudo aqui te reclama
Imagina agora agente
Ve quando deixas a cidade
E vens matar a saudade
Que nao a quem aguente
As vezes detardezinha
Quando a noite se avisinha
E eu ouço o mugir dos bois
La longe tristonho
Mas que lindo sonho
Pelo varjedo nos dois
Tu pelos campos correndo
E os mal me quer escolhendo
Sem consultar o destino
E eu moreno enfeitiçado
Pelo palmito encantado
Deste teu rosto divini
E eu estou falando
E ela desfarçando
Que nao é com ela
Mas a cor vermelha
Que ela tem na orelha
Denuncia ela.
fabiano bacchieri - baia sebruna
Se foi assim tastaveando
Como querendo rodar
Pra mode não se estropear
Tentiei o bico do freio
Égua maleva essa baia
Com cismas de renegada
Cria de raça estragada
Que há tempos redomoneio.
Já dei nem sei quantas sovas
Nesta bruta mal costeada
De cabeça encarneirada
Se assombra quando vê gente
Já desmanchou meus arreios
De tanto que se boleia
Todo dia veiaqueia
Num corcóveo diferente.
Baia sebruna matreira
Vive só de lombo inchado
Cosquilhosa e negadeira
Me traz um tanto estafado
Quando vê qualquer toceira
Já se bolca de costado
Che de deus que trabalheira
Pra um pobre ganha uns trocado.
Pra embuçalar de manha
É sempre a mesma novela
Murcha a orelha e atropela
Bicho arisco desgraçado
Não forma junto com os outros
Parece inté me tenteando
Fica num canto roncando
Que nem peludo enfurnado.
Se até semana que vem
Eu não te ajeitar da boca
E tu seguir feito louca
Te atirando nas cancela
Eu juro que largo a doma
Meu oficio desde novo
Dou uma cruzada no povo
E te vendo pra mortadela.
fabiano bacchieri - os olhos do meu cavalo
Aos poucos vão indo embora
As coisas que eu mais gostava...
Quando morreu meu cavalo
Por certo Deus descansava.
Era uma tarde de outubro
Com silêncio de sol-por
Um vento nas madressilvas
Ventava anúncios de dor.
No céu azul do potreiro
A corvada, em vôos rasos,
Trazia garras de morte
Mas a gente nem fez caso.
Quando a manhã veio cedo
Na recolhida pra encilha
Faltava um baio cebruno
Na forma da minha tropilha.
Um peão de olhos baixos
De freio e mango na mão
Me disse com dor na alma:
- Morreu seu baio, patrão!
As crinas entre as macegas
Cardavam teias de aranha
Que a manhã, ainda agora,
Tinha posto na campanha
E os olhos do meu cavalo
Que há pouco não viam nada...
Já tinham ganhado o céu
Pelas garras da corvada!
Ficou um silêncio largo
Talvez faltando um relincho...
Só um choro pelo arame
Pelo cantar dos pelinchos.
Olhando o baio estendido
Pensei, bem quieto, comigo...
Isso não é coisa, parceiro
Que se faça com um amigo!
Coisa triste de se ver
Um amigo desse jeito...
Ontem mesmo lhe apertei
A cincha no osso do peito!
E hoje lhe vejo assim
Posto em partida, sem viço...
Se Deus bem sabe o que faz
Não tava sabendo disso!
Se vai embora o meu baio
O pingo que eu mais gostava
Quando morreu meu cavalo
Por certo deus descansava!
fabiano bacchieri - canção noiteira de acalanto à tropa
UM ASSOBIO CHAMA A NOITE DEPOIS DA TROPA ENCERRADA,
MORDENDO O JOGO DO FREIO DESCANSA A PATA A GATEADA
COM OLHOS DE â??PERROâ? NOVO NUMA MANHÃ? DE RODEIO,
TROCA ORELHA VEZ POR OUTRA, SE UMA MILONGA PONTEIO.
DO MOERÃ?O DA PORTEIRA, UMA CORUJA DÁ AS HORAS
BOMBEANDO A TROPA DE PERTO OLHAR DE ESTRELA DE ESPORA
NA NOITE RECÃ?M DORMIDA QUEBRA O SILÃ?NCIO NUM ROGO
LEVANTA O SONO DO CUSCO DORMINDO PERTO DO FOGO.
A NOITE RONDA ESSA TROPA DUZENTOS BOIS PRÁ ENTREGAR,
ESTRADAS DE LÃ?GUAS LARGAS FALTA UM DIA PRÁ CHEGAR
AMANHÃ?, ANTES DO SOL A ESTRADA CHAMA PRIMEIRO
DE LAVRAS PARTIU A TROPA... BAGÃ? Ã? DEPOIS DOS CERROS.
MAIS UM PONTEIO DE CORDAS NUM ACALANTO PRÁ BOIS
QUE NÃ?O SABEM O SEU DESTINO DE SEREM CARNE, E DEPOIS?
E A CORUJA DO MOERÃ?O VÃ?A NUM GRITO DE AGOURO
ANUNCIANDO O Ã?LTIMO POUSO NOS RUMOS DO MATADOURO.
E SERÁ PRÁ SEMPRE ASSIM... AS TROPAS SERÃ?O PRA ESTRADA,
AS CORUJAS NOS MOERÃ?ES ANUNCIARÃ?O MADRUGADAS.
SÃ? OS TROPEIROS DE AMANHÃ? OUVIRÃ?O UM GUITARREIO
E SEU ACALANTO PRÁ TROPA NO RÁDIO DE UM BOIADEIRO.
fabiano bacchieri - de volta da palmeira
Dois campeiros... linda estampa! Cada qual
no seu gateado.
O mesmo baio coleira, que é mais que um
cusco... é um soldado!
Pelo horizonte dos tosos rebolcam raios de sol,
Pra depois sangrar de verde a geada que é um
lençol.
A manhã bate o cincerro, acordando a
invernada,
Quero-queros montam guarda, corujas buscam
a toca.
Os dois cavalos troteando... abanando os
quatro galhos
- Lembram o flete de um baralho se um
esporeio provoca!
Novilhada azebuada encordoa pra porteira
Nos comandos da açoiteira e dos assobios em
clarim.
O vento vai olfateando cheiro de gado e de
terra
Da guerra xucra dos cascos por sobre a tez do
capim!
Já na estrada a tropa marcha com mugidos por
sinuelo,
Enquanto com seus panãouelos garças tremulam
no céu.
Se um dos pingos estreleia, um fio de baba se
entona
Prateando a lona da carona e a aba larga do
chapéu.
- Olha a ponta!... ecoa um grito... Não demora
chega ao rio,
Que nunca foi do feitio perder um boi na
corrente.
Retumbam os peitos na água, serpenteiam
fios de lombo
E um covarde leva um tombo negando o passo
por frente!
No viço do sobreano chegam à margem de lá...
Nas puas dos gravatás a novilhada se topa.
Logo adiante na pastagem, cumprirão o mesmo
fado
De quem é gado e assim vive seu ciclo de tropa.
E a palmeira da invernada só na lembrança
acompanha...
...Talvez cederá seus braços pra alguma teia de
aranha...
Ou pela silhueta de cruz seja um altar de interior
Pra um pagão orar suas penas ao cruzar no
corredor!
fabiano bacchieri - do que a tarde não vê
Parece até que as figueiras
Chovem nos galhos copados
E que os cavalos da encilha
Já vem de lombo suado
Bailam as franjas do poncho
Em contraponto as do baio
Talvez tremendo de frio
Neste finzito de maio.
Cada pisada do pingo
Cruzando verdes caminhos
Rouba o orvalho do campo
Para cintilar os machinhos
Cachorros molham o faro
Campeando não sei o que
E a manhazita redobra
A luz que à tarde não vê
Os choramingos do basto
Se calam por um instante
E as botas mudam de cor
No porteirão mais adiante.
O sereno por ciúmes vai
Tenteando nessa hora
Por sementes de ferrugem
Sobre o lume das esporas.
Três anteontem foi a chuva
Que afogou marcas de cascos
Hoje o sol é quem mateia
A seiva que vem do pasto
Mas lá na costa do mato
O serenal ainda brilha
E mostra antes do cusco
Onde se entocam as novilhas
O sereno cobra o preço
De quem lhe pisa por cima
Essa é uma grande verdade
Que as alpargatas confirmam
Os choramingos do basto...
fabiano bacchieri - na invernada da palmeira
Poncho negro sobre os ombros, chapeu de aba caida
No breu da tarde comprida, tropa o tranco da canhada
A chuva guasqueando firme, desfrauda a franja do mouro
e o vento fareja couro no lombo liso da estrada
Baio encerado escarciano a poderado de milho
num toso de cogotilho, quatro galhos no sabugo
uma tordilha cabana que veio lá da fronteira,
e um cusco baio coleira pra o caso de algum refugo
e um cusco baio coleira... pra o caso de algum refugo
terneiradas embuadas, desmamada ainda ontem
segue os gritos de repontes, pontiando tonta no passo
se vai a tarde a la cria, e a noite vem na bolada
na porteira da invernada a tropa indireita o rastro
na porteira da invernada... a tropa indireita o rastro
Contra as patas dos cavalos, uma lebre erra o bote
no cogote da coxilha um raio leva o bolcado
e um pingo que é uma balança se renega e escarceia
para a coruja que floreia numa trama do alambrado
Sao nessas rondas sem lua que o tropeiro perde o sono,
nos pedidos de retorno pelos berros dos terneiros
repassando enfurquilhado, em cada mel da barbela
alegrias e mazelas que tropeou pelos janeiros
alegrias e mazelas... que tropeou pelos janeiros
com uma noite por sinuelo, e o rio grande na moldura
o pastiçal faz figura, bailando varzedo a fora
enquanto o dia nao chega, a sinueta da palmeira
lembrando a cruz missioneira, velando o tranquear das horas
lembra uma cruz missioneira...velando o tranquear das horas
..velando o tranquear das horas
..a tropa indireita o rastro
..velando o tranquear das horas
..a tropa indireita o rastro
fabiano bacchieri - na madrugada dos galos
Parece que a madrugada levou um susto dos galos
Largou o sol num regalo no céu lá de atrás da figueira
Já fazia uns quantos mates, com jujos de primavera
Que eu sorvia na espera dos gateados na mangueira
Com permisso do galpão e de uma prece sinuela
Encilhei junto com a estrela o meu flor de gateado-oveiro
Mirei distante o nascente no horizonte da porteira
E o sol ponteou na figueira, luzindo as pratas do apero
Canta a barbela do freio ao som que espora faz
Toreando caraguás, com espinho batendo espinho
Contraponto de campanha ou um prenúncio de guerra
De um touro escavando a terra, só pra mudar meu caminho
Um joão-grande debruçou-se lá no alto da coxilha
Suas asas de flexilha, emponchadas de manhãs
Veio um murmúrio de sanga recém pisada de cascos
Retemperada com pastos da várzea de algum tajã
E o sol vai repontando com olhos de sesmaria
Já vinha alto no dia pro tranco mui lerdo do gado
E o gateado oveiro, cingindo aspa e presilha
Sujeitava uma novilha firmando um ritual sagrado
A coronilha do campo cimbrava ao gosto do vento
Voejando o pensamento que a tempo ganhou essência
Parece que às vezes se perde da alma por entre a pampa
Que até minha sombra se estampa com um jeitão de querência.
fabiano bacchieri - na ponta dos cascos
Em quanto as mãos campeiras
Vão campeando ferraduras
A terdezita tranqueia
Emrrubecendo as planuras
Renasce mais uma estrela
A cada passo do tempo
Ã? o dia bordando rastro
Na estrada do firmamente
Pericia, grosa, martelo
E um eito e pico de cravos
E um quarteto de ferros
Do feitiu do seu olavo
Ã? tudo que nescecito
Pra'o compromisso tropeiro
De botar casco de aço
Pra nao judiar os verdadeiros
Fiquam tres patas ergendo
Quase meia tonelada
De uma tronqueira gateada
Que vez por outra se entona
E o galpão grande resona
Nesse duelo machasso
A ponta fina dos cravos
Contra a rudeza dos cascos
Devez em quando um ventena
Da serviço pra maneia
Mas quem conhece a ciencia
Por ter querencia nas veias
Não faz uso do cachimbo
Nem boleia por vingança
Não é abaixo de pal
Que um desbocado se amança
Os ferros dependurados
No templo de santa fé
Em sonhos enferrujados
E alguns resquicios de fé
Foram de pingos buenassos
Que encordoaram pra'os céus
Por isso os guardo com gosto
Como se fossem troféus.
fabiano bacchieri - pé no estribo
Era amizade de infância
Quando eu era piá de estância
Guri de cuida cavalo.
Eu assobiava uma marca
Quando cantavam os galos,
Tirei pra mim aquele potro
Um não vinha sem o outro
Cortando a vida em astilha.
O resfolego do pingo,
O sono encima da encilha,
Era um abraço a lo largo
Prá dois loco sem família.
No lombo do meu cavalo
Tive os mais lindos regalos.
Um dia uma lei da estância
Mando vende o meu amigo
Desde então ninguém me vê,
Enforquilhado no estribo!
Um dia partiu o pingo
Se foi não me lembro quando,
Fiquei banido lá fora
Era um bandido sem bando,
Eu era um pé sem espora
Com a vida me atropelando.
Saia e bebia uns vinho
Prá ver a vida voando
Te via pelo caminho
Perdido me procurando,
E não tem nada mais lindo
Do que um amigo voltando.
Por isso digo aos meus dias
Que escorrem pelo gargalo
-vou viver com o pé no estribo
Quando encontrar meu cavalo!
Cismo e proseio solito
Quando uma gana me puxa,
Uma saudade avoenga
Me atenta, se faz de bruxa,
Mas só quem teve um cavalo
Conhece vida gaúcha!
A cerca guarda no grampo
Alguma crina de cola,
Gaúcho não anda a pé
Se anda não se consola,
Até a lembrança do potro
Me deixa um tanto pachola
O potro era da fazenda
Reiuno mesmo só eu,
Que passo a vida encilhando
Cavalos que não são meus,
E quando ganho um relincho
Lhes digo, -graças a deus!
Por isso digo aos meus dias
Que escorrem pelo gargalo,
-vou viver com o pé no estribo
Quando encontrar meu cavalo!
O patrão vendeu o potro
Como quem apaga um pucho,
Um peão nunca diz nada
Sentir saudade já é um luxo
Anda um cavalo esta hora
Com saudade de um gaúcho
Me deixem seguir buscando
Por estes campitos ralos
Dormir encima da encilha
Só pra acordar com os galos
E andar cantando o rio grande
Só pra esperar meu cavalo!
Por isso digo aos meus dias
Que escorrem pelo gargalo,
-vou viver com o pé no estribo
Quando encontrar meu cavalo!
fabiano bacchieri - refrão do clarear do dia
Um silêncio de cristal
Se partiu na voz de um galo
No missal da noite grande
Com garganta de badalo
No mesmo ritual pagão
Que ainda teimo em cantá-lo.
E tudo então recomeça
Aos olhos da primavera
Amanhecida de ausência
Florindo um tempo de espera
Na borboleta pousada
No que restou da tapera.
Um vôo liberta o ninho
Para cantar na taleira
Um berro de vaca mansa
Vem acordar a mangueira
A alma retorna à estância
Numa constância campeira.
É o sol, a luz, esperança
Que tanto queremos tê-la
A D?alva teima em ficar
Adornando pontesuelas
Vicejam vozes do mundo
Pela mudez de uma estrela.
Florão de céu se agiganta
Como refrão nesta hora
De uma saudade orvalhada
Como lágrima de aurora
E um sol refletindo luz
No cabrestilho da espora.
fabiano bacchieri - regalo pra quem nasceu na querência
No grito de ?" vamo embora!"
A bota busca o estribo,
O corpo fica mais leve
E o indio muito mais vivo.
E o ritual do peão de campo
Este "gaucho" primitivo,
Alma feitiu de forquilha
Só pra explicar um motivo.
No jeito de alçar a perna
Já se conhece o vivente,
Este é o gesto mais comum
Na formação da minha gente,
Quem amanhece aluado
Ata a espora diferente,
E a égua que corcoveia
Sempre a cuscada pressente.
O dia é muito pequeno
Pra estes campeiros que falo
E as horas pingos ligeiros
Pra montaria dos galos
Por isso, fiz estes versos
Que alçar a perna é um regalo
E só renasce pra lida
Quem grita "-tô de à cavalo!"
fabiano bacchieri - o rio grande dos meus olhos
Lá se foi, o homem do campo
Pela vida, na sua batalha
Pedindo acolhida de Deus
Quando a sorte ainda lhe falha
Pra trás deixou saudades, verdades
Que vivem consigo
Parceiros, pertences, paixões, recuerdos
De um pago antigo
Levou a cabresto esta sina menina
De um mundo soldado
O campo os olhos molhados
Por desencanto
A estrada da insegurança
Quando a ânsia se tornarem real
E a angústia do domador
Que já não doma o bagual
Saudades deixou no passado
Perdido nas suas visagens
Que vivem por entre as margens
Do rio grande dos olhos meus
Que seguem indagando a Deus
O porquê da sua partida
Será que perdeu seu rumo
Ou sonhou demais nessa vida
Agora, carrega as penas, não são pequenas
E nunca esquecidas, a guitarra parceira serena
De um pago, que se fez vida
Que ficou por ele esperando, sofrendo
A triste vermelha
Procura agora a metade saudade
Verdade que já é caseira
Embretado por entre concretos
Por certo, moldará ao seu jeito
Mas não perderá do seu peito
Seus claros conceitos
Perderá assim o cheiro do campo
Lamento com a vida de agora
Mas sempre terá seus sonhos tamanhos
A esperança de uma melhora
Lá se foi o homem do campo
fabiano bacchieri - pra quem solta um cavalo
Me fui rumo a tarde campeando horizonte
Um passo de tropa pela sesmaria
Buscando o verde mais verde da várzea
No fundo do campo mais fundo que havia
De um lado de um zaino seguia a cadência
Um vento abanando as rédeas torcidas
Do outro o tempo fazendo a culatra
Tocando por diante as coisas da vida
E eu na forquilha tristeza inquietude
Bombeava pra o tozo cuidando o embalo
Levava na alma uma dor estropeando
E as penas de um taura que solta um cavalo
E o pingo sereno rumando pra o fim
Da pátria de bastos das lidas buenaças
Até pressentia inquietando o coscoz
Num garbo sulino de cruzar em praça
Um bater de argola cinchão barrigueira
Carona e xergão boleados no pasto
Fumaça no lombo, suor escorrido
E um tempo findando do peso dos bastos
Na troca das garras no meio do campo
Havia um nada fazendo a escolta
E o tordilho parcero olhando parado
O aperto da cincha no zaino da volta
E dizem que fletes não sabem nem sentem
Que vivem por pouco por conta dos anos
Mas o meu cavalo por certo entendeu
Que foram se os dias de fibra e tutano
Que soltei um amigo entenda quem queira
Cumpria o mandante que na autoridade
De uns pilas herdados sentiu o direito
De soltar pro mundo minha outra metade
Quando levei a mão por detrás da orelha
Ladeou o pescoço, roçou no meu braço
Sonando impaciente pedindo retorno
Qual filho que parte querendo um abraço
Virou a cabeça direito ao lagoão
Num adeus de campanha que a franja abanou
E viu refletido nos seus próprios olhos
O sal da saudade que um homem chorou
Por isso que hoje me ajustei de peão
Caseiro de estância, o tordilho sou eu
Por conta dos anos pulpando solito
As penas de um taura que espera por Deus
E sempre me aquieto mateando constante
Bandiando minha'lma que vem ajojada
Num sonho antigo de ouvir pataleios
Daquele tordilho nalguma canhada
Cds fabiano bacchieri á Venda