cordel do fogo encantado - ai se sêsse
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Da vês que nois dois ficasse
Da vês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse
cordel do fogo encantado - chamada dos santos africanos
Quando a flor tava dormindo
Vento fogo corredor
É a bença prometida
Pra quem é merecedor
Pai Tomás levanta a cuia
Com incenso de fulô
Preta velha atiça o fogo
Que o trabalho começou
Vem arriar nesta casa
cordel do fogo encantado - a árvore dos encantados
Acorda, levanta, resolve
Há uma guerra no nosso caminho
Nos confins do infinito
Nas veredas estreitas do universo
Vejo
As cinzas do tempo
O renascimento
As danças do fogo
Purificação, transporte
Escuto
O trovão que escapou
As ladainhas das mulheres secas
Herdeiros do fim do mundo
Isso não é real
Não
Isso não é real
A brotação das coisas
Herdeiros da Tempestade
Girando em torno do sol
Do sol
Girando em torno do sol
Vejo
Aquele cego sorrindo
No nevoeiro da feira
Aquele cego sorrindo
Beijo
A fumaça que sobe
O peito da santa
O cheiro da flor
Árvore dos Encantados
Vim aqui outra vez pra tua sombra
Árvore dos Encantados
Tenho medo, mas estou aqui
Tenho medo, mas estou aqui
Aqui Mãe
Aqui meu Pai
Em cima do medo coragem
(Recado da Ororubá)
cordel do fogo encantado - a chegada de zé do né na lagoa de dentro
Trago poeira da terra queimada e a fumaça
Ah! sequidão sequidão Pojuca
Malhada Craíba
Juazeiro torto
Moxotó velado
Cabrobó Floresta Belém do São Francisco
Terra da massa
cordel do fogo encantado - a matadeira
Vê
A matadeira vem chegando
No alto da favela
No balanço da justiça
Do seu criador
Salitre, pólvora,
Enxofre, chumbo
O banquete da terra
Teatro do céu
O banquete da terra
Teatro do céu
Diz aí quem vem lá,
O velho soldado
O que traz no seu peito?
A vida e a morte
E o que traz na cabeça?
A matadeira
E o que veio falar?
Fogo
cordel do fogo encantado - alto do cruzeiro
Alto do Cruzeiro
O meu olho avoa de lá
Alto do Cruzeiro
Terra gira
Na subida
Na descida
Na ladeira
cordel do fogo encantado - antes dos mouros
Antes dos mouros o som
O som de tudo que passou por lá
O som de tudo que passou aqui
O som que vem quem viver verá
Os trovões já batucavam
Vanguardistas batucadas
O vento já produzia
Árias de ar e poeira
O mar nunca atrasará
O compasso do batuque
E o fogo na sua dança
Toda vida fez um som
Antes do peito dos mouros
Antes dos gritos da gente
Antes até da saudade
Que viajou além-mar
Do banzo dos africanos
Do toré no mato verde
O fogo com seus estalos
Fazia um som
Já fazia um som
Já fazia um som
Mandacaru meu deu lanças
A certeza seu fuzil
A noite trouxe seu frio
Pra quentura dessa vidas
O mar nunca atrasará
O compasso do batuque
E o fogo na sua dança
Toda vida fez um som
Alan Babolin
Jotinha
cordel do fogo encantado - aqui
Vou
Vou pregar na parede
Um pedaço de céu
Que você me mandou
Vou buscar outra constelação
Entre a noite que vai
E o dia que vem
Eu canto aqui
Eu olho daqui
Eu ando aqui
Eu vivo
Canto aqui
Eu grito aqui
Eu sonho aqui
Eu morro...
(morro)
Vou
Vou riscar no meu braço
Um pedaço de mar
Que você me deixou
E criar outra recordação
Do primeiro lugar
Que acordei pra te ver
Eu canto aqui
Eu olho daqui
Eu ando aqui
Eu vivo
Canto aqui
Eu grito aqui
Eu sonho aqui
Eu morro...
(morro)
cordel do fogo encantado - boi luzeiro
Vem rodar no meu terreiro, boi luzeiro
Vem soltar fitas na seca
Vem tacar fogo no mundo
Violento Vaidoso e Avoador
Quando o dia nascer e morrer
Seu nananun rei*
Cigarro Pai Tomás cigarro (um trago)
Incensa a tarde baforadas de verão
Os retirantes já cruzaram meio mundo
Eu fico aqui esperando outro batuque
Uma mulher com dois olhos de trovão
A nau mergulhou meu Bumba cadê?
Seu nananun rei
Quando o dia nascer e morrer
Boi
cordel do fogo encantado - britadeira
Pedra e a britadeira
Flores e a água pouca
Tambores do tempo
Tambores do tempo
Rasgam
Cheiro e o teu perfume
Sede e a tua vida
Tanta solidão
Tanta solidão
Mata
Roda esse planeta azul
Essa grande prisão
As batidas
Roda esse planeta azul
Essa grande prisão
Vem aqui me dá a tua mão
Vida e a britadeira
Sede e a água pouca
Tambores do tempo
Tambores do tempo
Rasgam
Cheiro e o teu suor
Pedra e as tuas flores
A tatuagem da fé
A tatuagem da fé
Cega
cordel do fogo encantado - cantos dos emigrantes
Com seus pássaros
Ou a lembrança dos seus pássaros
Com seus filhos
Ou a lembrança dos seus filhos
Com seu povo
Ou a lembrança de seu povo
Todos emigram
De uma pátria a outra do templo
De uma praia a outra do atlântico
De uma serra a outra das cordilheiras
Todos emigram
Para o corpo de berenice
Ou o coração wall street
Para o ultimo tempo
Ou a primeira dose de tóxico
Para dentro de si
Ou para todos
Para dentro de si
Ou para todos
Pra sempre todos emigram
cordel do fogo encantado - catingueira
Ê Cantingueira
Ê Mãe da Feira
Eu vou viajar
cordel do fogo encantado - chover
"O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove*
Chover chover
Valei-me Ciço o que posso fazer
Chover chover
Um terço pesado pra chuva descer
Chover chover
Até Maria deixou de moer
Chover chover
Banzo Batista, bagaço e banguê
Chover chover
Cego Aderaldo peleja pra ver
Chover chover
Já que meu olho cansou de chover
Chover chover
Até Maria deixou de moer
Chover chover
Banzo Batista, bagaço e banguê
Meu povo não vá simbora
Pela Itapemirim
Pois mesmo perto do fim
Nosso sertão tem melhora
O céu tá calado agora
Mais vai dar cada trovão
De escapulir torrão
De paredão de tapera**
Bombo trovejou a chuva choveu
Choveu choveu
Lula Calixto virando Mateus
Choveu choveu
O bucho cheio de tudo que deu
Choveu choveu
suor e canseira depois que comeu
Choveu choveu
Zabumba zunindo no colo de Deus
Choveu choveu
Inácio e Romano meu verso e o teu
Choveu choveu
Água dos olhos que a seca bebeu
Quando chove no sertão
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde um boi pisa se atola
E a fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola**
Seu boiadeiro por aqui choveu
Seu boiadeiro por aqui choveu
Choveu que amarrotou
Foi tanta água que meu boi nadou***
*Zé Bernardinho
**João Paraíbano
***Toque pra boiadeiro
cordel do fogo encantado - cio da terra
Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão
cordel do fogo encantado - côco na paraíba
Eu fui dançar um coco, lá na Paraíba.
Na casa de um caboclo, lá na Paraíba.
Saiu um tanto de soco, lá na Paraíba.
O baile durou pouco, lá na Paraíba.
Eu fui dançar um coco, lá na Paraíba.
Olhe na casa de um caboclo, lá na Paraíba.
Saiu um tanto de soco, lá na Paraíba.
Olhe que baile durou pouco, lá na Paraíba.
Começou o baile com animação.
O dono da casa, gritou no salão:
-Eu peço pra moça me dançar direito, com muito respeito e não falte ninguém. Porque hoje aqui tem gente de fora, e eu quero que o baile não acabe agora!
Eu fui dançar um coco, lá na Paraíba.
Na casa de um caboclo, lá na Paraíba.
Saiu um tanto de soco, lá na Paraíba.
O baile durou pouco, lá na Paraíba.
Eu não vou não dançar um coco, lá na Paraíba.
Na casa de um caboclo, lá na Paraíba.
Saiu um tanto de soco, lá na Paraíba.
Olhe que o baile durou pouco, lá na Paraíba.
Antes da meia noite, pegou no zumzum, pardeiro nenhum, tomava a questão. Foi faca, fação, foi grito e gemido, mulher sem árido, homem sem mulher.Se eu dei no pé, e corri pro samba, O macaco me lamba se eu vou á Sumé.
Eu não vou não dançar um coco, lá na paraíba.
Na casa de um caboclo, lá na Paraía.
Saiu um tanto de soco, lá na Paraíba.
Olhe que o baile durou pouco, lá na Paraíba.
(...)
Oi, oi, oioioi...
Toda a minha visão é catingueira.
Minha sede é de água de quartinha.
Sou o fantasma das casas de farinha.
Sou o pedaço de vidro em fim de feira.
Ave bala, que tem mira certeira.
Um cordel de palavra inconvescente.
Sou a presa afiada da serpente.
Que cochila nos pés do cangaceiro.
Esta noite eu retalho o mundo inteiro.
Com a peixeira amolada do repente.