ana moura - a sós com a noite
A luz que se arredonda
Alongando uma sombra sozinha
A saudade a bater
Uma dor que ao doer é só minha
Um desvio inquieto
Um olhar indiscreto na esquina
Um rapaz de blusão
Arrastando pela mão a menina
Passa um velho a pedir
Incapaz de sorrir pelos passeios
Um travesti que quer
Assumir-se mulher sem receios
O alarme de um carro
Um cigarro apagado indulgente
Um cheiro inusitado
O semáforo fechado para a gente
Sobe o fado de tom
E o fadista que é bom improvisa
Estão em saldos sapatos
Desce o preço dos fatos de cor lisa
Um eléctrico cheio
Uma voz de permeio vai chover
Bate forte a saudade
Como é grande vontade de te ver
ana moura - a voz que conta a nossa história
Amiga no meu peito, as horas dormem
Num compassar dolente e sossegado
Seduz a minha alma uma voz de homem
Que ao longe entoa triste um triste fado
Seduz a minha alma uma voz de homem
Que ao longe entoa triste um triste fado
Como se aquela voz entristecida
Contasse a nossa história a toda a gente
Cada quadra parece ser escolhida
Do amor que quer doer lentamente
Cada quadra parece ser escolhida
Do amor que quer doer lentamente
E enquanto eu não reclamo a dor dos dias
Em que me afundo a sós nesta memória
O frio das noites frias e vazias
Só cabe a voz que conta a nossa história
O frio das noites frias e vazias
Só cabe a voz que conta a nossa história
O frio das noites frias e vazias
Só cabe a voz que conta a nossa história
ana moura - aguarda-te ao chegar
Calas-me a voz, voz do olhar
Sinto que o tempo, tarda em chegar
Distante ausente, sinto apertar
O peito ardente por te encontrar
Na minha alma, que anseia urgente
Pelo momento de ter-te presente
Pelo infinito estendo os meus olhos
Num mar de mil desejos, aguarda-te ao chegar
Encho a minha taça vazia com perfumes de poesia
Bebo a saudade amarga e fria e então adormeço ao luar
Calas-me a voz, p'ra lá do tempo
Estrelas que caem por um lamento
Espuma na areia solta no vento
O meu silêncio meu sentimento
Em minha alma que chora vazia
Por um momento se acende a magia
Pelo infinito estende o meu sorriso
Num mar azul de sonhos, acorda-me ao chegar
Encho a minha taça ardente, com incenso doce e quente
Sirvo de beber a alegria que sinto ao ver-te a chegar
Calas-me a voz
Em minha alma que chora vazia
Por um momento se acende a magia
P'lo infinito estende os meus olhos
Um mar de mil desejos aguarda-te ao chegar
Aguarda-te ao chegar
ana moura - até ao fim do fim
Então está tudo dito meu amor
Por favor não penses mais em mim
O que é eterno acabou connosco
E este é o principio do fim
Então está tudo dito meu amor
Por favor não penses mais em mim
O que é eterno acabou connosco
E este é o princípio do fim
Mas sempre que te vir eu vou sofrer
E sempre que te ouvir eu vou calar
Cada vez que chegares eu vou fugir
Mas mesmo assim amor eu vou-te amar
Até ao fim do fim eu vou-te amar
Até ao fim do fim eu vou-te amar
Então está tudo dito meu amor
Acaba aqui o que não tinha fim
P'ra ser eterno tudo o que pensamos
Precisava que pensasses mais em mim
P'ra ti pensar a dois é uma prisão
P'ra mim é a única forma de voar
Precisas de agradar a muita gente
Eu por mim só a ti queria agradar
Mas sempre que te vir eu vou sofrer
E sempre que te ouvir eu vou calar
Cada vez que chegares eu vou fugir
Mas mesmo assim amor eu vou-te amar
Até ao fim do fim eu vou-te amar
Até ao fim do fim eu vou-te amar
Mas mesmo assim amor eu vou-te amar
Até ao fim do fim eu vou-te amar
Até ao fim do fim eu vou-te amar
ana moura - quem vai ao fado
Quem vai ao fado meu amor
Quem vai ao fado
Leva no peito algo de estranho a latejar
Quem vai ao fado meu amor
Quem vai ao fado
Sente que a alma ganha asas quer voar
Sempre que entristeço e a nostalgia cai em mim
Ouço de tão longe estranha voz por mim chamar
È um canto doce mavioso ou coisa assim
Logo a minha alma faz-se voz e quer cantar
Bálsamo bendito a esta terra quis Deus dar
Mais vale cantar do que chorar
Quem vai ao fado meu amor
Quem vai ao fado
Leva no peito algo de estranho a latejar
Quem vai ao fado meu amor
Quem vai ao fado
Sente que a alma ganha asas quer voar
Sempre que radioso o coração se agita em mim
Num impulso alegre a felicidade vem morar
Abandono a voz no Mouraria porque assim
Sei que o coração quer à guitarra forma dar
Bálsamo bendito a esta terra quis Deus dar
Mais vale cantar do que chorar
Quem vai ao fado meu amor
Quem vai ao fado
Leva no peito algo de estranho a latejar
Quem vai ao fado meu amor
Quem vai ao fado
Sente que a alma ganha asas quer voar
(2x)
ana moura - talvez depois
Deixei de mim as frases que trocámos
Os beijos e o tédio de os não ter
Sem querer nós nos cegámos
Sem querermos ver
As roupas e os livros não os trouxe
Que se envelheçam cobertos de pó
Por querermos que assim fosse
Deixo-te só
Recuso a sombra, triste véu sobre minh'alma
Quero-me longe e sem tremores fujo de mim
Esmorece o dia, cai a noite e não se acalma
O querer saber qual a razão de ver-me assim
Não sei ser razoável nem te espero
No tempo que pediste p'ra nós dois
Amar-te assim não quero
Talvez depois
Marcaste a minha dúvida cinzenta
Do sentimento que te unia a mim
Sabê-lo não me alenta
Melhor o fim
Palavras... só palavras que como alento
Seduzem a minh'alma a querer-te tanto
Atrais-me o pensamento
Como um quebranto
ana moura - agora É que É
ana moura - até ao verão
Deixei
Na Primavera o cheiro a cravo
Rosa e quimera que me encravam na memória que inventei
E andei
Como quem espera
Pelo fracasso
Contra mazela em corpo de aço
Nas ruelas do desdém
E a mim que importa
Se é bem ou mal
Se me falha a cor da chama a vida toda
É-me igual
Vi sem volta
Queira eu ou não
Que me calhe a vida
Insane e vossa em boda
Até ao verão
Deixei na primavera o som do encanto
Riça promessa e sono santo
Já não sei o que é dormir bem
E andei pelas favelas
Do que eu faço
Ora tropeço em erros crassos
Ora esqueço onde errei
E a mim que importa
Se é bem ou mal
Se me falha a cor da chama a vida toda
É-me igual
Vi sem volta
Queira eu ou não
Que me calhe a vida
Insane e vossa em boda
Até ao verão
E a mim que importa
Se é bem ou mal
Se me falha a cor da chama a vida toda
É-me igual
Vi sem volta
Queira eu ou não
Que me calhe a vida
Insane e vossa em boda
Até ao verão
Deixei na primavera o som do encanto
ana moura - a fadista
Vestido negro cingido
Cabelo negro comprido
E negro xaile bordado
Subindo à noite a avenida
Quem passa julga-a perdida
Mulher de vício e pecado
E vai sendo confundida
Insultada e perseguida
P'lo convite costumado
Entra no café cantante
Seguida em tom provocante
P'los que querem comprá-la
Uma guitarra a trinar
Uma sombra devagar
Avança p'ra o meio da sala
Ela começa a cantar
E os que a queriam comprar
Sentam-se à mesa a olhá-la
Canto antigo e tão profundo
Que vindo do fim-do-mundo
Ã? pressa perante o pregão
E todos os que a ouviam
Ã? luz das velas pareciam
Devotos em oração
E os que há pouco a ofendiam
De olhos fechados ouviam
Como pedindo-lhe perdão
Vestido negro cingido
Cabelo negro comprido
E negro xaile traçado
Cantando p'ra aquela mesa
Ela dá-lhes a certeza
De já lhes ter perdoado
E em frente dela na mesa
Como impressa uma deusa
Em silêncio ouve-se o fado
ana moura - águas do sul
Escurece o azul, está negro o céu
Águas do sul, nunca assim choveu
Passar a ponte, noite serrada
Água da fonte, turva enlameada
Rosário triste, nas mãos do crente
Deus guarde a sorte, da gente
Esquiva-se a luz, dos meus faróis
Passa-me a cruz, vida quanto dóis
Velho sinal curva apertada
Vê-se tão mal, na estrada molhada
Sorriso triste, ai de quem não mente
Deus guarde a sorte, da gente
Cedi aos medos, fugi à dor
Por entre os dedos, fugiste-me amor
Leve embaraço, não fere ninguém
Fundo cansaço, reduz o prazer
Que noite triste, penso de repente
Deus guarde a sorte, da gente
Deus guarde a sorte, da gente
Deus guarde a sorte, a sorte da gente
ana moura - amor de uma noite
Meu amor de uma noite
que poderás fazer de mim agora
Se o meu pecado é açoite
A açoitar-me noite fora
Amor meu de quem sou eu agora
Meu amor que sou....
Este amor que é feito por amor
Perfeito e emancipado
quando alcançamos a dor
Dispersa no mar de quem faz amor
Ressuscito nos teus braços
Se me dizes foi tão bom
Alimenta-me o desejo
meu amor como é bom
Não há tempo nem há espaço quando a dois tudo é bom
E ate mesmo próprio eu não existe quando é bom
Meu amor realizado
nascido da flor entre dois seres aflitos
Pedaços despedaçados
que resolvemos convictos
Senhora bendita mãe dos aflitos
Ressuscito nos teus braços se me dizes foi tão bom
Alimenta-me o desejo meu amor como é bom
Não há tempo nem há espaço quando a dois tudo é bom
E ate mesmo o próprio eu não existe quando é bom
Meu amor de uma noite
Meu amor de uma noite
ana moura - ao poeta perguntei
Ao poeta perguntei
como é que os versos assim aparecem
disse-me só, eu cá não sei
são coisas que me acontecem
sei que nos versos que fiz
vivem motivos dos mais diversos
e também sei que sendo feliz
não saberia fazer os versos
Refrão
Oh! meu amigo
não penses que a poesia
é só a caligrafia num perfeito alinhamento
as rimas são, assim como o coração
em que cada pulsação nos recorda sofrimento
e nos meus versos pode não haver medida
mas o que há sempre, são coisas da própria vida
Instrumental
Fiz versos como faz dia
a luz do sol sempre ao nascer
eu fiz os versos porque os fazia,
sem me lembrar dos fazer
como a expressão e os jeitos
que para cantar se vão dando à voz
todos os versos andam já feitos
de brincadeira dentro de nós
Refrão
Oh! meu amigo
não penses que a poesia
é só a caligrafia num perfeito alinhamento
as rimas são, assim como o coração
em que cada pulsação nos recorda sofrimento
e nos meus versos pode não haver medida
mas o que há sempre, são coisas da própria vida
Instrumental
Assim amigo já vez que a poesia
não é só caligrafia, são coisas do sentimento!