se houver um anjo da guarda

Pedro Abrunhosa

Um homem contou-me
Que da montanha
Se toca o céu,
Que se encontrou ao subi-la
Mas ao descê-la
Se perdeu.
Viu rastos de cobra
E pegadas de leão:
â??Esta vida não sobra
Quando se olha só para o chão!â?

E tentou fugir do trilho,
Beijou o tempo como a um filho,
Acordou numa alvorada,
Já sem nada prâ??a esconder
E então falou assim:

â??Se houver
Um Anjo da Guarda
Que me abrace
E se guarde dentro de mim,
Ã? tão só estar só no fimâ?.

Outro homem contou-me
Que da cidade
Se vê o mundo,
Que é tão doce o desejo,
Que nenhum beijo
Ã? profundo.
Viu escadas de ouro
E telhados de rubi,
Pensou que o maior tesouro
Ã? cada qual saber de si.

E tentou fugir da sombra,
Dizer à luz que não se esconda,
Correu as ruas, uma a uma,
Já sem nada prâ??a perder
E então gritou assim:

â??Se houver
Um Anjo da Guarda,
Que me abrace
E se guarde dentro de mim,
Ã? tão só estar só no fimâ?.

â??Se houver
Um Anjo da Guarda,
Que me abrace
E se guarde dentro de mim,
Porque é tão só estar só no fim.

â??Se houver
Um Anjo da Guarda,
Que me abrace
E se guarde dentro de mim,
Ã? tão só estar só no fimâ?.
Porque é tão só estar só no fim.