selo de sangue

José Fortuna

Lá do campo de batalha
O pracinha escrevia
Pra sua noiva dizendo
Da saudade que sentia
De como era examinada
Toda carta que saia
Mandava boas noticias
A verdade não dizia

Um dia chegou uma carta
Estava escrito Lurdinha
Eu estou bem de saúde
Enquanto ler estas linhas
Por não te outro presente
Junto com esta cartinha
Tire o sêlo do envelope
E guarde por lembrança minha

Tirou o sêlo da carta
Com sangue estava assinado
Estou sem as duas pernas
Num hospital internado
Lourdinha foi a capela
Rezar por seu bem amado
Pra que Deus mandasse ele
Mesmo que fosse Aleijado

E quando a terceira carta
A lourdinha recebeu
Tirou o selo da carta
E com espanto percebeu
Por baixo não tinha nada
Rasgou o envelope e leu
Que num hospital de guerra
O seu amado morreu

Lourdinha ficou doente
Pouco tempo mais durou
Dois selo tão pequeninos
Destruiu tão grande amor
O primeiro trouxe sangue
Com que seu noivo assinou
E o derradeiro envelope
Foi a morte que selou.