Voz Sem Medo

ele só tinha 16

Ele só tinha dezesseis, o enterro dele é as seis
Quem é o próximo eu não sei, não se antecipe a sua vez (bis)

Moleque folgado, assim todos diziam
Não pedia licença, nem dava bom dia
Tinha sempre uma resposta, na ponta da língua
Quem engatia pede tia se não tem parceiro a gente cria.
Filho de mãe solteira, herdou do pai
A cara feia e o coração, seus sentimentos;
Herdou também o nome branco, na certidão de nascimento.
Se orgulhava em dizer eu nasci foi na ceilândia
E me criei nas ruas de samama
Não entendia nada de verbo,
Nem de expressão numérica, geografia,
História pra que que serve essas merdas.
Se no colégio não entra de boné e nem de touca
Frescura e preconceito a diretora que se foda
Esses dias um moleque entrou com uma arma,
Apavorou meteu bala, tudo por causa de uma brincadeira.
Tem gente que mata por besteira, outras por necessidade
Ou falta de opção ou simplesmente
Pra ganhar moral em cima dos irmãos.
A verdade é que depois do primeiro você pega gosto,
Perde o medo, tem uns pesadelos, vai preso,
Passa um tempo no caje, apanha dos ratos vira interno.
Compre medida sócio educativa, muda de vida,
Conhece um pouco do inferno.
Mas quando sai, sai mais esperto,
Tô até pensando em abrir comércio,
Tipo uma micro empresa com funcionário e tudo,
A diferença é que eu não pago imposto, só lucro.
Dinheiro gera dinheiro, o meu negócio tem futuro...

Ele só tinha dezesseis, o enterro dele é as seis
Quem é o próximo eu não sei, não se antecipe a sua vez (bis)


Moleque folgado, assim todos diziam
Não abaixava a cabeça nem pagava homicídios,
Tava crescendo na vida, de forma errada,
Mas quem liga! juiz, promotor, assistente social
Nas ruas não é assim, tem sempre uns paga pau,
Que quando você estampa code, nas prata e de nike shox,
Com umas numeradas no bolso, rindo atoa,
Só ouro não falta troco, manda e desmanda,
Quem fala alto aqui é a onça,
Tá afim cola ali com os maluquinhos la na esquina;
Esquenta não que aqui é tudo a mesma firma
Cada um com a sua comissão, só depende
De você e da sua ambição.
Sete dias por semana, vinte quatro horas por dia,
Feriado é hora extra só alegria.
Moleque folgado assinou um contrato
Que não exigiu experiência, nem ser maior de idade,
Só a promessa de trabalho fácil e dinheiro rápido,
E sem contar com as donas gostosas que sempre cola,
Onde tem droga e pistola; é muito fervo em pouco tempo...
As folhas se vão com o ven...en...tô.
Não se mistura trabalho e diversão,
O dinheiro escorrega pelas mãos...
Consumir mais do que vende, é puxar o próprio tapete,
Tropeçar nas próprias pernas
As cobranças veem quando você menos espera,
Desanda, perde a confiança, aumenta as dívidas,
Game over, não acredita, vai pagar com a própria vida.
Morrer devendo é servir de exemplo.
Provar do próprio veneno, sinistro,
Mas quem perdoa é jesus cristo.
Nesta madrugada, caiu na calçada,
Mas um premobiu que foi mais cedo subiu,
Infelizmente preto igual a nós,
Que ainda ontem desfilava pra cima e pra baixo de cross.
Mas já tinha assinado um 12, passou por um 14,
Porte de armas, tráfico de drogas, tá aí uma coisa
Que a sociedade reprova, escutaram os tiros,
Mas ninguém sabe, ninguém viu, ninguém abriu as portas,
Só sei que choveu a noite toda, a lei do silêncio detona,
A polícia chama isso de acerto de contas.

Ele só tinha dezesseis, o enterro dele é as seis
Quem é o próximo eu não sei, não se antecipe a sua vez (bis)