MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
cezar passarinho - guri
Das roupas velhas do pai
queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa
e uma bombacha e me desse
Queria boinas e alpargatas
e um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas
no meu petiço sogueiro
Hei de ter uma tabuada
e o meu livro queres ler
Vou aprender a fazer contas
e algum bilhete escrever
Pra que a filha do seu Bento
saiba que ela é meu bem querer
E se não for por escrito
eu não me animo a dizer
Bis
Quero gaita de oito baixos
pra ver o ronco que sai
Botas feitio do Alegrete
e esporas do Ibirocai
Lenço vermelho e guaiaca
compradas lá no Uruguai
Pra que digam quando eu passe
sai igualzito ao pai
E se Deus não achar muito
tanta coisa que eu pedi
Não deixe que eu me separe
deste rancho onde nasci
Nem me desperte tão cedo
do meu sonho de guri
E de lambuja permita
que eu nunca saia daqui
cezar passarinho - os cardeais
Não chora, menina, não chora por que foram-se os cardeais
Se cantavam, na prisão campo a fora cantam mais
Tanta gente, anda vagando sem saber onde pousar
Mas as aves, só voando é que podem se encontrar
(Você ainda não sabe o que cabe nesta paz
Quando a gente, abre as asas nunca mais, nunca mais) Bis
Era tão triste menina não tinha aceno este cais
Na despedida eram dois depois, depois eram mais
A gaiola abriu as asas por que até a prisão se trai
E o campo se fez casa para o canto dos cardeais
cezar passarinho - assim no más
Por conhecer a lida que a vida me deu
Meu galopear de moço escaramuça de dor
Quando te vejo vindo meu fruto da mata
Arrastando alpargata carente de amor
Parece que o silêncio das rondas noturnas
Amontam o potro arisco da imaginação
Quando te espero cedo meu rumo isolado
Lavando o amargo apesar da ilusão
(Esporiei reminiscências com pesadas nazarenas
Na esperança que a saudade amansassem as minhas penas)
Mais dias menos dias domando pelegos
Vou arranjar sossegos que a espera me deu
Embriagando mágoas nas águas da sanga
Onde sovei as pampas meus sonhos nos teus
Nas ressolanas tardes de anseios trocados
A terra prometida arando restevas
Guardando pra semana o mel da lichiguana
E a manhã castelhana que habita as estrelas
E assim no más me perco alumbrado de achegos
Em meio a circunstância dos mesmos juncais
Que te acolheram nua meu resto de lua
No poente charrua emponchado de paz
cezar passarinho - campo e flor
Quem me dera ter um rancho
Chinita flor dos trigais
Para viver nossas vidas
Não se apartar nunca mais
Quem me dera ter tropilhas
De gateados cor-da-aurora
Para mostrar minha estampa
Luzindo o aço da espora
Não tenho rancho nem quincha
Ao me abrigar nas pousadas
Tampouco tenho os cavalos
Pra formar minha manada
Mas garanto neste tranco
Na estrada do meu caminho
Não ando só nestas trilhas
Tão roseteadas de espinhos
Com ela vou ter um rancho
Não importa se barreado
Pois neste catre de sonhos
Te quero sempre ao meu lado
E quando então neste rancho
Pra nós se fizer morada
Não serás só companheira
Mas eterna namorada
Não serás só companheira
Mas eterna namorada...
cezar passarinho - faz de conta
Calça curta,
pés descalços,
E pra defender meu pago,
Uma espada de alecrim,
Fui o leão do Caverá,
Fui feliz quando fui pia,
Tive um mundo só pra mim.
Eu fui herói fui bandido,
Fui senhor das sesmarias,
Nestas minhas fantasias,
Tive muitos inimigos,
E o cardeal das laranjeiras,
Me avisava dos perigos.
Ã? cavalo Honório Lemes,
Pegue as "arma" e te prepara.
Que aí Vem Flores da Cunha
No seu flete de taquara.
Tempos de doces lembranças
Que o faz de conta criou
Mundéus de crinas trançadas
Forcas que o vento balança,
Para os tempos de crianças
Que o próprio tempo ariscou.
Homens de um tempo sem medo,
Para exemplo nos brinquedos,
Que a vida deixou passar.
E o piá de estância de agora,
Já não tem a quem copiar
cezar passarinho - fim de mês
Fim de mês, é minha vez
Outra vez ao teu encontro estou indo
Pra rever o teu sorriso infindo
E também beijar os teus lábios tão lindos
Fim de mês, estou feliz
Os meus rumos cantam, o coração me diz
Ã? chegada a hora de bandear aquela estrada
Pra poder rever a minha namorada
(Não sei viver sem tua cantilena
Morena linda que é meu bem querer
Tudo que eu preciso são tardes de domingo
Aflorando o nosso conviver
Tudo que eu preciso são tardes de domingo
Aflorando o nosso conviver)
Toda vez que estou por vir
A saudade é um campo que não tem mais fim
Teus anseios são gorjeios em serenata
Festejando a anunciação das madrugadas
cezar passarinho - lavando a alma
Buenas como vai compadre não saio de casa faz uma semana
G
Ando arrocinando a laia de uma égua baia lá de uruguaiana
Passo alimentando a fiasco de um terneiro guacho que soltei no pasto
Mas gosto de mimar o potrilho pisoteando o milho que arrumei pro trato
(Quem teima ser peão nesta vidinha estancieira
Tem alma de peão sempre invernia com as ovelhas
Ah coração que vida bendita
Eu posso não gostar de uns troços
Mas o que é nosso é sempre bom cantar)
Eu acho meu compadre amigo que o lugar que eu vivo anda por demais
O cusco anda pelo açude descobrindo o mundo que avistou por lá
O piazito tá com a mãe arrumando bóia pra engordar os cavalos
E as galinhas de bochincho tão fazendo cisco só pra me chatear
Ã? sempre bom cantar, é sempre bom cantar
cezar passarinho - moirão a moirão
De certa feita lá pelas tantas
troquei de manhas meu andejar
lanhei meu braço,tiro de laço
na pica ardia do linguajar
num gole feio de um tira gosto
Num buenas tardes me fui chegando
desencilhando qualquer domingo
onde termino me aquerencando
E vez por outra num lusco-fusco
de brilho um forte me tapo o rastro
onde me escapo da marcação
e num boleio de despedida
me desespero levando a vida
como alambrado
moirão a moirão
Por certo ainda de muito andar
meu fim de mundo terá lugar
e as distâncias que peregrinam
darão aos lírios onde brotar
de palo a palo tranqueando a sorte
por invernadas irei seguir
arremedando os vagalumes
meus queixumes virão bulir
E vez por outra num lusco-fusco
de brilho um forte me tapo o rastro
onde me escapo da marcação
e num boleio de despedida
me desespero levando a vida
como alambrado
moirão a moirão
cezar passarinho - na paz do galpão
A tarde cai, eu camboneio um mate
Junto ao braseiro do fogo de chão
O pai-de-fogo, puro cerne de branquilho
Queimando aos poucos na paz do galpão
O mesmo inverno coloreando o poente
Final de lida, refazendo o dia
Lá no potreiro meu baio pastando
No cinamomo um barreiro em cantoria
Por certo a tarde em outros ranchos da campanha
Por serem humildes tenham a paz que tenho aqui
Pois só quem traz sua querência dentro d'alma
Sabe guardar toda esta paz dentro de si
Encosto a cuia junto ao pé do pai-de-fogo
Chia a cambona repontando o coração
Nas horas mansas que a guitarra faz ponteio
Numa milonga pra espantar a solidão
Ã? lento o tempo na paz do galpão
Ainda mais quando a saudade bate
As soledades vou matando aos poucos
Na parceria da guitarra e do mate
Então a noite se acomoda nos pelegos
Povoando os sonhos de ilusão e calma
Toda essa paz é um bichará pro inverno
Faz bem pro corpo e acalenta a alma.
cezar passarinho - negro da gaita
Mata o silêncio dos mates, a cordeona voz trocada
E a mão campeira do negro, passeando aveludada
Nos botões chora segredos, que ele juntou pela estrada
(Quando o negro abre essa gaita
Abre o livro da sua vida
Marcado de poeira e pampa
Em cada nota sentida)
Quando o pai que foi gaiteiro, desta vida se ausentou
O negro piá solitário, tal como pedra rolou
E se fez homem proseando, com a gaita que o pai deixou
E a gaita se fez baú para causos e canções
Do negro que passa a vida, mastigando solidões
E vai semeando recuerdos, por estradas e galpões
cezar passarinho - o negro de 35
A negritude trazia a marca da escravidão
Quem tinha a pele polianga vivia na escuridão
Desgarrado e acorrentado, sem ter direto a razão
Castrado de seus direitos não tinha casta nem grei
Nos idos de trinta e cinco, quando o caudilho era o rei
E o branco determinava, fazia e ditava a lei
Apesar de racional, vivia o negro na encerra
E adagas furavam palas, ensangüentando esta terra
Da solidão das senzalas tiraram o negro pra guerra
(Peleia, negro, peleia pela tua independência
Semeia, negro, semeia teus direitos na querência)
Deixar o trabalho escravo, seguir destino campeiro
As promessas de igualdade aos filhos no cativeiro
E buscando liberdade o negro se fez guerreiro
O tempo nas suas andanças viajou nas asas do vento
Fez-se a paz, voltou a confiança, renovaram pensamentos
A razão venceu a lança e apagou ressentimentos
Veio a lei Afonso Arinos cultivando outras verdades
Trouxe a semente do amor para uma safra de igualdade
Porque o amor não tem cor, sem cor é a fraternidade
(Peleia, negro, peleia com as armas da inteligência
Semeia, negro, semeia teus direitos na querência)
cezar passarinho - poema à moça da janela
morena quando te vejo, balanqueada na janela, fico
floreando a barbela, mordendo a perna do freio, e
desenqueto pateio,
enredado num olhar, sou pingo do teu andar,pra
carregar teus anseios.
e quando um sorriso esboças, carregado de promessas, é
o proprio céu as avessas com tormentas e lampejos, e
um temporal de desejos vem respingar no meu gozo,
levando um rosto mimoso junto aos meus sonhos
andejos.
Noite alta quando cruzo neste rancho onde te abrigas,
da alma vertem cantigas rasteando rimas de prata,
o coração bate pata, correquiando ao Deus dará e a
janela ali está como a pedir serenata.
gritarei o meu silêncio em muda e louca seresta, na
janela em cada fresta, mil ouvidos a escutar
por certo estás a sonhar, a alma leve solta ao vento,
eu queria estar ai dentro, para te ouvir ressonar,
amanhã um outro dia, andarei longe da querencia
recrutando uma ausência que ficou de sentinela, quero
ver
os olhos dela quando retornar do povo, lá está moça
de novo na moldura da janela.
Noite alta quando cruzo neste rancho onde te abrigas,
da alma vertem cantigas rasteando rimas de prata,
o coração bate pata, correquiando ao Deus dará e a
janela ali está como a pedir serenata.
cezar passarinho - que homens são esses
que homens são esses
que fogem a luta
será que não sabem as glórias do pago
que homens são esses que nada respondem, que calam verdades, que reprimem afagos
que homens são esses que trazem nas mãos o freio, o cabresto, a redia e o buçal
que homens são esses que tem o dever de fazer o bem, mas só fazem o mal
eu quero ser gente igual aos avós
eu quero ser gente igual aos meus pais
eu quero ser homem sem máguas no peito
eu quero respeito e direitos iguais
eu quero este pampa semeando bondade
eu quero sonhar com homens irmãos
eu quero meu filho sem ódio nem guerra
eu quero esta terra ao alcance das mãos
que sejam mais justos os homens de agora
que cantem cantigas antigas e puras
relembrem figuras sem nada temer
procurem um mundo de paz na planura
e encontrem na luta, na força e na raça
um novo caminho no alvorecer
desperta meu povo do ventre de outrora
onde marcas presentes não são cicatrizes
desperta meu povo liberta teu grito
num brado mais forte que as proprias raizes
eu quero ser gente igual aos avós
eu quero ser gente igual aos meus pais
eu quero ser homem sem máguas no peito
eu quero respeito e direitos iguais
eu quero este pampa semeando bondade
eu quero sonhar com homens irmãos
eu quero meu filho sem ódio nem guerra
eu quero esta terra ao alcance das mãos
eu quero ser gente igual aos avós
eu quero ser gente igual aos meus pais
eu quero ser homem sem máguas no peito
eu quero respeito e direitos iguais
eu quero este pampa semeando bondade
eu quero sonhar com homens irmãos
eu quero meu filho sem ódio nem guerra
eu quero esta terra ao alcance das mãos
cezar passarinho - sonho de seresteiro
Lembro cantigas, poemas.
Sobre a imagem da janela.
Surgiu a face mais bela.
Nas grades da casa antiga.
No chão senta o seresteiro.
Rasga viola e garganta.
Empolgado quando canta.
Excitado quando mira.
Surgiu na porta um semblante.
Quebrando o negro da noite.
Sentou, escutou e trouxe.
A inspiração pra quem canta.
A lua prateada e ouro.
Da cor daquela morena.
Pra quem dediquei meus versos.
Atriz principal da cena.
Queria parar o mundo
Mesmo que fosse uma hora
Pra continuar madrugadas
E a noite não ir embora
Depois descansar no leito.
Feito de nuvens macias.
Querendo laçar a lua.
Pra galopear pelos dias.
Nos canteiros do universo.
Colherei as Três-Marias.
Da inspiração dos planetas.
Guardei pra ti mil poesias.
Queria parar o mundo
Mesmo que fosse uma hora
Pra continuar madrugadas
E a noite não ir embora
Depois descansar no leito.
Feito de nuvens macias.
Querendo laçar a lua.
Pra galopear pelos dias.
Nos canteiros do universo.
Colherei as Três-Marias.
Da inspiração dos planetas.
Guardei pra ti mil poesias.
Da inspiração dos planetas.
Guardei pra ti mil poesias.
cezar passarinho - um pito
Olha, Guri ! Repara o que estás fazendo,
Depois que fores é difícil de voltar;
Passei-te um pito e continuas remoendo,
Teu sonho moço deste rancho abandonar.
Olha, Guri ! Lá no povo é diferente,
E certamente, faltará o que tens aqui;
Eu só te peço: Não esqueça de tua gente,
De vez em quando, manda uma carta, guri.
. . . . . . .REFRÃ?O . . . . . .
Se vais embora, por favor não te detenhas,
Sigas em frente e não olhes para trás;
Assim não vais ver a lágrima insistente,
Que molha o rosto do teu velho, meu rapaz
Olha, Guri! Prá tua mãe, cabelos brancos,
E pra este velho que te fala sem gritar;
Pesa teus planos, eu quero que sejas franco,
Se acaso fores, pega o zaino pra enfrenar.
Olha, Guri! Leva uns cobres de reserva,
Pega uma erva pra cevar teu chimarão;
E leva um charque, que é pra ver se tu conservas,
Uma pontinha de amor por este chão
Cds cezar passarinho á Venda