miro saldanha - o canto do carreteiro
Sonolento fim de tarde
De um retalho de verão
Cascos que vieram de longe
Martelando sobre o chão
Pés descalços na poeira
Marcas de calo na mão
Lábios que juntam sem pressa
Fragmentos de canção
(Vai, carreta vai
Rodando vai
Que o tempo é patrão
Em cada roda que gira
Corta tiras deste chão
Vai, boiada vai
Que há bocas que choram
Com fome de grão
E da terra que o boi amassa
Vem a massa do meu pão)
Ã? noite, vem a saudade
Se chegar branda e faceira
Cantando frases perdidas
Da toada carreteira
As mãos, num gesto de fada
Torcendo vestes caseiras
Penduram trapos de sonhos
Nos arames da porteira
(Vai, carreta vai
Rodando vai
Que o tempo é patrão
Em cada roda que gira
Corta tiras deste chão
Vai, boiada vai
Que há bocas que choram
Com fome de grão
E da terra que o boi amassa
Vem a massa do meu pão)
Ainda, a última brasa
Teima em ficar acordada
Queimando um resto de vida
Na fogueira já cansada
Lá se vai o carreteiro
Deixando atrás a toada
Escrita em letras de poeira
Pelos cascos da boiada
(Vai, carreta vai
Rodando vai
Que o tempo é patrão
Em cada roda que gira
Corta tiras deste chão
Vai, boiada vai
Que há bocas que choram
Com fome de grão
E da terra que o boi amassa
Vem a massa do meu pão)
miro saldanha - perfil gaúcho
Quem nasce na Pampa bruta
Já sabe a luta como será!
Quem dorme sobre um pelego
Não tem apego ao que o ouro dá!
Quem tem o corte pra a lida
Empurra a vida e sabe que Deus dará!
O que é bom já nasce feito
E melhora um eito se nasceu lá!
(Ausente, fico sem jeito,
Me sinto feito pela metade!
São parte do meu retrato
Capão de mato, várzea e coxilha!
Só o vento de encontro ao rosto
Devolve o gosto da liberdade,
E eu volto a ser eu, inteiro,
Sentindo o cheiro da maçanilha!)
Um velho ditado diz
Que quem é feliz já enriqueceu.
Numa mala de garupa
Cabe, num "upa", tudo o que é meu!
O que eu tenho não tem preço
E eu agradeço tudo o que Deus me deu!
Não vim ao mundo por luxo
E, sendo gaúcho, já sou mais eu!
(Ausente, fico sem jeito,
Me sinto feito pela metade!
São parte do meu retrato
Capão de mato, várzea e coxilha!
Só o vento de encontro ao rosto
Devolve o gosto da liberdade,
E eu volto a ser eu, inteiro,
Sentindo o cheiro da maçanilha!)
Eu tenho o perfil de um povo
Que mescla o novo e a tradição;
Quem quiser me ver de perto,
Ã? o momento certo pra um chimarrão!
De longe, verá uma estampa
Guardando a Pampa pra nova geração;
Com Deus do lado direito,
O mapa no peito e o laço na mão!
(Ausente, fico sem jeito,
Me sinto feito pela metade!
São parte do meu retrato
Capão de mato, várzea e coxilha!
Só o vento de encontro ao rosto
Devolve o gosto da liberdade,
E eu volto a ser eu, inteiro,
Sentindo o cheiro da maçanilha!)
miro saldanha - pilares
Declamando:
?Senhor dos céus e da terra, fonte do afeto mais puro
Perdão, se só te procuro quando me encontro em desgraça
Mas, reconduz nossa raça aos padrões do inicio
Para que o teu sacrifício não tenha sido de graça.?
Pai, vim conhecer tua morada, me renovar na tua proteção
Vim seguindo os teus passos pela estrada
Com a alma no olhar, chapéu na mão
Meu sangue tem o sangue dos caudilhos
Meu mundo foi o lombo de um cavalo
Mas esse mundo novo é o dos meu filhos
E sendo pai bem sabes do que falo
O homem por ser livre criou asas
E fez da liberdade uma prisão
Tá tudo errado pai, caiu a casa.
Por isso eu vim te abrir meu coração
refrão
Me ajuda Pai, quero criar meus filhos
Do jeito que meu pai criou a mim
Me ensina a vencer tantos empecilhos
E acreditar no certo até o fim
Que a força da verdade ainda vale
Do jeito que valia lá da onde eu vim
Pois temo que meu filho um dia fale
Verdades mudam. Pai não é assim.
Tentei falar do amor e do respeito
Do tempo em que se amava uma vez só
Disseram que eu revisse os meus conceitos
Pois tudo que está velho vira pó
Vejo meninas moças se vendendo
Já cegas pelo brilho dos anéis
Casamentos de amigos se perdendo
Jogados pelo ralo dos motéis
Não deixa pai que caiam os pilares
Os poucos que ainda estão de pé
Lá fora a droga ronda nossos lares
E eu vim aqui pra não perder a fé
Refrão
Que a força da verdade ainda vale
Do jeito que valia lá da onde eu vim
Pois temo que meu filho um dia fale
Verdades mudam. Pai não é assim.
enviado por Dyddo Duarte
miro saldanha - pra onde voltar
Olhei o mundo do lombo do ruano
E achei tão plano pra me segurar
Quem tudo enxerga, só não vê o engano
Mil horizontes vinham me encontrar
Tranquei minuanos no rancho tapera
E a primavera não me achou por lá
Troquei por nada o que já pouco era
E o peão que eu era se mudou pra cá
Cortei as canhadas
Venci as distâncias
Na poeira da estrada
Deixei as estâncias
Na louca jornada
Buscando o meu sonho de piá
Achei outro mundo
Peões em repontes
De olhos no fundo
Debaixo das pontes
Tornei a buscar horizontes
Porém já não tenho
Pra onde voltar
Fiz preces xucras de cristão teatino
Ao Deus menino que me há de escutar
Pra que não sigam o meu desatino
Neste destino de ilusão sem par
Daqui meu sonho volta ao tranco largo
Nas poucas horas que posso sonhar
Juntando frases num refrão amargo
Que esta saudade me obriga a cantar
Cortei as canhadas
Venci as distâncias
Na poeira da estrada
Deixei as estâncias
Na louca jornada
Buscando o meu sonho de piá
Achei outro mundo
Peões em repontes
De olhos no fundo
Debaixo das pontes
Tornei a buscar horizontes
Porém já não tenho
Pra onde voltar
miro saldanha - princípios
Moça, escuta um minuto e me olha de frente!
Eu tenho em caráter urgente o que vou te falar!
O brilho em meus olhos demonstra que são verdadeiras
As poucas palavras matreiras que eu tento juntar.
Começo é desfile de imagens, promessas vazias,
Posturas que o dia-a-dia vai desmascarar;
Por isso, é melhor me mostrar;
Talvez pra parar por aqui
Se, acaso, conceitos antigos não sirvam pra ti.
(Eu creio que a mãe amamenta e que o seio é pureza;
Que o pai põe o pão sobre a mesa e retira o chapéu;
E que, enquanto existir Deus no céu
E um teto por sobre um casal,
O amor repetirá no tempo esse mesmo ritual!
E ainda que o mundo, girando, no abismo se jogue,
E o homem, sem rumo, se afogue em prazeres banais,
Quando o sol, que fecunda os trigais,
Voltar a deitar sobre a flor,
Guitarras pontearão milongas pra falar do amor!)
Que bom que a mulher, hoje em dia, apressou o passo
E ajuda a segurar os laços de uma relação!
Mas a idéia de casa e família virou sacrifício
E eu não vejo a rua e o vício como evolução.
Eu te quero, e não é pra brinquedo de casa e separa!
E é bom que quem olha na cara veja o coração!
Entendo que os tempos mudaram!
Porém, pelo sim, pelo não,
Princípios resistem ao tempo e jamais mudarão.
(Eu creio que a mãe amamenta e que o seio é pureza;
Que o pai põe o pão sobre a mesa e retira o chapéu;
E que, enquanto existir Deus no céu
E um teto por sobre um casal,
O amor repetirá no tempo esse mesmo ritual!
E ainda que o mundo, girando, no abismo se jogue,
E o homem, sem rumo, se afogue em prazeres banais,
Quando o sol, que fecunda os trigais,
Voltar a deitar sobre a flor,
Guitarras pontearão milongas pra falar do amor!)
...Guitarras pontearão milongas pra falar do amor!
Guitarras pontearão milongas pra falar do amor!
miro saldanha - duas notas