rimas e melodias - coroação
Desde que nasci
Vítima
Da crueldade que o racismo dita
Vítima
Da história que os livros de história ainda invisibiliza
Chega de senzala
Dandara
Nossa luz exala superação
Desde a senzala nosso corpo sempre foi alvo da hipersexualização
Canto alto por libertação, legitimação
Ouça nossa voz
Nova geração, não corremos sós
Chegou o dia da coroação
É noiz por noiz
Tô por noiz pegando o que tiraram das nossas mãos
Sonhos que tiraram das nossas mães
Tanto dano, fruto de tanta ambição
Quantas Maria Eduarda vão ter que morrer pra despertar sua comoção
Seus olhares são como balas perdidas
Não hesitam em barrar nossa ascensão
Tô pra peitar cada um que julga
Foda-se os padrões, tô tipo a Conká
É o poder das preta, ceis tem que aceitar
Nossa existência vem pra comprovar
Vem pra comprovar
Jamais fomos menos, não queremos menos
Eu tô pra cobrar
Na casa grande o senhor do engenho burla leis
Chamam de política
Na cidade grande o senhor do engenho
Se chama Segurança Militar
É sobre lutar, sobre nos amar
É sobre viver e sobreviver
É sobre lutar, sobre conquistar
É sobre fazer valer
Toda força, mulher preta
Toda garra, mulher preta
Quanta força, mulher preta
Somos glória, mulher preta
Vim passar a visão sou colírio, querem apagar nosso brilho
Nossa cor é empecilho
Teu olhar torto já não me intimida, de lá pra cá já muito reprimidas
Deprimidas, muito orgulho hoje de cabeça erguida
Quem tiver na mesma então me siga
O papo é de progresso não de intriga, mas se liga
Querem te vender uma imagem européia que não condiz com a tua
Pretinha não abraça que não estamos na TV e sim na rua
Porque lá somos a cota, só nos chamam quando eles querem
Botam meia dúzia pra não ficar chato mas sabemos o que preferem
Termos pejorativos nos referem, que a nossa beleza e exótica
Eu não sou mula nem anta, examine sua ótica
A cor do pecado, só vou te dar um recado,
Se o bolso tiver lotado as pretas não tão do lado
Não tô falando caô, não dão o devido valor
Dá pra contar quantas vezes vi uma com um jogador
Também não temos rivais, só não tratadas iguais
Bem claro os dados não mentem e nós morremos mais
Não vou carregar esse estigma e terão que nos levar a sério
Várias pretas articuladas nós temos poder pra montar um império
Marruda nós somos, fechamos a cara
Fortemente a gente declara
que nós não vamos morrer na praia, então se prepara!
rimas e melodias - origens
Filha de Myriam e Manchão
Um Salve Sussu e Renan
Chegou a Melissa, já temos Ruan
E a Carla na contenção, ó
Minha disciplina eu aprendi no CKP
Sem arrumar problema, mas pronta pra resolver
Desde pequena energia plena e mente serena
Cês deveriam prever
Com um metro e oitenta e não parando de crescer
Sabe quem orienta pelas ruas? Laroyê
Quem não sabe inventa
Não toma tento, nem tenta
Eu sou do fogo que venta que te queima e cê nem vê
Eparrey, me firmei
Desde o luz do amanhã
Tamborim, me criei
Faço jus aos balangandãs
Ainda nem tinha fãs
Já amava tantãs, fiz irmãs
Nas roda de dança, terror nas andanças
Fizemos mudança e canção, é
Quem treina não cansa, quem sabe é missão
Com a benção de Iansã
Vamo girar o mundão!
Nas bike sem freio me equilibrei e das armadilhas e eu me livrei
Criança de vila, nasci das batida, tem que ter swing, eu suinguei
Meu pai baterista, baiano, axé
Sou pérola negra, Olodum maré
Mãe nascida em Recife, porreta, afiada tipo peixeira, então bota fé
Nordeste me trouxe minhas rima é arrocha, arrocha
Crescida em Sampa, me viro a pampa
Forte igual rocha, rocha
Com samba no pé, destino nas mãos
Eu sou violão e as percussão
Eu sou batidão, Claudinho e Bochecha
Ndee Naldinho, vixe, muita treta
Os black total, sou black total
Os passo de baile e os carnaval
Realidade dura que nem rapadura, valor da minha vida não vem nas fatura
Família é força, eu me arrisco
Por amor eu risco, ponho amor nos disco
No sangue o som, na minha cor o tom
Eu tô pelos palco e tô na função
Vim dos 90, tô rumo aos 30
Minha mãe nos 40 tá mais foda ainda
Sou papo reto, brasileira, digo
Rap é mais que ofício, pacto sanguíneo
Ela é
Neta de nordestino
E na história dela tem uma mistura de preto com índio
Infância humilde, mas fizeram um corre
Meus avós honraram
Nosso sobrenome
Santos
Assim como tantos a trabalhar vieram de lá
Entre suas mãos linhas e agulhas, panela, colher, cimento, rastelo, martelo e pá
Corações doíam, falta da sua terra
Eles só queriam casa pra morar
Nunca vi na vida faltarem com a fé, foram dois guerreiros a me ensinar
Se eu tô aqui (é por eles é)
Tenho que ser forte (é por eles é)
São os meus amores, minha bênção
Eu daqui não quero decepcionar
Essa é minha jura, minha oração
Salve os meus Eurides e Abdon
Nóiz vem tipo os milk shake
Mistura deliciosa
Tesão pique sextape
Esses flow você não decora
Eu cheguei nesse continente (Terra Brasilis), fodeu agora
Sou Portugal, Itália e provavelmente Angola
Sim, eu sou cria da Umbanda
Do Sul do Brasil outras banda
Budismo e herança africana, correm no sangue da curitibana
Já me preparei pra demanda, sou daquelas preta que manda
O rap me fez corajosa, chamo as outras preta de mana
Ancestralidade que emana, nosso tamborzão bate forte
Sou índia, sou preta, sou branca
Trabalho pesado e um pouco de sorte
Nam Myoho Rengue Kyo, comigo ninguém pode
Sincretismo de Buda, Zion de Souza de Oxossi!
Hey
Se hoje sou quem eu sou, muito amor
Gratidão família Ramos e Nabor
Almoço de domingo, Jorge Ben nos falantes
Música de preto nós todos somos amantes
Na quadra da Vila Alice ensaio da bateria
Minhas tias no porão costurando as fantasias
Meu vô Milton presidente, eu vim do berço do samba
Tá no meu DNA malandragem de vários bambas
No quintal, o Alê cortava os black power da função
Ver os preto na estica dava mó admiração
E pra minha autoafirmação foi fundamental
Rappin' Hood, Sou Negrão, me fez sentir especial
Meu irmão ligava toda aparelhagem e fazia os bailinho de garagem
No passinho era viagem
Quando vem essas imagens mostra que eu fui bem feliz
Aprendiz do ABC, sempre honrando minha raiz
Zona sul é paz no caos
Brincar na rua à noite era tão normal
Felicidade era um anime matinal
Destino veio pra alguns de forma tão cruel
Zona sul é paz no caos
Família preta tradicional
Samba-rock, melodia, coisa e tal
Sobrevivendo no inferno em estado racional
Aos oito correndo na rua de terra
O que tinha de sonho não tinha na mesa
Pouco tempo depois papel e caneta
Podia ser samba mas já tava escrito em algum lugar
Zona sul é paz no caos
Tudo que era letal
Virou dom de não querer ser igual
Criptonita um veneno visceral
rimas e melodias - paradoxo
Complexo e contraditório
Nossa história é tipo um clássico de repertório
E a cada ato, o fato se torna bem mais notório
Desato fios enquanto nós se tornam decisórios
Os dias vão e vem, eu penso em te ligar
Enquanto eu penso, sinto vibrar o meu celular
A conexão que a gente tem, é difícil de explicar
Então desliga e vem me encontrar
Que eu já não aguentava mais imaginar
Paradoxo, paradoxo
O que cê diz não condiz com que eu posso
E não importa o quanto eu me esforço
Digo que é meu, mas isso tudo é nosso
Eu te vejo imerso em questões, limitações, dúvidas e aflições
Sente saudade mas é incapaz de demonstrar
Desvia o olhar para eu não te enxergar profundo
Meu mundo é tão seu, saiba aceitar
Somos risadas e abraços
Se estamos juntos faz tudo fluir, espirituais laços
E nesse mundo você baixa guarda, se entrega p/ mim, é corpo e é alma
Eu te observo comigo dormindo
Cê fica tão lindo quando está em paz
Mas é tão complicado, não dá p/ entender
Não faz sentido você não querer estar ao meu lado
Paradoxo, paradoxo
O que cê diz não condiz com que eu posso
E não importa o quanto eu me esforço
Digo que é meu, mas isso tudo é nosso
Teus traumas me confundem e meus traumas te assustam
Na contramão de tudo, nossas almas se juntam
Se rende, sinto você me querendo
Tá percebendo isso que está florescendo?
Tá vendo como os nossos olhos brilham?
Os nossos olhos brilham
rimas e melodias - vivência
Seu olho me julga, né, mas cê não sabe de nada aqui
O quanto eu tive que ralar pra chegar onde eu to no sonho de ser MC
Sou MC, eu
Tô nessa porquê eu quero, me sinto necessária nessa porra me entrego
Escrevo minha vida num plano estratégico
Mente no teto, jão, e os pés no chão
Meu rosto maquiado te causa receio, cê pensa que minha vida é um eterno recreio
Me julga sem saber quem eu sou e de onde eu venho
E o que eu abdiquei pelo meu desempenho, alto
Eu sempre quis voar mais alto
Deixei a vida mansa e mudei de estado
Se eu quero eu consigo, hã, fato, de fato, é
Trabalho pesado, somente nisso
Só falo de rap, isso é um indício
Dinheiro pesado é difÌcil, mas eu tenho milhões de artifícios
Noiz é foda e você sabe disso, tanto quanto esse primeiro disco
Rimas e melodias meus vícios, valem todo esse sacrifício!
Uô, yeah
Não me viu na vivência
Me julga nas festa, só fala de aparência
Uô, yeah
Não me viu na vivência
Me julga nas festa, só fala de aparência
Boto minha cara na rua
Dinheiro no balcão do bar
Lanço minhas taças pro ar
Minhas manas no melhor lugar
Quem vai me parar ?
Quero sorriso e drink pra brindar
Quando a agenda lotar
E o trampo que eu dou que por mim vai falar
Uô, yeah
Minha grana eu faço
Quando eu domino palco
Olhares é mato
Cê não entende o corre que eu faço
E as linhas que eu traço
Sobre os veneno que eu passo
Barriga de fora ela só quer dançar
Sem perder o refrão
Sem sair do tom
Com a bunda no chão
Com copo na mão
Sinto por você que não pega a visão
Suor que escorre do corre
Depois vira cifrão
Salve, deu a hora, nóis tá a milhão