raul torres e florencio - a mulher e o trem
Mocinha dos 17
Que anda pintando o sete
Começa a namoração
Ã? trem sem hora marcada
Correndo na disparada
Com falta de lotação
As veis tem pressão de mais
As veis farta pressão
Muié dos seus 30 anos
Que já teve desengano
Ficou nova e não casou
Ã? trem que saiu lotado
Na reta deu resultado
E na subida parou
Esse é trem que teve força
Agora farta vapor
Muié berando os 50
Que quase não aparenta
E passa bem disfarçada
Ã? trem que já correu linha
Com maquina pintadinha
Agora ta reformada
A carga quando é de mais
Esse trem não puxa nada
A mulher namoradeira
Casada diz que é solteira
Enganado a mocidade
Esse é trem que saiu do trilho
Quando entra no desvio
Com muita velocidade
Ã? trem que tem maquinista
Mais não tem capacidade
raul torres e florencio - adeus campina da serra
Adeus Campina da Serra
Lugar que fui moradô
O meu leal coração
Muitas delícias gozô
No prazo de pouco tempo
O meu gosto se acabou
Despediu e foi embora
Quem nesta terra morou
A minha rosa dobrada
Desta terra retirou
Deu o vento na roseira
Minha rosa desfolhou
Quando a rosa despediu
A roseira desmaiou
De paixão e sentimento
Os passarinhos chorou
Adeus coração de bronze
Por outro me desprezou
Hoje eu vivo desprezado
De quem tanto me estimou
Foi um dia de tristeza
Quando ela se mudou
Tantas penas e saudade
No meu peito ela deixou
Adeus carinho de rosa
Rainha de toda flor
Adeus corpo delicado
Zóio preto matador
Numa triste madrugada
Quando ela embarcou
Na onda do mar que trouxe
A maré veio e levou
raul torres e florencio - chapéu de páia
Meu chapéu de páia que é pro sor não me queimá
Meu chapéu de páia que veio do Ceará
Chapéu de páia e um lenço no pescoço
um cinto de couro grosso, muié e cavalo bão
Um ranchinho lá na beira do caminho
uma viola de pinho pra alegrá meu coração
Meu chapéu de páia que é pro sor não me queimá
Meu chapéu de páia que veio do Ceará
Uma espingarda, uma trela de cachorro
pra caçar naquele morro que tem caça como quê
e nos domingos visto meus terno riscado
e caminho pro mercado pros meus porquinho vendê
Meu chapéu de páia que é pro sor não me queimá
Meu chapéu de páia que veio do Ceará
Chapéu de páia, um lenço no pescoço
um cinto de coro grosso, muié e cavalo bão
Um ranchinho lá na beira do caminho
uma viola de pinho pra alegrá meu coração
Meu chapéu de páia que é pro sor não me queimá
Meu chapéu de páia que veio do Ceará
raul torres e florencio - do lado que o vento vai
Adeus, morena! Eu vou
Do lado que o vento vai
Amanhã, muito cedinho,
Peço a bênção dos meus pais.
Me fizeram judiação,
Ã? coisa que não se faz!
Adeus, morena! Eu vou,
Adeus, eu vou pro sertão de Goiás!
Na passagem da porteira
Quem achar um lenço é meu,
Que caiu da algibeira
No pulo que o macho deu.
Quando de ti me afastei,
No Riacho da Alegria,
Tanto os meus olhos choravam,
Como o riacho corria...
raul torres e florencio - ingrata maria
Ingrata Maria (Raul Torres)
1. De noite tive sonhando com você minha princesa.
Acordando não vi nada, o sonho não é certeza.
Eu passei o dia todo chorando só de tristeza.
Essa minha triste vida, eu confesso com firmeza.
Ando vendo em toda parte teu semblante de beleza.
2. Ã? triste viver no mundo amando sem ser amado.
Um coração que padece vive triste e amargurado.
O coração que não ama, vive alegre e descansado.
Quando ocê passa por mim, com seu andar balanceado.
Eu prego os zóio no chão, prá chorá mais disfarçado.
3. Quisera que Deus me desse o prazer de conquistá.
Desse teu zóio tão lindo, aventura de um oiá.
E depois dum certo tempo, sua mãozinha segurá.
Encostada no meu peito, só prá mor dela escuitá.
E sentir o tique-taqui do coração dispará.
4. Eu quisera ser um pente prá ajeitá o teu penteado.
Uma fita cor de rosa no teu cabelo amarrado.
Eu quisera ser a barra do teu vestido rendado.
Eu quisera ser o sarto, do teu sapato dorado.
Prá você pisá bem forte neste coração magoado.
5. A tristeza me acompanha, não tenho mais alegria.
Eu percuro disfarçá essa minha melancolia.
Eu quisera nascer cego, tarveiz assim não sofria.
Ã? melhor viver nas trevas, do que ver a luz do dia.
Do que ver o seu semblante, de você ingrata Maria.
raul torres e florencio - joão de barro
O João de Barro pra ser feliz como eu
Certo dia resolveu
Arranjar uma companheira
No vai e vem com o barro da biquinha
Ele fez sua casinha
Lá no galho da Paineira
Toda manhã o pedreiro da floresta
Cantava fazendo festa
Pra'quela que tanto amava
Mas quando ele ia buscar o raminho
Para construir seu ninho
O seu amor lhe enganava
Mas nesse mundo o mal feito é descoberto
João de Barro viu de perto
Sua esperança perdida
Cego de dor trancou a porta da morada
Deixando lá sua amada
Presa pro resto da vida
E semelhança entre o nosso fadário
Só que eu fiz o contrário
Do que João de Barro fez
Nosso Senhor me deu força nessa hora
A ingrata eu pus pra fora
Onde anda eu não sei
raul torres e florencio - mestre carreiro
Mestre Carreiro, como chama vosso boi?
Chama Sodade de um amor que já se foi
Mestre Carreiro, como chama vosso boi?
Chama Sodade de um amor que já se foi
Lá vem o dia chegando
Vem chegando assossegado
lá vem vindo o sol queimando
Com seus zóio avermeiado
Chama Sodade de um amor que já se foi
Mestre Carreiro, como chama vosso boi?
Chama Sodade de um amor que já se foi
Levanto de madrugada
O meu gado eu vou buscar
A boiada já no carro
Vou indo pros cafezá
Chama Sodade de um amor que já se foi
Mestre Carreiro, como chama vosso boi?
Chama Sodade de um amor que já se foi
Eu tenho meu boi Barroso
Pintassilgo e Bandiá
Minha boiada é ligeira
Disso eu posso me gabar
Chama Sodade de um amor que já se foi
Mestre Carreiro, como chama vosso boi?
Chama Sodade de um amor que já se foi
Eu chego lá no meu rancho
Descanso a minha boiada
Estendo um couro no centro
Da minha cama arranjada
Chama Sodade de um amor que já se foi
Mestre Carreiro, como chama vosso boi?
Chama Sodade de um amor que já se foi
raul torres e florencio - mourão da porteira
Lá no mourão esquerdo da porteira,
Onde encontrei você prá despedir,
Uma lembrança minha derradeira
E um versinho que nele escrevi...
Você, eu sei, passa esbarrando nele
E a porteira bate pra avisar
Você não lembra que sinal é aquele,
E nem sequer se lembra de olhar...
Aqui tão longe, eu pego na viola
Aquele verso começo a cantar
Uma saudade é dor que não consola,
Quanto mais dói, a gente quer lembrar...
Você talvez não sabe o que é saudade,
Uma lembrança você nunca sentiu
Pois de esquecer às vezes tinho vontade,
Esta vontade o meu peito feriu...
No dia que doer seu coração,
Tal a saudade que eu tanto sentí
Você, chorando, passará nesse mourão
Lerá o verso que nele escrevi...
raul torres e florencio - saudades de matão
Neste mundo eu choro a dor,
Por uma paixão sem fim
Ninguem conhece a razão
Porque eu chono num mundo assim
Quando lá no céu surgir
Uma pequenina flor
Pois todos devem saber
Que a sorte me tirou foi uma grande dor
Lá no céu, junto a Deus
Em silêncio a minh´alma descansa
E na terra, todos cantam
Eu lamento a minha desventura desta grande dor
Ninguém me diz
Que sofreu tanto assim
Esta dor que me consome
Não posso viver
Quero morrer
Vou partir pra bem longe daqui
Já que a sorte não quis
Me fazer feliz
Quando lá no céu surgir
Uma pequenina flor
Pois todos devem saber
Que a sorte me tirou foi uma grande dor
raul torres e florencio - no recanto aonde eu moro
No recanto donde eu moro
Eu não posso mais vivê
Se for indo desse jeito
Eu não sei como há de sê
Quando é de tardezinha
Que o sol já vai se escondê
O que mais me aborrece
Ã? vê a mata escurecê
Eu me alembro do passado
Nem não tenho mais prazê
Resolvi fazê viagem
Bem antes de amanhecê
Arriei o meu cavalo
Chamado Caxinguelê
Na garupa levo um pala
Se acaso o tempo chovê
O meu lenço no pescoço
Pra quando ventá tremê
Solto uma ponta pra trás
Pra meu bem me conhecê
Encontrei o meu benzinho
Reclamando do vivê
Ela me pediu chorando
Eu quero ir com vancê
Meu schimit na cintura
Pra nada me acontecê
Solto o meu macho na estrada
Na sistema patines
Vamo embora pro sertão
De nóis ninguém vai sabê
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
raul torres e florencio - trovas gaúchas
Quando a carreta atolou
Na estrada de Soledade
Fui ver o que vinha dentro
Vinha cheia de saudade
(Fui ver o que vinha dentro
Vinha cheia de saudade)
Lá, rá, lá, rá, lá, lá, lá, rá
Lá, lá, lá, rá, lá, lá, lá, rá
Podes partir porque eu
Não vou seguir os teus passos
Chinoca se arrependeu
Voltou de novo a meus braços
(Chinoca se arrependeu
Voltou de novo a meus braços)
Lá, rá, lá, rá, lá, lá, lá, rá
Lá, lá, lá, rá, lá, lá, lá, rá
No rodeio dos teus olhos
Numa laçada caí
Agora confesso e juro
Serei todito de ti
(Agora confesso e juro
Serei todito de ti)
Lá, rá, lá, rá, lá, lá, lá, rá
Lá, lá, lá, rá, lá, lá, lá, rá
Quanta roseira cheirosa
Quanta florzinha no chão
Por ti gaúcha querida
Vou morrendo de paixão
(Por ti gaúcha querida
Vou morrendo de paixão)
Lá, rá, lá, rá, lá, lá, lá, rá
Lá, lá, lá, rá, lá, lá, lá, rá
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
raul torres e florencio - mineira de diamantina
Plantei no jardim de casa um pé de rosa e cravina
Quando a cravina der flores eu vou levar pra Cristina
Ã? uma mineira bonita que mora lá em Diamantina
Pra mim é a mais linda moça que deu o estado de Mina
Você casando comigo tem que deixar Diamantina
Vamos morar na fazenda que eu tenho lá em Colatina
Fazenda de mil alqueire toda de verdes campina
Lá eu serei vosso rei você a rainha Cristina
De manhã cedo ocê toma leite de vaca turina
Pros seus passeios no campo tem cavalo campolina
Tem um arreio especial mandei fazer na Argentina
No peitoral coloquei quarenta libras esterlina
Paredes da minha casa pintura é de purpurina
Na sala tapete persa na janela tem cortina
Talheres todos de prata a louça veio da China
Tenho a melhor cozinheira é a preta velha Sabina
Vendo por ano mil boi pro matador em Platina
Eu acompanho a boiada para ter mais disciplina
E na cabeça do arreio levo minha carabina
Recebo todo o dinheiro ponho no banco de Mina
Vou dar um prazo pequeno num mês você determina
Você dizendo que não, tristeza não me amofina
Quem sabe eu venha a encontrar outra moça muito fina
Talvez não seja igualzinha a mineira de Diamantina
raul torres e florencio - a morte de rosinha
Vou contá pra quem não sabe
Tudo quanto eu já passei
Desde o dia que eu me casei
Com a Rosinha do sertão
Nóis vivia muito contente
Sem saber que a negra sorte
Tão cedo mandasse a morte
Me trazendo a desilusão
A Rosinha era tão boa
Tão alegre e carinhosa
Por isso chamava Rosa
Rainha de todas as flor
Nóis casemo no São João
Foi bem no meado do ano
Tive logo um triste engano
A Rosinha me deixou
Naquela mesma igrejinha
Onde foi a nossa união
Ela entrava num caixão
Pra fazê sua despedida
No sair tocava o sino
Num triste som que embalava
Parecia que ele falava
Adeus Rosinha querida
Na vorta do cemitério
Quando cheguei no meu rancho
Vi que o meu cavalo Pancho
Começava a relinchar
Parecia que o meu cavalo
Perguntava da patroa
Aquela alma tão boa
Que foi pra não mais vortá
Meu rancho no pé da serra
Ficou só sem moradô
Que lembrança desse amô
Guardo aquele branco véu
Que ela cobriu a cabeça
Igual a Virgem Maria
Rezo e peço todo o dia
Um lugar pra ela no céu
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
raul torres e florencio - tristeza e saudade
Morena não seja ingrata
Tenha dó de quem te ama
Um coração que padece
Dentro do peito se inflama
Quando meu peito suspira
O meu coração reclama
Suspira por quem tá longe
E água dos olhos derrama
Levantei muito cedinho
Cheio de imaginação
Fui sentar no meu jardim
Curtindo a minha paixão
Rosa branca me chamou
Pra me dar consolação
Dizendo que também sofre
Neste mundo de ilusão
Despedi da rosa branca
E ela me disse assim
Você vá pro seu destino
Lembrando sempre de mim
Você sofre, eu também sofro
Mas um dia há de ter fim
Você sofre no seu rancho
E eu aqui no meu jardim
A tristeza e a saudade
Comigo vieram morá
Uma sai e outra chega
Não me deixam sossegá
A tristeza vem de noite
Fica até os galo cantá
Quando é de madrugada
Sinto a saudade chegá
Sinto a saudade chegá
Sinto a saudade chegá
Sinto a saudade chegá
Sinto a saudade chegá
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)