passoca - sonora garoa
Sonoro sereno
serena garoa
pela madrugada
não faço nada que me condene
a sirene toca
bem de manhãzinha
quebrando o silêncio
sonorizando a madrugada
Passa o automóvel
na porta da fábrica
o radinho grita
com voz metálica
uma canção
Sonora garoa
sereno de prata
sereno de lata
reflete o sol
bem no caminhão
passoca - vila curiosa
(1986)
Bem perto do viaduto
Numa vila curiosa
No meio do emaranhado
Perdida de uma cidade formosa
Bem perto do viaduto
Numa vila curiosa
No meio do emaranhado
Perdida de uma cidade formosa
Por cima dos muros
Por baixo dos telhados
Um povo bem animado
Se virando pra melhorar
Quem sabe o dia sonhado chegará
São criaturas amáveis
Na vila não tem otários
Muito pobres,
Quem sabe - milionários...
Milionários!
No dia-a-dia normal
A luta vai muito além
No dia-a-dia normal
A luta vai muito além
Do bem e do mal
Oh, do bem e do mal
Um dia vai sem açúcar
Um dia vai sem sal
Um dia vai sem açúcar
Um dia vai sem sal!
Bem perto do viaduto...
passoca - menino da porteira
Toda vez que eu viajava pela estrada de Ouro Fino
De longe eu avistava a figura de um menino
Que corria, abria a porteira, depois vinha me pedindo
Toque o berrante seu moço, que é pra eu ficar ouvindo
Quando a boiada passava, e a poeira ia baixando
Eu jogava uma moeda e ele saia pulando
Obrigado boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando
Praquele sertão afora meu berrante ia tocando
Nos caminhos dessa vida muito espinho eu encontrei
Mas nenhum calou mais fundo do que esse que eu passei
Na minha viagem de vorta quarquer coisa eu cismei
Vendo a porteira fechada, o menino não avistei
Apeei o meu cavalo num ranchinho beira-chão
Vi uma mulher chorando, quis saber qual a razão
Boiadeiro veio tarde, veja a cruz no estradão
Quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração
Lá das bandas de Ouro Fino levando o gado selvagem
Quando passo na porteira inda vejo sua imagem
O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem
Daquele rosto trigueiro desejando boa viagem
A cruzinha do estradão do pensamento não sai
Eu já fiz um juramento que não me esqueço jamais
Nem que o meu gado estoure, que eu precise ir atrás
Nesse pedaço de chão, berrante eu não toco mais
passoca - rio de lágrimas
O rio de Piracicaba
Vai jogar água prá fora
Quando chegar a água
Dos olhos de alguém que chora
Lá no bairro onde eu moro
Só existe uma nascente
A nascente dos meus olhos
Já brotou água corrente
Pertinho da minha casa
Já formou uma lagoa
Com lágrimas dos meus olhos
Por causa de uma pessoa
Eu quero apanhar uma rosa
Minha mão já não alcança
Eu choro desesperado
Igualzinho a uma criança
Duvido alguém que não chore
Pela dor de uma saudade
Eu quero ver quem não chora
Quando ama de verdade
passoca - romaria
Ã? de sonho e de pó, o destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo
Ã? de laço e de nó, de gibeira o jiló,
Dessa vida cumprida a sol
| Sou caipira, Pirapora Nossa
| Senhora de Aparecida
| Ilumina a mina escura e funda
| O trem da minha vida
O meu pai foi peão, minha mãe solidão
Meus irmãos perderam-se na vida
Em busca de aventuras
Descasei, joguei, investi, desisti
Se há sorte eu não sei, nunca vi
...
Me disseram porém que eu viesse aqui
Pra pedir de romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar, só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar