os varandistas - randevu
Meu caro poeta
Das noites em claro
Do vão, da sarjeta
Dos dias de luto
Teu faro decida
Se sirvo ou se paro
Mas lembra que a vida
Não vale o minuto
Não sejam as moças
Lá muito pudicas
E nem pouca a vodka,
Dica de irmão
Do fundo da fossa
Não passas, quem fica
De touca não pode
Cantar meu baião
Ã? santo poeta
Sem rastro e sem manto
Sem mastro nem meta
Mas só solidão
Enquanto o deserto
Não seca este pranto
Te tenho por perto
De deito nas mãos
Não sejam os laços
Porém, tua casa
A vodka é tanta
Que pode calar
Os tempos escassos
E até te dar asas
O triste acalanto
Insiste em me achar
Poeta melhor
Que mude o assunto
E seja mais só
Que tu e eu juntos
Mais baixo calão
Neste randevú
Não há, meu irmão
Do que eu ou tu
os varandistas - a cigarra e o cinzeiro
Quando a tarde cai cinza assim
e a cigarra enfim desperta lá na Barra
é sinal que a noite há de ser longa
e quando a cinza já não arde, não tem jeito
é que do peito, feito fumaça, o amor se foi
então é um no sarro, uma só farra
onde ancoro meu veleiro
choro um mar sobre o cinzeiro e canto
no cais mais um cigarro e, sem amarras
não demoro em não ter rumo
moro ao léu e fumo, fumo tanto
os varandistas - a culpa
Ah, que se o amor não é mais como antes, meu bem,
Deve ser do mundo que gira ou de uma outra mulher a culpa. Deve ser do tempo que passa e das rugas distantes do rosto, mas vistas,
De longe no fundo da alma;
Do gosto que muda de quando em vez.
Calma! espere por mim (de novo e sempre um carinho se fez).
Não vale a pena sangrar por sangrar, crescer de véspera,
Fugir diante das palmas, lembrar de rolar um pranto, enfim...
Não durma antes de sonhar.
os varandistas - caio por ti
Eu caio por ti
Caio o céu, cai o mar em mim
Se cai o horizonte, ficamos distantes
Se cai o teu vestido, viro bala de amor
Se cai o querer, viro um triste mendigo
Caído no chão
Descalço, sem asas
Pedaço de pão
E a poesia disfarça comigo
Se Caio cair
Lá do céu, sobre o mar sem fim
Refaz-se o horizonte, já não mais distante
Se tira o teu vestido, lhe dá provas de amor
Se caio quiser, viro um triste mendigo
Caído no chão
Descalço, sem asas
Pedaço de pão
E a poesia disfarça comigo
Eu posso cair
Lá do céu, sobre o mar sem fim
Se cai o horizonte, ficamos distantes
Se tira o teu vestido, me dá provas de amor
Se cai o querer, viro um triste mendigo
Caído no chão
Descalço, sem asas
Pedaço de pão
E a poesia disfarça comigo
Eu caio por ti
Caio o céu, cai o mar em mim
Se cai o horizonte, ficamos distantes...
os varandistas - quando fui chuva
Quando já não tinha espaço pequena fui
Onde a vida me cabia apertada
Em um canto qualquer acomodei
Minha dança os meus traços de chuva
E o que é estar em paz
Pra ser minha e assim ser tua
Quando já não procurava mais
Pude enfim, nos olhos teus vestidos d'água
Me atirar tranqüila daqui
Lavar os degraus, os sonhos e as calçadas
E assim no teu corpo eu fui chuva
Jeito bom de se encontrar
E assim no teu gosto eu fui chuva
Jeito bom de se deixar viver
Nada do que eu fui me veste agora
Sou toda gota, que escorre livre pelo rosto
E só sossega quando encontra a tua boca
E mesmo que time perca
Nunca mais serei aquela
Que se fez seca
Vendo a vida passar pela janela
Quando já não procurava mais
Pude enfim, nos olhos teus vestidos d'água
Me atirar tranqüila daqui
Lavar os degraus os sonhos e as calçadas
E assim no teu corpo eu fui chuva
Jeito bom de se encontrar
E assim no teu gosto eu fui chuva
Jeito bom de se deixar viver
os varandistas - ruth
lembro de ti
pedindo perdão por mais
uma dia de solidão
me lembro feliz
das noites de vendavais
procurando tua mão
vem e me diz
quem cuida dos teus papéis
dos calos dos teus pés
da tosse e da bebedeira
tudo o que fiz
sem esperar anéis
nem volta antes das dez
ou uma nova geladeira
e quem te vê
quem te viu pelos bordéis
já nem sei mais quem tu és
tão magro assim
de barba por fazer
quem há de ter dó
e quanto a mim
não me olha de revés
disponho de alguns mirréis
sou minha e se queres saber
não sou mais tão só
os varandistas - segredo de bailarina
Baila a minha vida de repente
Se o mundo mente
Sou teu palco
Ajoelha a velha dor
Na bela curva
Do que não foi
Tantas frases que o corpo fale
Faz do desejo
Lançar-se ao mar
Passos tão doces
Bailam no tempo
Sou deles, presa, refém... detento
Amanheceu e estas do outro lado
No canto contrario
Do pranto que sou
Bailarina do meu desamor
Perca teus passos,
No avesso, do inverso, da minha dor
No avesso, do inverso, da minha dor
O show ta ensaiado
Ã?s boa leoa, devora a toa
Só pra dançar
Acha graça no quase perder alguém pra ganhar
Vou entrar no teu jogo
Voltar pra platéia
Se meus olhos pararam
Não sei me culpar
os varandistas - tanto faz
Meu amor
Estamos sozinhos
E só nos resta o depois
Meu amor
Estamos sozinhos
Desperdiçando arrepios
Ainda não aprendemos amar
Ainda não aprendemos nos dar
Ainda não aprendemos a calejar a dois
Eu já vou
Mas não partirei mais sozinho
Eu já vou
Mas levo você e o caminho
Eu nunca vou te deixar
Eu não vou desperdiçar
O que não foi
O que se vai de nós dois
O que ficou de você
Pode acontecer
Do mundo explodir amanhã
Tanto faz
No final, ainda sou eu e você
Pode acontecer
No mundo existir só nós dois
Tanto faz
No começo, sempre fui eu e você