os mirins - morena rosa
Olha o tranco da morena Rosa
Rebocada de rouge e baton
Machucando a vanera, à sua maneira
Bombeando pro chão
Na penumbra do rancho costeiro
Polvadeira à meia costela
O gaiteiro entonado, floreava o teclado
E bombeava prá ela
Olha o tranco da morena Rosa
Rebocada de rouge e baton
Machucando a vanera, à sua maneira
Bombeando pro chão
O perfume da morena rosa
Dá vontade da gente pegar
Apesar de gaviona, escuta a cordeona
E começa a se espiar
Olha o tranco da morena Rosa
Rebocada de rouge e baton
Machucando a vanera, à sua maneira
Bombeando pro chão
O semblante da morena rosa
Lua cheia de felicidade
Quanto mais sarandeia o corpo incendeia
De tanta vontade
Olha o tranco da morena Rosa
Rebocada de rouge e baton
Machucando a vanera, à sua maneira
Bombeando pro chão
os mirins - apeia gaucho
Apeia gaúcho a amarra teu pingo
Que hoje é domingo é pra se descansar
Aqui no galpão tem fogo ardendo
E um mate correndo da gosto de olhar.
Lá fora um ventito cortante assobia
Tristeza anuncia que triste escutar
Lá dentro a viola umas notas entoa
Não fiques a toa vem, pois te alegrar.
He hepa, gaúcho herói dos rodeios
Não tenha receio apeia e vem cá.
Cantemos agora este mundo num verso
Que o nosso universo é o Rio Grande sem par
Apeia gaúcho a amarra teu pingo
Que hoje é domingo é pra se descansar.
os mirins - baile de candieiro
Camisa branca lenço colorado
Umas botas novas calça de riscado
E pelos cabelos muita brilhantina
Que tem bate coxa no salão da esquina
E vou chegando meio ressabiado
Pelo lusco-fusco desse candieiro
E no entreveiro busco a tal morena
Por quem me deixei assim enfeitiçado
E já nos tocamos pro meio do baile
E mais uma volta e uma volta e meia
Toca mais um xote mais uma vaneira
Que eu mostro o meu valor
E eu me apeio pelo seu cangote
E o seu perfume me deixando tonto
Mais uma volteada que eu não abro mão
De quem é o meu amor
(Ah, meu candieiro
Se apagas teu lume agora
Eu pego esta flor de morena
Encilho o meu pingo e me vou mundo afora)
os mirins - bugio da serra
(Eu vou embora pra minha terra
Eu vou agora subir a serra
Fazer as coisas que sempre fiz
Voltar pra lá e ser feliz)
Vou ajeitar a minha velha bombacha
Que está guardada desde que saí de lá
As minhas botas, o meu lenço e o chapéu de barbicacho
E bem faceiro me pilchar
Quero sair bem cedinho a cavalo
Voltear as vacas, tirar leite e fazer queijo
Encher a alma de sereno e de ar puro
E rever os campos que à muito tempo eu não vejo
Vou encerrar uns terneiros na mangueira
Devagarito treinar uns tiros de laço
Porque a vida na cidade me tirou este prazer
Preciso treinar o meu braço
Vou lá pro mato traçar fogo numas grimpas
Para comer uma sapecada de pinhão
E beber toda a saudade que eu sentia
E tomar um porre de alegria e emoção
os mirins - cambicho de gaiteiro
(A gaita, tal qual a prenda tem que ter quem lhe compreenda
Pra se dar ao seu cortejo que o teclado é um corpo nu
Onde os dedos do xirú desatam chucros desejos)
Que nem china que se entrega a gaita aflita se esfrega
Sobre o peito do gaiteiro o coração se sacode
Enquanto ela geme acordes nos braços do seu parceiro
Pois a gaita por capricho aos poucos se faz cambicho
Do guacho que lhe bolina que o gaiteiro é um teatino
Que desde piá por destino faz da gaita a sua china
É que esse amor de ginete começa sempre de um flerte
Num namoro de galpão mas cresce logo em seguida
E o gaiteiro passa a vida com a gaita no coração
os mirins - bugio cola atada
O bugio desceu a serra roncando rumo a cidade se veio
Na sociedade entrou e parou o rodeio
O bugio em dia de festa é o senhor dono da sala
A rapaziada se embala no seu compasso dolente
É um entrevero de gente se deliciando na dança
A velharada se avança formando um fandango quente
O bugio é conhecido pelo ronco da cordeona
Não tem moça gaviona que se escapa da pegada.
É por que a gauchada para dançar se boleia
Quando um gaiteiro guasqueia um bugio de cola atada.
os mirins - bugio faceiro
Xou água que coisa seria este mundo ta mudando
É o bugio roncando grosso e o xirú desmunhecando
A confusão ta formada na base do vai ou racha
Tem guasca que adora saia, se escondendo da bombacha.
Já começa pela barba que anda escassa no vivente
As esporas nas orelhas borrando a honra da gente
Por favor seu delegado da revista em quem se agacha
É o diabo que anda solta ou a safra que anda em baixa.
No pago tem pai que é cego metendo a mão nas pelegas
E tem gente faturando em cima destas borregas
A receita pro bichinho é remédio a moda antiga
Uma vara de marmelo e salmoura com urtiga.
Xou água que coisa seria este mundo ta mudando
É o bugio roncando grosso e o xirú desmunhecando
A receita pro bichinho é remédio a moda antiga
Uma vara de marmelo e salmoura com urtiga.
os mirins - ha, ha, haia lagartixa baia
"Iiiih huhuuullll!!!!
Conhece um bicho com nome de lagartixa baia?...
Não conheço e nunca peguei esse bicho cumpadre, e tu conhece?...
Nem quero conhece...
Por que cumpadre?...
Ã? um bicho perigoso!"
Ha, ha, haia lagartixa baia,
não te mixa pra lacraia,
bota a pilcha tira a saia,
ha, ha, haia lagartixa baia
Campo seco só é seco porque não tem umidade,
pão com banha é na campanha, pão de ló é pra cidade,
então chega de besteira, la pucha, barbaridade,
ha, ha, haia lagartixa baia
"Conheço gente que gosta de palmea uma lagartixa compadre...
Tem gosto pra tudo neste mundo..."
Ha, ha, haia lagartixa baia,
não te mixa pra lacraia,
bota a pilcha tira a saia,
ha, ha, haia lagartixa baia
Ser rico é coisa bem boa, ser pobre é uma miséria,
a aranha não arranha, não te assusta Isaquitéria, morre cedo quem peleia, xô égua que coisa séria,
ha, ha, haia lagartixa baia
"A aranha não arranha e não se acerta com a lagartixa...
Mas as vezes elas se dão tão bem..."
Ha, ha, haia lagartixa baia,
não te mixa pra lacraia,
bota a pilcha tira a saia,
ha, ha, haia lagartixa baia
Mandioca eu corto de faca, valente com chumbo grosso,
laranja não tem espinho, banana não tem caroço,
minhoca não tem costela e cobra não tem pescoço,
ha, ha, haia lagartixa baia
"Quem palmeia uma lagartixa, amansa fácil uma cobra...
Ainda mais cobra sem pescoço..."
Ha, ha, haia lagartixa baia,
não te mixa pra lacraia,
bota a pilcha tira a saia,
ha, ha, haia lagartixa baia
Ovelha não é pra mato, lambari não é baleia,
quando a pistola é bem boa, a bala nunca vareia,
desse jeito eu vou parar no hospício ou na cadeia,
ha, ha, haia lagartixa baia...
"A lagartixa é um bicho liso...
Depende do jeito que a gente vê a coisa compadre...
A lagartixa baia entra em baile compadre?
Entra compadre, e dança...
De saia ou sem saia?
Depende compadre, quando tem muita gente, as vezes ela até tira a saia..."
os mirins - meu canivete
Eu tenho meu canivete, foi presente do meu tio
Conservo como relíquia pelo que já me serviu
Meu canivete pitoco desde piá me acompanha
Fosse nas festas do povo ou nas lidas de campanha
Descasquei cana de açúcar, laranja e abacaxí
Fiz furquia pra bodoque, destripar o lambarí
Quando piá meu pai dizia pelo jeito e pelo estílo
Teu canivete meu filho só serve pra castrar grilo
Meu canivete eu trazia afiado que nem navalha
Com ele já castrei porco, piquei fumo e cortei palha
Dos meus pés quantos espinhos meu canivete tirou
Daria tropas e tropas dos touros que já castrou
Meu canivete pitôco de tanto afiá em rebôlo
Das facetas do passado a lembrança é um consolo
Eu e meu canivete dentre ganhas e perdidas
Seguimos cortando rente as tristezas dessa vida
Daria um talho maior que o maior dos brete
Se emendasse os talhos que já deu meu canivete
os mirins - o que tem a rosa
O que tem a rosa tão desfolhada
Foi o sereno da madrugada
Sinto saudade, suspiros também
Mandei recado, Rosa não vem
Chorei e choro nesta viola
Só ela mesma que me consola
Adeus, adeus, coração mimoso
Delicadeza, rosto formoso
os mirins - tempo de guri
Tenho saudade do meu tempo de guri
Quando cedinho eu saía pra escola
De calça curta, pé no chão e bem faceiro
Do lado esquerdo pendurado uma sacola
E dentro dela meus livros para estudar
E um bonezinho para poder jogar bola
E na saída com minha namoradinha
Pela estrada eu voltava bem pachola
Tenho saudade das tardes ensolaradas
Ir para o campo jogar com meus amiguinhos
E nos domingos um ir pra casa do outro
Fazer bodoque pra caçar os passarinhos
Tenho saudade de armar uma arapuca
No arvoredo pra caçar o joão-barreiro
Ver um lagarto melando uma lechiguana
No pé de embira lá no fundo do potreiro
Tenho saudade de buscar água na fonte
Para o meu velho preparar o chimarrão
Montar em pêlo no meu petiço bragado
Buscar as vacas de noitinha pro galpão
Infelizmente tudo ficou tão distante
Porque hoje eu vivo no entrevero da cidade
Só resta agora com os meus cabelos brancos
Ir recordando pra não morrer de saudade
os mirins - o tranco da morena rosa
Olha o tranco da morena rosa, rebocada de rouge e "batão"
Machucando a vanera,à sua maneira, bombeando pro chão
Na penumbra do rancho costeiro "porvadeira" a meia costela
O gaiteiro entonado floreava o teclado e bombeava pra ela
O perfume da morena rosa dá vontade da gente pegá
Apesar de gaviona,escuita a cordeona e começa se espiá
O semblante da morena rosa, lua cheia de felicidade
Quanto mais sarandeia o corpo incendeia de tanta vontade
os mirins - amargurado
Milonga dos meus tormentos quando ao relento da noite
Sinto no peito os açoites das mágoas que me entristece
São dois amigos que vivem a sofrer na mesma hora
É um violão que chora e um coração que padece.
Cada ponteado recordo como uma voz que me fala
Aquelas noites de baile quando eu dançava com ela
E o ritmo da milonga console meu abandono
Nas noites que perco o sono relembrando a minha bela.
Quem não conhece o desprezo meu viver não imagina
Quando eu clamo minha sina muita gente diz que eu minto
Aquela que eu tanto adoro nos braços de outro se prende
E finja que não compreende as amarguras que eu sinto.
Me resta aguardar no peito amargas recordações
Este mundo de ilusões de tanta coisa é composto
Enquanto eu vivo sozinho padecendo amargamente
Outro vive tão contente a custa do meu desgosto.
Ela nos braços de outro leva a vida entre prazeres
Não lamenta os padeceres deste coração sozinho
As noites delas são doces, as minhas amargas e longas
Por isso canto milongas abraçado no meu pinho.
os mirins - apuros de peão
Eu vou sair hoje, bem cedo de casa
Pra visitar o comércio lá do povo
Quero comprar alguma coisa que em falte
Um bombacha, um par de bota e um chapéu novo.
Trabalhei neste mês que se passou
Domando potros e consertando o alambrado,
Guardei uns pilas, prá trazer tudo na bucha,
Por que um peão não pode mais comprar fiado.
Está danado do jeito que a coisa vai
Se ganha pouco e não se foge do apuro -
Comprando à vista não se compra quase nada
E no fiado não dá pra pagar o juro.
Conforme, a coisa me sobrar alguns trocados
Vou no barbeiro dar um jeito na gadeia -
fazer a barba pra ficar mais ajeitado,
Por que um homem relaxado é coisa feia.
Além do mais hoje a noite tem fandango
E o CTG está todo enfeitado
Neste entreveiro pode dar algum cambicho
E eu gosto de estar sempre bem preparado!