MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
nei lopes - ao povo em forma de arte
Quilombo, pesquisou suas raízes
Nos momentos mais felizes
De uma raça singular, e veio
Pra mostrar esta pesquisa
Na ocasião precisa
Em forma de arte popular, há mais...
Há mais de quarenta mil anos atrás
A arte negra já resplandecia
Mas tarde a Etiópia milenar
Sua cultura até o Egito estendia
Daí o legendário mundo grego
A todo negro de etíope chamou
Depois vieram reinos suntuosos
De nível cultural superior
Que hoje são lembranças de um passado
Que a força da ambição exterminou
Que hoje são lembranças de um passado
Que a força da ambição exterminou
Em toda cultura nacional
Na arte, até mesmo na ciência
O modo africano de viver
Exerceu grande influência
O negro brasileiro
Apesar de tempos infelizes
Lutou, viveu, morreu e se integrou
Sem abandonar suas raízes
Por isso o quilombo desfila
Devolvendo em seu estandarte
A histórias de suas origens
Ao povo em forma de arte.
nei lopes - baile no elite
Fui a um baile no Elite, atendendo a um convite
Do Manoel Garçon (Meu Deus do Céu, que baile bom!)
Que coisa bacana, já do Campo de Santana
Ouvir o velho e bom som: trombone, sax e pistom.
O traje era esporte que o calor estava forte
Mas eu fui de jaquetão, pra causar boa impressão
Naquele tempo era o requinte o linho S-120
E eu não gostava de blusão (É uma questão de opinião!)
Passei pela portaria, subi a velha escadaria
E penetrei no salão. Quase morri do coração
Quando dei de cara com a Orquestra Tabajara
E o popular Jamelão, cantando só samba-canção.
Norato e Norega, Macaxeira e Zé Bodega
Nas palhetas e metais (E tinha outros muitos mais)
No clarinete o Severino solava um choro tão divino
Desses que já não tem mais (E ele era ainda bem rapaz!)
Refeito dessa surpresa, me aboletei na mesa
Que eu tinha reservado (Até paguei adiantado)
Manoel, que é dos nossos, trouxe um pires de tremoços
Uma cerveja e um traçado (Pra eu não pegar um resfriado)
Tomei minha Brahma, levantei, tirei a dama
E iniciei meu bailado (No puladinho e no cruzado)
Até Trajano e Mário Jorge que são caras que não fogem
Foram se embora humilhados (Eu estava mesmo endiabrado!)
Quando o astro-rei já raiava e a Tabajara caprichava
Seus acordes finais (Para tristeza dos casais)
Toquei a pequena, feito artista de cinema
Em cenas sentimentais (à luz de um abajur lilás).
Num quarto sem forro, perto do pronto-socorro
Uma sirene me acordou (em estado desesperador)
Me levantei, lavei o rosto, quase morto de desgosto
Pois foi um sonho e se acabou
(O papo é pop e o hip-hop
A Tabajara é muito cara
e o velho tempo já passou!)
nei lopes - debaixo do meu chapéu
Debaixo do meu chapéu
Você pode se abrigar
Tanto faz dar na cabeça
Quanto na cabeça dar
Numa reunião de bacana
Em Copacabana, o chapéu gelou
Achou que a cartola, tava dando bola
Então entrou na sola, e se machucou
Aí nesse exato momento
Lá no juramento, o gorro de crochê
Gritou com a toca de meia
A coisa ta feia lá no Jacaré
Teve um dia lá em Realengo
Que quase do quengo, me cai o chapéu
Eu vi um bibico bater continência
Pro quepe de um velho, porteiro de hotel
Eu vi no domingo passado
Um papo engraçado entre dois bonés
Era um papo de samba e suingue
Do you speak english e cumé que és
Essa agora te conto e te provo
Lá em São Cristóvão teve um bololô
A boina elegante, toda extravagante
Falou pro turbante que ele rebolou
Aí foi que o chapéu de couro
Que tinha um namoro com um solidéu
Puxou de uma batia peixeira
Mas levou rasteira aqui do meu chapéu..
nei lopes - fidelidade partidária
Fidelidade Partidária
(Wilson Moreira ? Nei Lopes)
Minha tia-avó Rosária, partideira centenária,
Perguntou pra mim: ?Meu neto,
O que é fidelidade partidária??.
Pergunta assim tão sumária
Tem que ter a necessária resposta
E eu respondo certo o que é fidelidade partidária.
Por verde-amarelo na indumentária
(É fidelidade partidária...)
Feijão com arroz na sua culinária
Ajudar quem tem situação precária
Não fazer acordo com a parte contrária
Nem demagogia com a classe operária
Gritar que tem gringo pintando na área
Gostar de partido igual tia Rosária
Isso é fidelidade partidária...
Rejeitar propina na conta bancária
(É fidelidade partidária...)
Não ter filial nem subsidiária
Amar a patroa mais que a secretária
Só fazer amor na sua faixa etária
Mas dar uma força pras celibatárias
Que tenham bons dentes na arcada dentária
Gostar de partido igual tia Rosária
Isso é fidelidade partidária...
nei lopes - gostoso veneno
Este amor me envenena
Mas todo amor sempre vale a pena
Desfalecer de prazer, morrer de dor
Tanto faz, eu quero é mais amor
A água da fonte bebida na palma da mão
Rosa se abrindo, se despetalando no chão
Quem não viu e nem provou
Não viveu, nunca amou
Se a vida é curta e o mundo é pequeno
Vou vivendo morrendo de amor
Gostoso veneno
nei lopes - jardim do coração
Um coração é um jardim
Onde ninguém passeia
Atrás daquela nuvem negra
Pode se esconder a lua cheia
Quem olha hoje para mim
Não pode imaginar o que eu passei
Pisando pedras e espinhos
Depois de muitos caminhos
Finalmente eu me encontrei
Depois de muitos caminhos
Finalmente eu me encontrei
(Foi no carnaval!)
Foi no carnaval
que ela me apareceu
Com um véu vermelho e branco
Veio sorrindo e me envolveu
Floriu então no meu jardim
Um doce amor de fevereiro
Daí então fomos felizes para sempre
Eu e a Academia do Salgueiro
Daí então fomos felizes para sempre
Eu e a Academia do Salgueiro
nei lopes - jongo do irmão café
Auê, meu irmão café!
Auê, meu irmão café!
Mesmo usdos, moídos, pilados,
Vendidos, trocados, estamos de pé:
Olha nós aí, meu irmão café!
Meu passado é africano
Teu passado também é.
Nossa cor é tão escura
Quanto chão de massapé.
Amargando igual mistura
De cachaça com fernet
Desde o tempo que ainda havia
Cadeirinha e landolé
Fomos nós que demos duro
Pro país ficar de pé!
Auê, meu irmão café!
Auê, meu irmão café!
Mesmo usdos, moídos, pilados,
Vendidos, trocados, estamos de pé:
Olha nós aí, meu irmão café!
Você, quente, queima a língua
Queima o corpo e queima o pé
Adoçado, tem delícias
De cachaça com ferné
Requentado, cria caso,
Faz zoeira e faz banzé
E também é de mesinha
De gurufa e candomblé
É por essas semelhanças
Que eu te chamo "irmão café
nei lopes - justiça gratuita
Felicidade passou no vestibular
E agora tá ruim de aturar
Mudou-se pra Faculdade de Direito
E só fala com a gente de um jeito
Cheio de preliminar (é de armagar)
Casal abriu, ela diz que é divórcio
Parceria é litisconsórcio
Sacanagem é libidinagem e atentado ao pudor
Só fala cheia de subterfúgios
Nego morreu, ela diz que é "de-cujus"
Não agüento mais essa Felicidade
Doutor defensor
(só mesmo um Desembargador)
Amigação
Pra ela é concubinato
Vigarice é estelionato
Caduquice de esclerosado é demência senil
Sumiu na poeira
Ela chama de ausente
Não pagou a conta é inadimplente
Ela diz, consultando o Código Civil
Me pediu uma grana
Dizendo que era um contrato de mútuo
Comeu e bebeu, disse que era usufruto
E levou pra casa o meu violão
Meses depois
Que fez este agravo ao meu instrumento
Ela, então, me disse, cheia de argumento
Que o adquiriu por usucapião
(Seu defensor, não é mole não!
táí minha procuração
E o documento que atesta minha humilde condição!
Requeira prontamente meu divórcio e uma pensão!
se ela não pagar vai cantar samba na prisão...)
nei lopes - ladrão de galinha
Foi num salão, ali no baixo Cinelândia
Perto da espaguetelândia, na Francisco Serrador
Que eu descobri que não tem bem que sempre dure, conhecendo a manicure
Ana Luzia Eleonor, com seu jeitinho encantador
Foi a melhor dentre as cumadres que eu já tive, mulher de um detetive
Ex-polícia especial
Era um vulcão e um pedação de mau caminho, tudo isso embrulhadinho
num rostinho angelical (se eu vacilasse na parada poderia me dar mal)
Seu lindo corpo parecia uma escultura: metro e meio de altura, 120 de quadris
Mais 100 de busto e 25 de cintura
Com uma pintinha escura um pouco abaixo do nariz
E esse nariz tão bonitinho, arrebitado, parecia modelado
pelas mãos de um Pitangui
E ainda por cima tinha covinha no queixo
e muitos outros apetrechos, de fazer queixo cair
(e eu passeava por ali)
Mas certa noite, na rua Riachuelo
Um tremendo pesadelo fez agente
despertar
Passos na escada, ela gritou: É o Nascimento, ele é um
cara violento, é melhor tu te arrancar
Pulei janela, estava já pulando o muro
quando, no meio do escuro
Ana Luzia Eleonor gritou pra rua:
"Peguem e lixem esse gatuno, ladrão
inoportuno, ventanista e arrombador!
Ai Nascimento, esse bandido me detesta, se eu não sou mulher honesta, ele ofendia o meu pudor"
E o Nascimento consolava: "Fica fria meu amor. É um larápio sem passado, é um pé inchado, é um amador, é um ladrãozinho de galinha. Vamos de volta pra caminha, tá kentinho o cobertor".
nei lopes - loura luzia
No dia em que a loura Luzia pôs fogo no morro
Sargento Garcia deu tapa no Zorro
E a Rua do Chichorro mudou de lá do Catumbi.
Um gato que estava num poste roubando energia
Comeu um cachorro, crente que comia
Uma gata escaldada, na laje la no Tuiuti
Foi nisso que uma Coisa estranha baixou no terreiro
Cabeça de área, corpo de bombeiro
Uma perna de três e dois dedos de prosa,
Orelha de livro, um pé de conversa (era um espantalho!)
A boca de fumo, um dente de alho
Mané, que trabalho, que coisa horrorosa !
O carro da polícia ia saindo ileso
Mas acabou preso no engarrafamento
E o da funerária morreu a caminho
De um sepultamento
O carro do bombeiro pegou fogo
E a ambulância chamou o socorro...
No dia em que a loura Luzia pôs fogo no morro !
(Lá vem a loura Luzia pra rebolar na bateria...)
nei lopes - lundu chorado
Sinhá na rede dormindo
Duas mucamas ao lado
Cena de um tempo passado
Que outro poeta escreveu
Em meio ao sono a senhora
Vai toda se amolengando
Está, por certo, sonhando
Com certo alguém que sou eu
Eu não sou ralador
Para o coco ralar
Não sou de salvador
Nem belém do pará
Meu claro senhor
Olhe sua sinhá
Ta me olhando com dengo
Para me enfeitiçar
Calma de flor de laranja
Pele de manga madura
Gostinho bom de verdura
Fonte fazendo chuá
Voz de viola chorando
Olhos como a estrela d?alva
Restos de origem fidalga
Eis o perfil da sinhá
Eu não sou ralador
Para o coco ralar
Não sou de salvador
Nem belém do pará
Meu claro senhor
Olhe sua sinhá
Ta me olhando com dengo
Para me enfeitiçar
Não por ser branca e senhora
Mas por ser boa e bonita
É que a senhora me agita
Faz-me a viola chorar
Claro senhor, não se atreva
Que eu tenho cá meus motivos
Eu só me faço cativo
Se for pra sua sinhá
Eu não sou ralador
Para o coco ralar
Não sou de salvador
Nem belém do pará
Meu claro senhor
Olhe sua sinhá
Ta me olhando com dengo
Para me enfeitiçar
nei lopes - moqueca de idakina
Idalina mandou chamar você
Pra moqueca de fato que ela vai fazer, só no dendê
Idalina mandou chamar você
Pra moqueca de fato que ela vai fazer
Cem quilos de fato, só de cebola umas quatrocentas
Duzentos limões, novecentas pimentas e uma tonelada de amendoim
E achando isso pouco, Idalina botou o compadre Tinoco no maior sufoco
Ralando no toco duzentos mil cocos pra fazer quindim"
nei lopes - nosso nome, resistência
Olha nosso povo aí
Conjugando no presente o verbo resistir
Nossos corpos densos resistindo à opressão
Nossos nervos tensos suportando a humilhação
O olho cresceu, tumbeiro chegou
O couro comeu, o pau roncou
Mas o negro é aroeira
Envergou, mas não quebrou
Preto velho tem mandinga
De amansar feitor
Nega mina tem um dengo
De matar de amor
Palmares, balaios, malês, alfaiates
Fugas, guerrilhas, combates
Mão na cara, dedo em riste
Teatros, fundos de quintal, candomblés,
Blocos, jongos, afoxés
Assim também se resiste
Negritude resplandecente
Consciente a se reconstruir
O nosso nome é resistência
Olha o nosso povo aí
nei lopes - parsifal
Morreu lá em Paciência, hoje deu no jornal
de velha insuficiência da supra-renal
Na mais completa indigência, o major Parsifal
Homem de grande sapiência e alto valor moral
Clerical, radical, racional, marcial
Desempenhou alta incumbência na revolução
Foi durão, lei do cão, repressão, pescoção
Depois foi ser da presidência de uma estatal
federal, capital, nacional, integral
Nessa estatal é que a Filó, passista da Mangueira
Botava fogo no paiol, reinando de copeira
E, foi assim, que o Parsifal, em plena ditadura
de forma lenta e gradual, entrou pela abertura
Pois acontece que a Filó não era mole não
Avião, combustão, explosão, um vulcão
Jóias, viagens, mordomias, compras no cartão
Um milhão, um bilhão
E a paixão não diz não
Homem de grande sapiência e alto valor moral
O major Parsifal se deu mal:
Hospital, funeral...
Deu hoje no jornal.
Mas o pior é que a Filó me ligou de Miami
Ficou sabendo que o "Fal" tinha tido um derrame
E ao ouvir a fatal conclusão
Inda indagou de pecúlio e pensão
E deu um puta faniquito quando eu lhe contei
Que o Seu Major tinha morrido lá em Paciência
Daquela velha e mal-curada insuficiência
Ele que foi ferrabrás costumaz
Que comandou umas dez estatais
Morreu com u'a mão na frente e outra mão lá atrás
nei lopes - que zungu
(esse som é pro meus irmãozinhos de angola e do caribe)
Que zungu! que zungu!
Que zungu! que zungu!
Que zungu! que zungu! que zungu! (repete)
Tichico foi na quitanda
Comprar dendê e fubá pro angu
Mocotó, guandu, quiabo,
Inhame, jiló, maxixe e chuchu
Lá, um bangalafumenga
Puxou um pango de aracaju
Tichico foi no cachimbo
Ai, meu zâmbi, que arenga
Ai zâmbi, que zungu!
Que zungu! que zungu!
Que zungu! que zungu!
Que zungu! que zungu! que zungu! (repete)
Chegou quase cochilando
E foi pra tarimba tocar tambu
Acordou filho caçula
E pediu chazinho de mulungu
O filho fez um muxoxo
E foi resmungando pro quinguingu
Tichico gritou: - moleque...!
Ai, meu zâmbi, que arenga
Ai zâmbi, que zungu!
Que zungu! que zungu!
Que zungu! que zungu!
Que zungu! que zungu! que zungu! (repete)
Tichico ouviu um cochico
E acordou banzeiro, de calundu
Pegou seus caxirenguengues
Sua marimba e seu cacumbu
Juntou quitungo e quinjengue
Fez um tremendo de um murundu
Riscou fogo na fundanga
Ai, meu zâmbi, que arenga
Ai zâmbi, que zungu!
Que zungu! que zungu!
Que zungu! que zungu!
Que zungu! que zungu! que zungu!
Cds nei lopes á Venda