MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
joão de almeida neto - há muito tempo é assim
Quem me vê fazendo frete
Nesse arrabalde sem fim,
Picaneando um mouro magro
Pisado dos balancins,
Não diz que eu fui fazendeiro,
Que eu tive sebo no rim,
E esta história que hoje conto,
Que é minha e de tantos outros,
Ã? mais ou menos assim.
Tive um rebanho merino
Que o velo era um camoatim,
Usava carneiro fino
Num campo que era um jardim.
A lã pegou a valer pouco,
O povo só usa brim,
Começou a escassear miâ??a renda,
Fui despovoando a fazenda,
Daí o início do fim.
Meu gado que eu cuidei tanto
Deu lucro,mas não pra mim.
Vendi mas não me pagaram,
Processei uns graxaim.
O que eu não tinha vendido
O advogado deu fim,
Ficou vazia a fazenda,
Tem dor que não se remenda
E é dessas que dói em mim.
Meu mouro marca de fisga
Deus não fabrica outro assim,
Cogote de ganso macho,
Zoreia de graxaim.
Pra não vender pro salame,
Veio também,quando eu vim,
Foi pra charrete o meu mouro,
Que antes pechava touro
Por cima dos alecrim.
E a mão pra vir pra miséria
O governo deu pra mim,
Prometeu financiamento
Com um jurinho chinfrim.
Virei meus campos de arado,
Plantei milho e amendoim,
A seca ajudou o banco,
O banco ficou com o campo
E a vila ficou pra mim.
Só conto pra que conclua
Que quem produz ta na pua,
E há muito tempo é assim.
- Letra enviada por João Antunes -
joão de almeida neto - o pingo e a pinga
Quando a chuva pinga no meu pago
E pela estrada eu saio no meu pingo
Me apeio a procura de algum gringo
Dono de bolicho quero um trago
Bebo pinga pura mas não pago
E meto uma peleia com o gringo
Sai cara a pinga porque nem um pingo
De dinheiro na guaiaca eu trago
E quando ele me grita paga a pinga
Eu pego pelas goela o pobre gringo
E despacito, despacito a pago
(Depois na garupa eu levo a gringa
Que vai pingando pranto no meu pingo
E eu fedendo a pinga pelo pago)
joão de almeida neto - alma de poço
Madrugada mais lubuna mateio desprevenido
Tenho andado mal dormido com paixões demais pra um
Os meus olhos tresnoitados se voltam mesmo pra dentro
A vida põe sal na boca e o mate não mata a sede
Querência fica distante mesmo andando dentro dela
Que me importa o sol na cara se a alma não amanhece?
Não quero sonhar de novo renascer não vale a pena, ai
Alegria pouco importa quando a vida anda pequena, ai
Solidão bate no rancho já me sabe mais covarde
Vou cultivando um silêncio que vai florescendo à tarde
(Ai, ai, ai... de mim, corpo de moço,
Jeito de rio
Ai, ai, ai de mim, alma de poço,
Peito vazio
Ai, ai, ai... de mim, corpo de moço,
Jeito de rio)
Int.
joão de almeida neto - china atrevida
Cada vez que o sol levanta traz consigo uma ansiedade
De uma china onde a saudade é o poncho da minha vida
Que china mais atrevida que sai sem avisar nada
E só vem de madrugada nestes sonhos de ilusão
O meu xucro pensamento vai sem rumo estrada afora
Pressenti chegar a hora num palpite quase certo
Meu rancho ficou deserto sem o achego da morena
Que só vive em meu poema num disfarce à solidão Bis
E assim vai passando o tempo com seus segredos
E eu no vazio dos meus pelegos espero a sorte logo chegar
Pois dentro de cada mate uma espera louca
Na bomba o gosto daquela boca e no rosto o pranto pra consolar
Pois dentro de cada mate uma espera louca
Na bomba o gosto daquela boca e no rosto o pranto pra consolar
joão de almeida neto - milonga da coragem
Levando o vento no peito pelo pampa onde andei
Alargando os horizontes que eu mesmo redesenhei
E os mapas que risquei a lança e ponta de adaga
Estão nas folhas dos livros que a memória não apaga
(Um dia deixei o campo porque o campo me deixou
No pasto perdi o rastro que o vento norte apagou
Morador dos corredores deixei prá trás horizontes
Herdei a fome das vilas e a quincha nua das fontes)
Um dia volto à querência para cortar sesmarias
E o novo canto da terra cantarei nas pulperias
Desgarrados, bóia-frias encontrarão nova trilha
E os direitos sonegados virão a sobre partilha
Um dia deixei o campo porque o campo me deixou
joão de almeida neto - missioneira
Eu pela noite negra dos teus cabelos
Tu acendendo estrelas pra me guiar
Eu procurando a chave dos teus segredos
Tu apagando o rastro do teu olhar
Pra que rincões a vida levou teus passos
Flor das missões que vive nos sonhos meus
Como entender que um dia estando em meus braços
Com luz de sol me sorriu
E com uma voz de rio disse adeus
E é este amor que me traz assim
Peregrino em busca do teu querer
E é minha dor que jamais tem fim
Que serena os lírios no amanhecer
Linda missioneira da voz de rio
Flor que na fronteira da solidão
Me adoçou a boca e depois partiu
E amargou pra sempre meu coração
Por onde andarás, por onde andarei
Que será do amor que eu jurei por ti
Que será de ti sem o que eu te dei
Que será de mim que já te perdi
Sangra a terra vermelha dessas estradas
Arde no sal do rosto o sol do verão
E eu qual um andarilho pelas estradas
Vou maldizendo os rumos dessa paixão
Louco de amar assim teu amor selvagem
Louco de amar a imagem que eu quero bem
Sem entender que passas pela paisagem
Igual a flor de aguapé que é linda
Mas que não é de ninguém!
joão de almeida neto - as razoes do boca braba
(Tem gente que não entende
Que o macho, quando é bem macho,
Nem que o mundo venha abaixo
Não dispara e não se rende
Essa é a gente que se ofende
Com o meu ar de liberdade
E por inveja, e maldade
Das suas mentes macabra
Batizam de boca braba
Quem tem personalidade)
Me chamam de boca braba
Não sabem me analisar
De gênio eu sou uma cachaça
Mas de alma um guaraná
Só não me péla com a unha
Quem pretende me pelar
E depois que eu fico brabo
Não adianta me adular
(Eu sei que é em mim que deságua
Quase que cento por cento
De todo o ressentimento
Dessa gente que tem mágoa
É porque eu não bebo água
Nas orelhas dessa gente
Que adoram mostrar os dentes
E por não terem fé no taco
Vivem grudado no saco
Dos políticos influentes)
Me chamam de boca braba
Mas eu nem brabo não fico
Não desfaço quem é pobre
Nem adulo quem é rico
Quando eu gosto, eu elogio
Quando eu não gosto, eu critico
E onde tem galo cantando
Eu vou lá e quebro-lhe o bico
(O meu jeito?
Ah, o meu jeito, conforme tenho dito
Pra uns é muito bonito
Pra outros é meu defeito
Mas talvez seja o meu jeito
Que me troque de invernada
Cada um tem sua estrada
Seu lugar, seu parador
A abelha gosta da flor
A sarna, da cachorrada)
Me chamam de boca braba
Essa gente tá enganada
Eu tenho é boca de homem
E tenho opinião formada
Sei qual é a boca que explora
Sei qual é a boca explorada
E é melhor ser boca braba
Que não ter boca pra nada!
joão de almeida neto - cantor de fronteira
Quando canta um cantor de fronteira
Traz recados de vida e caminho
E se sua garganta é guerreira
Sua alma transborda carinho
Quando canta um cantor de fronteira
Não vê mapas e faz seu aparte
Irmanando parceiros de alma
Na fraterna grandeza da arte
Quando canta um cantor de fronteira
Escancara garganta e caminho
Se somando a outras vozes cantoras
Que um fronteiro não canta sozinho
Quando canta um cantor de fronteira
Louva amores que o mundo lhe deu
Mas conserva em ciumenta moldura
A fronteira que nunca esqueceu
Quando canta um cantor de fronteira
Nunca é isolada a emoção,
É uma frente de vozes erguendo
Sua gente, sua arte, seu chão
joão de almeida neto - definição do grito
Uma vez num outro estado me pediram a informação
Porque é que no Rio Grande todo gaúcho é gritão
Respondendo ao pé da letra já lhe dei a explicação
São tradições do estado pra quem foi acostumado
A gritar com a criação
Eu me criei na campanha saltando de madrugada
Obedecendo o patrão e pondo a tropa na estrada
Quem quiser ver coisa feia é uma tropa estourada
É aí que eu acredito que a gente não dando uns gritos
Se perde toda a boiada
Assim mesmo não são todos no falar agritalhado
O gaúcho da cidade tem um falar moderado
Na campanha é que há razões de falar mais alterado
Isto são coisas da vida prá quem se criou na lida
Sempre gritando com gado
Dou definição do grito porque me criei tropeando
Hoje de vida mudada vivo no disco gravando
As vezes tenho a impressão que escuto o gado berrando
Por isto é que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito
E canto a letra gritando
A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita
E lá pras bandas do norte aonde eu não fiz visita
Responderei pelo disco sei que este povo acredita
E nesta minha canção fica dada a explicação
De porque que o gaúcho grita
joão de almeida neto - flor de campeira
Uma milonga pachola pra se cantar a vida inteira
Tem que ser for de campeira com um laço a bate cola
Tem que falar de cavalos de tombos e gauchadas
Rodeios nas madrugadas contraponteando com os galos
Saudades da sesta boa no galpão onde eu encilho
Meu pingo quebrando milho pelas tardes de garoa
(Milonga flor de campeira de canto de pelo a pelo
Se cada verso é um sinuelo pra outro que vem de atrás)
De faceiro encilho rindo esse potro colorado
Pois quando estou bem montado até o dia fica mais lindo
Cavalo que corcoveia conheço ao meter o freio
Não tiro pra os meus arreios se for mesquinho da oreia
Eu posso ser feio assim mas quando encilho meu mouro
Falta janela no povo pras moças olharem par mim
Conheço parada feia mas peguei um malacara
Se nega o estribo dispara e se não nega corcoveia
Potro que anda gavionando eu ferro porteira afora
Me agrada de vez em quando dar comida pras esporas
Tenho um lobuno mimoso e atacado das idéias
Disparou com a minha sogra nem os corvo acharam a véia
joão de almeida neto - florêncio guerra e seu cavalo
(Florêncio afiou a faca para sangrar seu cavalo
Florêncio afiou a faca para sangrar seu cavalo
Florêncio afiou a faca para sangrar seu cavalo)
Florêncio guerra das guerras do tempo em que seu cavalo
Pisava estrelas nas serras pra chegar antes dos galos
Florêncio afiou a faca pensando no seu cavalo
Florêncio afiou a faca pensando no seu cavalo
Parceiros pelas lonjuras na calma das campereadas
Um barco em tardes serenas um tigre numa porteira
Pechando boi pelas primaveras sem mango sem nazarenas
O patrão disse a Florêncio que desse um fim no matungo
Quem já não serve pra nada não merece andar no mundo
A frase afundou no peito e o velho não disse nada
E foi afiar uma faca como quem pega uma estrada
Acharam Florêncio morto por cima do seu cavalo
Alguém que andava no campo viu o centauro sangrado
Caídos no mesmo barro voltando pra mesma terra
Que deve tanto ao cavalo e tanto a Florêncio guerra
joão de almeida neto - fogo de macho
Quando as vezes a canha me bebe
Eu me enfio pra dentro de um frasco
Pois faz parte da história do mundo
Se beber pra depois fazer fiasco
Que me importa que eu caia onde caia
De saudade de canha me ensopo
Quem se perde por um rabo de saia
Só se acha no fundo de um copo
(Porque a canha tem esta magia
Que eu não sei explicar muito bem
Ela encontra no fundo da gente
Alegrias que a gente não tem
E é por isso que eu tomo meus tragos
E pra dizer francamente o que eu acho
Não tem nada melhor do que um fogo
Pra curar um descorno de macho)
O destino daquele que canta
É uma coisa que eu nunca entendi
Ele faz alegrias pros outros
Mas não tem alegrias pra si
Eu entendo os mamau da querência
Gente buena se empedra e não mente
Só quem bebe a cachaça que paga
Perde a amarga saudade que sente
joão de almeida neto - fronteiriça procedência
Mais um sureño que se orgulha das origens
Tenho puer berço meu sagrado chão fronteiro;
Cruzando as léguas do rio grande de allá
Abri porteiras no meu mundo de campeiro.
Um par de estrelas cantadeiras nos garrões
O aba larga, o campomar prá o tempo feio,
Moldam a estampa do centauro das estâncias
Quando eu e o pingo nos unimos pelo arreio.
Refrão:
Nestes galpões enfumaçados da fronteira
Pitando um baio cevo um mate de "yerba buena"
E, satisfeiro, ao recorrer as semarias
É que agradeço pelo dom de ser torena.
Domas, esquilas, alambrados e tropeadas,
Revelam o bronze com a suor de sol-à-sol
E o timbra macho de "eira boi, forma cavalo",
Durante as charlas se traduz num portunhol.
Força no braço para o laço e o marca-touro,
E um desempenho com perícia na encilha
Sou tapejara dos embates do destino
Que só a prenda com carinhos põe rendilha.
Crioula essência de gaudério e pêlo duro
O martin fierro é a minha referência
Apaisanado na fusão de duas pátrias
Tive outorgada a fronteiriça procedência.
Refrão...........................
joão de almeida neto - grito dos livres
Quando os campos deste sul eram mais verdes
Índios pampeanos que habitavam o lugar
Foram mesclando com a raça do homem branco
Recém chegado de querências além mar
E o novo ser que se formou miscigenado
Virou semente, germinou e se fez povo
E um grito novo ecoou no continente
Lembrando a todos que esta terra tinha dono
(Enquanto o gaúcho for visto no pampa
Enquanto essa raça teimar em viver
O grito dos livres ecoará nesses montes
Buscando horizontes libertos na paz
No grito do índio, o grito inicial
Há cheiro de terra no próprio ideal
De amor à querência liberta nos pampas
Gerada na estampas do próprio ancestral)
A nova raça cresceu e traçou limites
Que bem demarcam a extensão dos ideais
E o mesmo povo hoje repete o grito
Alicerçado nas raízes culturais
A liberdade não tem tempo nem fronteiras
O homem livre não verga e não perde o entono
Vai repetindo a todos num velho grito
Passam os tempos mas a terra ainda tem dono
Do grito do índio, aos gritos atuais
Há cheiro de terra nos próprios ideais
De um povo sofrido, ereto em vontade
De escrever liberdade nos seus memoriais
joão de almeida neto - homem sem coragem
Eu fui no cavalo preto de acordo com a noite escura
Um pingo solto de pata que era uma formosura
Se acaso eu e meu mano fizesse alguma loucura
Que botasse a vida em jogo os pingos soltavam fogo
Do rompão das ferraduras
Meu irmão dançou com a loira e eu dancei com a morena
Sai no ouvido dela chorando que dava pena
Meu irmão também com a outra repetia a mesma cena
Nos os quatro agarradinho parecia dois barquinhos
Quando as águas são serenas
E eu disse pra minha mãe a senhora tem visita
De hoje em diante mamãe estas duas senhoritas
Lhe obedecem como sogra a terezinha e a rita
Desculpe a nossa bobagem f que homem feio e sem coragem
Não possui mulher bonita
Cds joão de almeida neto á Venda