MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
jessier quirino - a cumeeira de aroeira lá da casa grande
Oh! cumeeeira de aroeira dessa casa-grande
Veja e nos mande uma visão dessa velha morada
Sendo a parada retilínea do telhado em quedas
Não te arredas dessa empena tão estruturada
Sois a chegada de telheiro, ripa e caibaria
Hospedaria de pavôes, corujas e pardais
Nos teus anais e cabedais de vida em cumeeira
Diz aroeira - dessa casa - o que enxergas mais?
- Pelas janela e portais lá da sala da frente
Vejo contentes e voantes espreguiçadeiras
Relaxadeiras de alpendre junto à rede armada
Lonas listradas, cores-vivas, vidas de cadeira
As choradeiras de avencas pendem dos frechais
E os fuás das trepadeiras jasmineiras voam
Blusas magoam com bateres as saias das portas
E vejo as hortas de verduras que nos afeiçoam.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.
Vejo o cimento avermelhado do piso da sala
E nesta sala quatro portas e quatro janelas
Cor amarela combinando com retrato antigo
E pouco artigo de mobília se avista nela
Uma janela abre as asas por cima dum cofre
Atrás do cofre inclinado: rifle e mosquetão
Um birozão de escritório, uma banca de rádio
E junto ao rádio uma cadeira balança no chão.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa grande.
A sala interna sem janelas vive apenumbrada
Iluminada pelas frechas vindas do telhado
O decorado do bufê é uma ceia-larga
E se alarga grande mesa de pau trabalhado
De lado a lado, quatro portas, uma a cada quarto
Sala de parto dos bruguelos por ali nascidos
Vejo o florido de lençóis, de redes e armários
E os sanitários de penicos neles escondidos.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.
Segue o comprido estendido da sala do meio
No arrodeio rumo ao fundo grande petisqueiro
O quarteleiro de comidas, louças e talheres
Onde mulheres abrem e fecham pelo dia inteiro
Alvissareiro é o vão que surge mais adiante
A confortante copa-grande junto da cozinha
Sala-rainha, mesa farta, tamanho banquete
Com tamboretes, bancos largos, banca de quartinha.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.
Vem a cozinha festa em festa pelo dia inteiro
Um verdadeiro alegreiro de se cozinhar
O esquentar de um fogão de lenha braseado
E outro fogão de ferro inglês de branco cintilar
Tem o abrir e o fechar do móvel azul pintado
Amorcegado de canecos, conchas e peneiras
A paneleira aramada pende na parede
E mata a sede o pote frio na porta traseira.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.
Meias paredes me permitem essa visão de encanto
Em cada canto um armador e rede ali dobrada
Tampa curvada de baús e luz de candeeiros
E o padroeiro em oratório de vida velada
As alpendradas lado a lado, não consigo vê-las
Meias-paredes se esbarram no caixão da casa
Mas são terraços com arreios, silos e ferretes
Nos pilaretes as gaiolas com mimos de asa.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.
Em campo aberto de quintal, ciscados de terreiro
O galinheiro estaqueado de varas ao fundo
Meio oriundo da cozinha segue uma puxada
E a batucada do pilão de segundo a segundo
Vejo cisternas e tonéis de interno cimentado
Que são represas pros banhados canecos de flandre
O sanitário é um chalezinho lá no fim da casa
Visto daqui da cumeeira desta casa-grande.
jessier quirino - a morrença dos meus cumpade
(ninguém sabe se a morte é virgula, ponto-e-vírgula ou ponto final
No interior, quando morre um ?cumpade?,
Mas desses ?cumpade? de alma boa e manso viver,
Aí o matuto, lamentando essa perda, diz:
?a morte é um doido limpando mato?
"a morrença dos meus cumpade? trata dessa edição de capa dura da vida)
Mas como é que pode?
Dois caba tá vivo,
Forgoso, garboso,
Da vida se rir!
Os coro da testa sem nunca franzir,
Disposto na luta,
Lutando com pente,
Sem mesmo dar canso de ser um vivente,
Um corre pro sul mó de ?podregir?,
O outro ?pogrede? mesmo por aqui
A morte carrega os dois indivíduo,
Dá uma descurpa:
?morreu por derito,
O outro, coitado, morreu de nuí.?
Cumpade ?coitim? bateu a biela,
Sem ?frei? nas estrada, em riba dum fó.
Pedim defuntou-se no ?mei? dum forró,
Honório pifou com a mão na bainha,
Quem enviuvou gorete e ritinha,
Foi joão ?cascaver? e bento cotó
Bié de zé tôta fechou o paletó,
Mudou-se pro céu cumpade biliu,
Cumpade zé danta ninguém nunca viu,
Mas dizem que foi-se daqui pra ?mió?.
Quem bateu as bota foi zé bacamarte,
Findou-se de vez cumpade zulu,
Quem empacotou-se com tanta pitu
Foi pinga, meloso, meota e topada.
Ginura já tava na última morada
Quando pediu baixa o vaqueiro zebu
Foi pro beleléu nas bandas do sul
Veúca, moreno, ponez e zezim
Mimosa se foi que nem ?passarim?
Baixou sete palmos, luis do exu
Deu uma roleta lá no meio da feira,
Juntou-se um bocado com seu criador
Deu adeus ao mundo mané vendedor
Foi chegada a hora de biu das jumenta
Foi pro rol dos bom, cumpade pimenta
Biu ?pedo? firmino por fim descansou
Disseram que nino também ?botoou?
Sargento já foi promovido a defunto
Tiraram cirila de lá de pé junto
Perdi meu cumpade,
Não sei quando eu vou
jessier quirino - a triste partida
A triste seca já rodou
E a asa branca agorou e já bateu a asa,
Plantação de fruta no oitão de casa,
O chão em brasa e a triste seca já rodou (2x)
O arco-iris, sopre o vento colorido
Que o verde do teu vestido,
Se espalhe na plantação.
Que o amarelo seja puro e adoçicado,
E que a brancura seja a cor da afloração.
E que o vermelho sejam flores parecidas,
Com os beiçinhos das lusiadas,
Cabloquinhas do sertão.
Que não se veja,
Um sertanejo se ajoelhando,
Pedindo chuva, perante Cristos sonolentos.
Que não se veja um solo rachado e sedendo,
E sem sustento, as vezes se ajoelhando.
Que não se veja bararuna jejuando,
Chorando folha numa paisagem cinzenta.
Que não se veja fila de latas sedentas,
Salário d'água matando a sede, matando.
O arco-iris, sopre o vento colorido
Que a fita do teu vestido,
Faça uma festa de cor.
Eu quero ver resina de catingueira,
Ser o chiclete na boca do meu amor.
E que a sanfona toque o xote na colheita,
Pra dança das borboletas, enfeitadeiras de flor 2x)
jessier quirino - comicio em beco estreito
"Pra se fazer um comício
Em tempo de eleição
Não carece de arrodei
Nem dinheiro muito não
Basta um F-4000
Ou qualquer mei caminhão
Entalado em beco estreito
E um bandeirado má feito
Cruzando em dez posição.
Um locutor tabacudo
De converseiro comprido
Uns alto-falante rouco
Que espalhe o alarido
Microfone com flanela
Ou vermelha ou amarela
Conforme a cor do partido.
Uma ganbiarra véa
Banguela no acender
Quatro faixa de bramante
Escrito qualquer dizer
Dois pistom e um taró
Pode até ficar melhor
Uma torcida pra torcer
Aí é subir pra riba
Meia dúzia de corruto
Quatro babão, cinco puta
Uns oito capanga bruto
E acunhar na promessa
E a pisadinha é essa:
Três promessa por minuto.
Anunciar a chegança
Do corruto ganhador
Pedir o "V" da vitória
Dos dedo dos eleitor
E mandar que os vira-lata
Do bojo da passeata
Traga o home no andor.
Protegendo o monossílabo
De dedada e beliscão
A cavalo na cacunda
Chega o dono da eleição
Faz boca de fechecler
E nesse qué-ré-qué-qué
Vez por outra um foguetão.
Com voz de vento encanado
Com os viva dos babão
É só dizer que é mentira
Sua fama de ladrão
Falar dos roubo dos home
E tá ganha a eleição.
E terminada a campanha
Faturada a votação
Foda-se povo, pistom
Foda-se caminhão
Promessa, meta e programa...
É só mergulhar na Brahma
E curtir a posição.
Sendo um cabra despachudo
De politiquice quente
Batedorzão de carteira
Vigaristão competente
É só mandar pros otário
A foto num calendário
Bem família, bem decente:
Ele, um diabo sério, honrado
Ela, uma diaba influente
Bem vestido e bem posado
Até parecendo gente
Carregando a tiracolo
Sem pose, sem protocolo
Um diabozinho inocente".
jessier quirino - miss feiúra nenhuma
MISS FEIÃ?RA NENHUMA
Miss feiúra nehuma
Bonitamente falando
O nome dela era Miss
Nomezinho portátil para tanto porte
Só tinha mesmo um defeito:
Uma marca de vacina, no braço.
Tipo mulher, mulheraço
Belezona de engolir festa
Por onde passava
Todos ligavam os seus risores
Mulheres, meninos, senhores
Os cabras bestas, cabrabestavam-se todos
Contaminavam-se todos
Com o perpétuo chingoso do seu ferrão
Rebolandíssimamente
De sapequisse matreira
Parecia uma forrageira
De triturar atenção
Nunca se viu tanta bundalidade
Ou mesmo nada tão fêmeo
Arte tão divinatória
Do mulherame seleto,
Parecia ser o derradeiro caroço
Desalvoroçava qualquer alvoroço
Alvoroçadamente, falavam Zé de Cazuza, e o mestre Chico Dedêz
Eu vou dizer para vocês
Pense numa nega boa
Ela é muito mais que um Seiko
Muito mais que um Orient
Ã? bem dizer, um Omega, um Rolex de pessoa
O corpo dessa danada é mesmo que tititi
E um punhado de milho no galinheiro da gente
Ã? bicha do rabo quente!
Ã?i, nem que eu tivesse dois â??rim'
Dois â??pulmão', dois â??intistino'
Um mais grosso e â??oto' fino
E dois â??peitão' na titela
Eu num dava conta dela
Eu sou do mato, menino!
E... pro caboclo do mato
Paixão num existe não?
Ora bom basta... deixe estar...
â??Cunverseiro' de paixão é combustão de poeta
O cabra vira é pateta
Porque falta o â??principá'
O dólar, o circulante, a bufunfa,
O â??vi metá', o â??tustãozin', o montante,
O bronze, a â??pila', o â??reá', a â??caitolina',
O arame, o bago, a renda,
O â??jeton', o pé-de-meia, a maniva,
O â??cifrãozin' na saliva, o bagarote e o bom,
A bolada, o tutuzinho, a pataca no â??borná'
O caroço, o numerário, o â??burrachudo',
O â??cacá', o â??checão' baixando a ripa
Zé â??papé' no
Dinheirama e â??capitá'
Nessa â??cunversinha' bela vai liso pra riba dela
â??Pá' tu vê o que é que dá
Tu sai de lá é lascado que nem um pau de puleiro
â??Inda' leva um cacete, uma multa, uma vaia
E mais um par de â??cangaia' â??pá' deixar dessa doidice
De quando ver uma miss pensar em se apaixonar.
jessier quirino - paisagem de interior
Matuto no meio da pista
menino chorando nu
rolo de fumo e beiju
colchão de palha listrado
um par de bêbo agarrado
preto véo rezador
jumento, jipe e trator
lençol voando estendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
três moleque fedorento
morcegando um caminhão
chapéu de couro, gibão
bodega com sortimento
poeira no pé do vento
tabuleiro de cocada
banguela dando risada
das prosa dum cantador
buchuda sentindo dor
com o filho quase parido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Bêbo lascano a canela
escorregando na fruta
num batente, uma matuta
areando uma panela
cachorro numa cadela
se livrando das pedrada
ciscador, corda e enxada
na mão do agricultor
no jardim, um beija-flor
num pé de planta florido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Mastruz e erva cidreira
debaixo de jatobá
menino quereno olhar
as calça da lavadeira
um chiado de porteira
um fole de oito baixo
pitomba boa no cacho
um canário cantador
caminhão de eleitor
com os voto tudo vendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Um motorista cangueiro
e um jipe chêi de batata
um balai de alpercata
porca gorda no chiqueiro
um camelô trambiqueiro
aveloz, lagartixa
bode véio de barbicha
bisaco de caçador
um vaqueiro aboiador
um bodegueiro adormecido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Meninas na cirandinha
um pula corda e um toca
varredeira na fofoca
uma saca de farinha
cacarejo da galinha
novena no mês de maio
vira-lata e papagaio
carroça de amolador
fachada de toda cor
um bruguelim desnutrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Uma jumenta viçando
jumento correndo atrás
um candeeiro de gás
véi na cadeira bufando
rádio de pilha tocando
um choriço, um manguzá
um galho de trapiá
carregado de fulô
fogareiro, abanador
um matador destemido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Um soldador de panela
debaixo da gameleira
sovaqueira, balinheira
uma maleta amarela
rapariga na janela
casa de taipa e latada
nuvilha dando mijada
na calçada do doutor
toalha no aquarador
um terreiro bem varrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
Um forró pé de serra
fogueira, milho e balão
um tum-tum-tum de pilão
um cabritinho que berra
uma manteiga da terra
zoada no mei da feira
facada na gafieira
matuto respeitador
padre prefeito e doutor
os home mais entendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior
jessier quirino - agruras da lata d água
...E eu que fui enjeitada
Só porque era furada.
Me botaram um pau na boca,
Sabão grudaram no furo,
Me obrigaram a levar água
Muitas vezes pendurada,
Muitas vezes num jumento.
Era aquele sofrimento,
As juntas enferrujadas.
Fiquei com o fundo comido.
Quando pensei que tivesse
Minha batalha cumprido,
Um remendo me fizeram:
Tome madeira no fundo
E tome água e leva água,
E tome água e leva água.
Daí nasceu minha mágua:
O pau da boca caía,
Os beiços não resistiam.
Me fizeram um troca-troca:
Lá vem o fundo pra boca,
Lá vai o pau para o fundo.
Que trocado mais sem graça
Na frente de todo mundo.
E tome água e leva água
E tome água e leva água.
Já quase toda enfadada,
Provei lavagem de porco,
Ai mexeram de novo:
Botaram o pau na beirada.
E assim desconchavada,
Medi areia e cimento,
Carreguei muito concreto
Molhado duro e friento,
Sofri de peitos aberto,
Levei baque dei peitada.
Me amassaram as beiradas,
Cortaram minhas entranhas.
Lá fui eu assar castanha,
Fui por fim escancarada.
Servi de cocho de porco
Servi também de latada.
Se a coisa não complica,
Talvez eu seja uma bica
Pela próxima invernada.
E inverno é chuva, é água,
E eu encherei outras latas
Cumprindo minha jornada.
jessier quirino - além das preces
A triste seca já voltou
E a asa-branca agourou e já bateu a asa
Plantação defunta no oitão de casa
O chão em brasa
A triste seca já voltou
Ô arco-íris, sopre um vento colorido
Que o verde do teu vestido se espalhe na plantação,
Que o amarelo seja puro e adocicado,
E que a brancura seja a cor da floração,
E que o vermelho sejam flores parecidas
Com os beicinhos das luzidas, ?caboquinhas? do sertão
Que não se veja um sertanejo se ajoelhando
Pedindo chuva perante Cristo sonolentos
Que não se veja um solo rachado e sedento
Que sem sustento, às vezes se ajoelhando
Que não se veja baraúna jejuando,
Chorando folha numa paisagem cinzenta
Que não se veja fila de latas sedentas,
Salário d?água matando a sede matando
Ô arco-íris, sopre um vento colorido
Que a fita do teu vestido faça uma festa de cor
Eu quero ver resina de catingueira
Ser o chiclete na boca do meu amor
E que a sanfona toque um xote na colheita
Pra dança das borboletas enfeitadeiras de flor
(Quem vive pelo sertão já vive sertanejado
Pois a chuva não choveja, nem troveja no cerrado
E o sertanejo valente guarda sempre uma semente
Pro inverno abençoado)
jessier quirino - baixe as armas, comedor
Oh morena, oh moreninha
Deixa de morenação
Larga dessas invenção
De nós dois sozim ficar
Mode evitar confusão
Larga dessas invenção
Pense da zabumbação
E se teu pai desconfiar?
E vai que tu pega enxaqueca
E vai que eu sou bom de curar
E vai que tu arrisca um verbo
E vai que eu saiba verbiar
Vai que eu vire flecha doida
E vai que tu quer se flechar
Vai que tu seja espoleta
E vai que eu seja um malagueta
Feito goela de dragão
E vai que tu vem toda bela
De laço e fita amarela
Vai que tu se passarela
Vai que eu seja o rés do chão
Vai que tu arriba a saia
Vai que eu veja o essenciá
Vai que tu pede embreagem
Vai que eu saiba debrear
Vai que tu venta pro norte
Vai que sou todim jangada
Vai que eu seja um taboleiro
E vai que eu seja cocada
Vai que tu se enrouxinó-las
Vai que eu seja passarinho
Vai que eu saia da gaiola
Vai que amostre o ninho
E vai que tu sois moça anja
Vai que eu seja um pecador
Vai que tu sois gozo eterno
Vai que eu sou rojão do amor
Vai que teu ?ui ui, meu bem?
Acorde o véi roncador
Vai que esse véi grite brabo
Com o revolver no meu rabo:
- Baixe as arma, comedor!
jessier quirino - bandeira nordestina
A bandeira nordestina
É uma planta iluminada
É qualquer raiz plantada
Mostrando o caule maduro
E quando o sol varre o escuro
Com luz e sombra no chão
É quando germina o grão
É quando esbarra o machado
É quando o tronco hasteado
É sombra pro polegar
É sombra pro fura-bolo
É sobra pro seu vizinho
É sombra para o mindinho
É sombra prum passarinho
É sombra prum meninote
É sombra prum rapazote
É sombra prum cidadão
É sombra para um terreiro
É sombra pro povo inteiro
Do litoral ao sertão
Essa bandeira que eu falo
Tem cores de poesia
Tem verde-folha-avoada
Amarelo-jaca-aberta
Em tudo que é vegetal
Tem bandeira desfraldada
No duro da baraúna
No forte da aroeira
No bandejar buliçoso
Das folhas das bananeiras
Das bandeirolas dos coentros
E na marca sertaneja:
O rijo e forte umbuzeiro
jessier quirino - beijo de coalho
No teu beijo me cheguei
E ali mesmo me parti
No teu beijo me enterrei feito sapo de macumba
E meu coração bumba, bumba
E púf! Me faleci
Dei num veludo de céu
De vizinhança estrelada
Sem essas horas minguadas da tardinha de domingo
Nós de cacho do orvalho
Num longo beijo de coalho
Banhados no mesmo pingo
Beijo de primeiro apanha
Que eu só conhecia de oitiva
Me veio um fogo sem chama
Fiquei vermelho-gengiva
Quando um anjo verde-oliva
Das forças celestiais
Sem uma menina Jesus
Que visse amor nos casais
Só permitiu beijos-cruz
Sem jeito, suavizais
Como já estava beijando,
Deixei o anjo soprando
Os seus apitos finais
Jessier Quirino (
jessier quirino - bolero de isabel
É um nó dado por são pedro
E arrochado por são cosme e damião
É uma paixão, é tentação, é um repente
Igual ao quente do miolo do vulcão
É um nó dado por são pedro
E arrochado por são cosme e damião
É uma paixão, é tentação, é um repente
Igual ao quente do miolo do vulcão
Quer ver o bom?
É o aguado quando leva açúcar
É ter a cuca, açucarado num beijo roubado
É um pecado confessado, compadre sereno
Levar sereno no terreiro bem enluarado
É pinicado do chuvisco no chão, pinicando
Ficar bestando com o inverno bem arrelampado
É o recado do cabocla num beijo mandando
?tá namorando a cabocla do recado?
É um nó dado por são pedro
E arrochado por são cosme e damião
É uma paixão, é tentação, é um repente
Igual ao quente do miolo do vulcão
Quer ver desejo?
É o desejo tando desejando
A lua olhando esse amor na brecha do telhado
É rodeado do peru peruando a perua
É canarim, é galeguim, é cantando o canário
Zé do rosário bolerando com dona isabel
Dona isabel embolerando com zé do rosário
Imaginário de paixão voraz e proibida
Escapulida, proibida pro imaginário
Quer ver cenário?
É o vermelho da aurodidade
É a claridade amarelada do amanhecer
É ver correr um aguaceiro pelo rio abaixo
É ver um cacho de banana amadurecer
Anoitecer vendo o gelo do branco da lua
A pele nua com a lua a resplandecer
É ver nascer um desejo com a invernia
É a harmonia que o inverno faz nascer
(miolo, miolo, miolo do vulcão...)
Quer ver desejo?
É o desejo tando desejando
A lua olhando esse amor na brecha do telhado
É rodeado do peru peruando a perua
É canarim, é galeguim, é cantando o canário
Zé do rosário bolerando com dona isabel
Dona isabel embolerando com zé do rosário
Imaginário de paixão voraz e proibida
Escapulida, proibida pro imaginário
Quer ver cenário?
É o vermelho da aurodidade
É a claridade amarelada do amanhecer
É ver correr um aguaceiro pelo rio abaixo
É ver um cacho de banana amadurecer
Anoitecer vendo o gelo do branco da lua
A pele nua com a lua a resplandecer
É ver nascer um desejo com a invernia
É a harmonia que o inverno faz nascer
jessier quirino - coisas pra se dizer benzó-deus
No lugar que caxete é comprimido
Tem coisas que se digam, Benzó-Deus.
Da sabença de tantos zebedeus
Ao rinchar do jumento entumecido
Camgaper do muleque "malúvido"
Ou história dos que não tem história.
Um Jesus bem cristoso e cheio de glória
Protegendo nações de deserdados
Sanfoneiros com seus tarrabufados
Cantadores com suas trajetórias.
Sá Zefinha, ser mãe de tantos filhos
Bem-dizer, sendo uma zefinharia
Boiadeiro aboiado em sintonia
Com o bleblem do chucalho que chucalha
Jurema, com escoliose nas galhas
Respirando num solo ressequido
Um café bem torrado e bem fervido
Que agrada monarcas e plebeus
São coisas que se diga Benzó-Deus
No lugar que caxete é comprimido.
Benzó-Deus, pra horta de Chica roxa
Verdezinha pinicada de azulão
Pra bravura, da mula em bestidão
Trabalhando sem numa se enfairar
Benzó-Deus, pra coalhada do luar
Derramando um manjar resplandecido
Pro matuto feliz e devertido,
A despeito de ser tão maltratado
Cavucando uma roça no roçado
Esperando o inverno prometido.
Benzó-Deus quando o cuxixo do vento,
Despenteia e penteia o capinzal
Quando a loja serena de um varal
Se alvoroça e sacode a estamparia.
Benzó-Deus pro carro do boi que chia
Imprimindo seu nome em chão batido.
Pro silêncio, mais alto que o ruido
Feito um tempo amuado, mal-com-Deus
Benzó-Deus o marrom dos olhos teus
Faiscando um olhar enternecido.
jessier quirino - conversa de manicure
Nesse sertão de vaqueiro,
Chapéu de couro e gibão
Uma tá de manicure
Ou pintadeira de mão
Cum seu trabaio pustiço
Deu o maió ribuliço
Nas matuta do sertão.
Esse salão de beleza
Incaicô com liberdade
O botão da safadeza
Junto com o da vaidade.
Gente de cabelo duro
Saiu feito poico ispim
Mulé do cabelo bom
Saiu cum o cabelo rim.
Vi nega de capacete
Cum os dedos dento dum môi
Vi pintamento de beiço
De cabelo e até de oio.
Guaribação de bochecha
Pra limpar cara de jaca
Aparamento de unha
Tiramento de inhaca
Baibeadô de suvaco
Vi tapadô de buraco
Disfaçadô de ressaca.
Vaqueiro fazendo unha
Foi minha grande surpresa!
Sentou-se no mei das feme
Deixou de lado a macheza.
Viúva do mermo dia
Se alegrou da tristeza
E pra fugir do enpêrro
Logo depois do enterro
Foi pro salão de beleza.
A fama da manicure
Desceu de sertão a fora
Matuta que conhecia
Só brilhantina glostora
Pintou-se que nem paiaço
E pra quem era um bagaço
Inté que teve uma miora.
Mais o que mais atraia
As damas pra maquilagem
Era a mitida de pau
No mundo da fofocagem.
A manicure seu moço
Paricia uma navaia
Cortou do alto sertão
Inté a beira da praia
Botou defeito nos santo
Matou Neném de quebranto
Jogou freguês na gandaia.
Na base da fofocagem
Lucrava com garantia
O salão era pequeno
Pra festa da freguesia
Quando o trabai começava
A freguesia escutava
E a manicure dizia:
?Gerome de Zé Lotero
Aquilo é que ser safado
Além de falso e xexeiro
Ã? mentiroso e tarado
E pelo que me dissero
Sendo fi de Zé Lotero
Tem tudo pra ser viado!?
?Guilora de Ataíde
Tão engraçada que era
Hoje depois de parida
Virou uma besta-fera
Também o cão do marido
Ã? mago, fei e cumprido
Que nem a rosa pantera.?
?O finado Rubiná
Que Deus tape as suas oiça
Armuçava nas panelas
Mode não sujá as loiça
Ah! sujeitim miserave,
Fuxiqueiro e imprestave
Pro ele não ha quem toiça.?
?O seu Manel Hostaliço
Todo metido a ricão
Passou a vida porpando
Mode comprar uma mansão
Hoje vei, chei de dinheiro
Tem uma casa cum dez banheiro
E o peste mija no chão.?
?Aquela Li varredeira
Só veve de fuxicar
Dá conta da vida aléia
De tudo quanto é lugar
Em casa farta cumida
Tem quatro pia intupida
Três redes pra custurar!?
?A fia de Zé Botinha
Oi! Eu não gosto de falá
Mas pra mim ela é chifreira
E ninguém pode negá
Casou-se com Chico Bento
Mas já saiu cum o sargento
E quatorze oficiá.?
?Minha cumade Honorina
Já que os freguês foro embora
Já qui nós tamo sozinha
Vou lhe contá uma estora.?
Sei que vós não advinha.
Esse magote de feme
Que saiu quage agora
São tudo quenga, chifreira,
Veaca e caipora
De todas aqui presente
As única mulé decente
Só era eu e a senhora.
jessier quirino - e o povo gritando amém
Eu já tô com esta idade
Papai beirando os noventa
Louvo pela mocidade
Com vinte, trinta e quarenta
Dizia em tom revoltando:
- Este é um governo safado,
Mais um governo que vem
Perante a lei fundiária
Fará uma reforma agrária
E o povo gritando amém!
Feito um bicho oprimido
Sofrendo apuro e desgosto
Papai ficou convencido
Que rei morrido é rei posto
No dia da eleição
Papai virou cidadão
Mamãe, cidadã também
Votaram em força contrária
Querendo a reforma agrária
E o povo gritando amém!
A coisa foi piorando
Pro lado dos piorais
E a tal reforma ficando
Pra trás, pra trás e pra trás
Hoje o poeta Quirino
Diante de um Vivaldino
Não abro nem para um trem
Abordando este problema
Meto o pau com meus poemas
E o povo gritando amém
A coisa se melhorando
Cheio de mais, mais e mais, mais
E a tal reforma ficando
Pra trás, pra trás e pra trás
Hoje o poeta Quirino
Diante de um Vivaldino
Não abro nem para um trem
Abordando este problema
Meto o pau com meus poemas
E o povo gritando amém
Cds jessier quirino á Venda