ernesto fagundes - cidadezinha
Cidadezinha tão linda,
Retrato fiel do interior
Pintado a raios de sol
E vôos de beija-flor.
Balanceiam desgarrados
Na aquarela que seduz
Esqueletos de pandorgas
Na trama dos fios de luz.
Eu quero esta paz de novo,
Pensar que nunca parti
Sonhar, sonhar acordado
Que eu sou ainda guri,
Pegar a lua com a mão,
Ficar e morrer aqui
Sonhar, sonhar acordado,
Que eu sou ainda guri.
Cidade branca de paz,
Das primaveras douradas,
Dos pessegueiros floridos,
Do mate pelas calçadas.
Passa uma garça voando
E o poente em luz se incendeia.
As ruas morrem no rio
Num redemoinho de areia.
Eu quero esta paz de novo,
Pensar que nunca parti
Sonhar, sonhar acordado
Que eu sou ainda guri,
Pegar a lua com a mão,
Ficar e morrer aqui
Sonhar, sonhar acordado,
Que eu sou ainda guri.
ernesto fagundes - de filho para pai
Olha, meu pai,
Ouve bem, preste atenção,
Hoje o bombo legüero
Bate no meu coração...
Tantas vezes, já te disse...
Mas não custa repetir:
E, cantando, digo agora
O quanto gosto de ti.
Ouve, guri
Este velho que te adora,
Nosso negócio é cantar,
Não me faz chorar agora...
Qual o pai que não quer ter,
Por filho, um guri assim...
Eu sei bem que aonde vais
Nunca te esqueces de mim.
Pois é, pois é, a fruta
Não cai longe do pé...
Pois é, pois é, filho de bagre, 2X
Por certo peixinho é!
A vida passa,
E depois a gente chora...
Por isto, de quem se gosta,
Tem que se gostar agora.
E, depois, o amanhã
Pode ser tarde demais...
por isto, te digo, hoje,
Como te amo meu pai
Sabe guri,
Sempre que a tarde cai,
Eu rezo e agradeço a Deus
A graça de ser teu pai.
Quando a Gente fica velho
E precisa de auxílio...
O filho se torna pai,
E o pai se apoia no filho
Pois é, pois é, a fruta
Não cai longe do pé...
Pois é, pois é, filho de bagre
Por certo peixinho é!
ernesto fagundes - gaudêncio 7 luas
A lua é um tiro ao alvo
E as estrelas bala e bala
Vem Minuano
E eu me salvo
No aconchego do meu pala
Se troveja gritaria
Já relampeja minha adaga
Quem não mostra valentia
Já na peleia se apaga
Toquei a paleta da noite
Como o sol
Que é ferro em brasa
Eo dia vieo mugindo
Pra se banhar em agua rasa
Pra me aquecer mate quente
Pra me esfriar geada fria
Não vai ficar pra semente
Quem nasceu pra ventania
ernesto fagundes - guri
Das roupas velhas do pai
Queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa e uma bombacha e me desse
Queria boinas e alpargatas
E um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas no meu petiço sogueiro
Hei de ter uma tabuada
E o meu livro queres ler
Vou aprender a fazer contas
E algum bilhete escrever
Pra que a filha do seu Bento saiba
Que ela é meu bem querer
E se não for por escrito eu não me animo a dizer
E se não for por escrito eu não me animo a dizer
Quero gaita de oito baixos
Pra ver o ronco que sai
Botas feitio do Alegrete
E esporas do Ibirocai
Lenço vermelho e guaiaca
Compradas lá no Uruguai
Pra que digam quando eu passe sai igualzito ao pai
Pra que digam quando eu passe sai igualzito ao pai
E se Deus não achar muito
Tanta coisa que eu pedi
Não deixe que eu me separe
Deste rancho onde eu nasci
Nem me desperte tão cedo do meu sonho de guri
E de lambuja permita que eu nunca saia daqui
E de lambuja permita que eu nunca saia daqui
E de lambuja permita que eu nunca saia daqui
ernesto fagundes - no coração do rio grande
No coração do Rio Grande
Um dia eu fui morar
Lá encontrei muito amor
Lá aprendi a amar
Naqueles pagos chegados
Qual aconchego de um lar
Domei a força gaudéria
E me apeguei ao lugar.
Domei a força gaudéria
E me apeguei ao lugar.
Nas entranhas do Rio Grande
A cultura, a tradição
Os valores se entrelaçam
Em confraternização
Lá eu vi a gauchinha
Vi também o velho peão
A cantar a prenda minha
A cantar a prenda minha
Com sua canha e o chimarrão
No coração do Rio Grande
Um dia eu fui morar
Lá encontrei muito amor
Lá aprendi a amar
Naqueles pagos chegados
Qual aconchego de um lar
Domei a força gaudéria
E me apeguei ao lugar.
Domei a força gaudéria
E me apeguei ao lugar.
Na convivência crioula
O Rio Grande me mostrou
Toda a beleza da vida
O seu sentido e o que sou
Vi o guasca e a chinoca
O minuano e o pampeiro
Vi bandos de quero-quero
O chicote e o cavalo
Do negro do pastoreio
No coração do Rio Grande
Um dia eu fui morar
Lá encontrei muito amor
Lá aprendi a amar